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Reeducação ambiental para além da sustentabilidade

Impressiona o uso generalizado da palavra sustentabilidade. Raras são as falas e eventos que não discorram sobre o tema. Os anúncios comemorativos, dos mais diversos empreendimentos, abrem-se garrafais apregoando vigorosos progressos sustentáveis.
Se fosse elaborado um gráfico evolutivo de apregoamento do desenvolvimento sustentável, se observaria uma vertiginosa curva crescente dos anos 70 para cá. Passaram-se 40 anos da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano em Estocolmo e a recente Rio +20. Em 1972, o Brasil, envolvido com a construção da Transamazônica, em vias de anunciar a barragem de Itaipú, buscava com veemência o desenvolvimento, não faltando anúncios do tipo “venha poluir no Brasil”. É desta época a surgência do termo “desenvolvimento sustentado”, como resposta ao desenfreado processo de ocupação territorial e expansão industrial frente aos apelos ambientais, que afloravam vertiginosos por toda parte. Entre nós gaúchos repercutiam fortes as vozes e atitudes de verdadeiros paladinos ambientais.
Com o passar do tempo o conceito, que na verdade já fora gerado anteriormente ao evento da ONU de 1972, foi-se consolidando e sendo repetido à exaustão. Virou panaceia a instruir e justificar os mais diversos projetos, programas e iniciativas, a ponto, de atualmente, pouco se refletir sobre o termo, imperando o viés econômico, em detrimento ao ambiental e social. A bem da justiça, objetivando não cair no erro da generalização, há que se reconhecer que em nome da sustentabilidade houveram significativos e importantes avanços ambientais neste período de 4 décadas. O que, porém, não pode nos engessar na virtualidade esparsa e difusa, quando não, pouco compromissada, que o uso da terminologia assumiu.
Ombreada com a disseminação da sustentabilidade, vem se perdendo a relação observacional reverente com a natureza, o que se percebe na forma dos encaminhamentos, obviamente que não todos, visando o uso dos recursos naturais e dos espaços territoriais, seja para implantação de novos parcelamentos urbanos ou instalações multivariadas. A formalidade vem se sobrepondo à naturalidade ambiental. A implementação computacional, a disponibilidade de imagens de satélites e a profusão de possibilidades de encontrar textos via internet, induz ao preenchimento de papelada, que, por vezes, ao invés de demonstrar a realidade ecológica da área pretendida para implantação de determinada atividade, transveste-se de vistosa indumentária a encobrir o que de fato existe e flui sinergicamente no ambiente natural.
O preenchimento formal/virtual de exigências documentais aliado à facilidade do uso do termo “sustentabilidade”, podem estar ofuscando nosso próprio espelho, trazendo-nos à imagem algo que não somos nem queremos que permaneça além de nós. Nos cabe a reeducação ambiental, no sentido de nos despirmos de conceitos e aparatos que nos tornam distanciados do ambiente natural e visceralmente constrangidos perante o futuro.

*Geólogo e escritor