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Ser professor

Sete horas. Despertador, meu amigo inseparável. Pego o celular. Banheiro. Toalhas. Celular, outra vez. Escovo os dentes. Café da manhã. Celular, me acompanha. Sento em frente ao computador. Acesso todas as contas de e-mail. Abro aplicativos. Respondo mensagens no WhatsApp: de pais; de alunos; de colegas. Grupo da escola. Aviso da equipe diretiva. Recados da mantenedora. Horários de aula. Planejamento. Enfim um café. Aula síncrona. Atividades. Aula assíncrona. Aula gravada. Aula em EPV. Planejamento. Preparo o roteiro, o Power Point e o documento em word. Salvo em PDF. Consulto a BNCC. (Re) planejo a aula. Conferindo o código da habilidade, para ter certeza… Elaboro a atividade na medida certa, nem longa demais, (porque nem todos fariam), nem resumida demais (porque seria muito fácil e não serão desafiados). Contextualizo o enunciado.

Sigo em frente ao computador, procurando um vídeo adequado para encaixar na aula, no tamanho certo para não ser cansativo e não travar na metade da apresentação. Seleciono jogos relacionados ao tema. Talvez uma música. Gravo a aula. Ruídos. Um filho acorda. Está com fome. Atrapalhou a gravação. Paro. Respiro. Arrumo o café da manhã do filho. Descreve e explica a atividade no ambiente virtual. Registra a aula. Gravo de novo. Planejo uma atividade para os que não puderem participar. Faço o relatório. Baixo o app mais atualizado para a montagem das aulas. “Manhê!” ecoa porta adentro. Meu filho tem aula on-line e precisa de ajuda. Levanto-me. Ligo o computador. Localizei o link. Acessamos a sala de aula do filho. Coloquei-o em frente à máquina. E sigo para o meu computador. Sento. Chegou o momento da aula on-line. Abro a sala. “Bom dia, crianças! Liguem as câmeras e desliguem os microfones, por gentileza!” Começo a aula mostrando as atividades que estão na sala virtual. “Profe, preciso ir ao banheiro, posso?” E eu, tomar água!”. Saem e voltam. Conversas aleatórias e paralelas também fazem parte do cotidiano. Afinal, são 30 alunos diferentes. De 30 famílias diferentes. Cada um com suas vivências e experiências. Todos estão com saudades. Faz mais de cinco meses que não se encontram. “Profe, terminei a atividade…” e “Eu ainda não entendi o que é para fazer!” Respira – pensei. Explica de novo. E de novo. E outra vez. Horário acabou. “Mas já? Nem sequer deu tempo de explicar a segunda parte. “Tudo bem. Amanhã nos veremos de novo”. Confere quem estava presente. Manda mensagens àquelas que não estiveram.

Hora do almoço. Levanto e sigo direto para a cozinha. Sirvo o almoço para a família. Almoço. Pega o celular para conferir se há mensagens. Respondo. Lavo a louça. Marido seca. Filho reclama que a internet está lenta. Acesso a plataforma. Tem atividades para corrigir. Relembro os prazos aos que não enviaram. Posto as atividades do dia seguinte. Celular carregado. Pego a bolsa e saio. Minutos depois, estou de volta com um tripé novo, um quadro, canetas coloridas. Hora da aula da tarde. “Todo mundo faz silêncio, vou começar minha aula!”. Filho no game. Marido nas atividades de Home Office. Tudo certo. Começando a aula. Celular vibrando: a professora do meu filho mandando mensagem pedindo as fotos das atividades dele, que acabei esquecendo de enviar. Baixo o app do scanner. Compartilho tela. A Net caiu. No whats uma mensagem de voz: “Sora, a senhora tá bugada”. Recebo o recado: ‘professora compra um microfone melhor, não consigo entender nada’. Última aula do dia. “Gratidão, Senhor!” Vou desligar tudo agora! Esqueci, preciso formatar o notebook, comprar um microfone, aumentar a velocidade da internet. Pego o celular para ligar. Agenda me recorda que tem reunião pedagógica. Assisto a live. Realizo as atividades que se pede, afinal, precisamos nos capacitar. “Novos desafios”. Já é quase meia noite! Droga, acabei não ligando para o provedor de internet. Vou tentar dormir. Amanhã é outro dia. Coloco o celular para despertar… Crianças dormindo. Marido também. Deito. As mensagens não param de chegar… Não posso reclamar, é o horário que os pais estão encontrando para ajudar os filhos, pensei. Vou responder e tentar ajudar. Amanhã será diferente. Penso no que tem pra fazer amanhã. Perco o sono. O dia amanheceu. Começa tudo de novo…

Que saibamos valorizar o profissional que está se desafiando a cada dia, deixando de lado sua vida particular e abrindo as portas de sua casa para receber seus alunos sedentos de aprendizagem. Que busca a cada dia inovar e acompanhar o crescimento dos nossos filhos. Que a cada dia possamos ser gratos por cada professor que dedica o seu melhor em prol daqueles que lhes são confiados.

Parabéns, professor, pela sua dedicação, comprometimento e carinho ao desenvolver suas aulas da melhor maneira possível, trabalhando com respeito, equidade e determinação, mesmo diante de todos os impasses e desafios diários. Afinal, ser professor não é uma tarefa fácil. Que a façamos sempre com muito mais amor…

Gratidão e feliz todos os dias…