Início Esportes Muay Thai: Campeão Mundial retorna a Santa Cruz

Muay Thai: Campeão Mundial retorna a Santa Cruz

Guilherme Athayde
[email protected]

“O bom filho a casa torna”. Depois de 66 dias em terras distantes para buscar o seu maior sonho, o cinturão de Campeão Mundial de Muay Thai, o atleta santa-cruzense Maurício Castilho, o “Big”, está de volta à sua cidade para retomar os treinos.

Campeão na categoria pesos pesados (para atletas com 91 quilos ou mais), Big retorna após sua quarta temporada na Tailândia, o berço do esporte em nível global. Já tendo conquistado medalhas de prata e de bronze nos mundiais anteriores, o lutador, de 33 anos, tinha como meta neste ano não deixar escapar o primeiro lugar no pódio.

A organização da viagem teve apoio de alunos e amigos de Big. O atleta realizou rifas e conseguiu apoio financeiro de pessoas próximas para suprir os gastos da viagem, mas mesmo com o apoio, apenas uma semana antes de embarcar que o recurso necessário para viajar ao país asiático foi garantido.

Com o cinturão do Mundial, Big já mira novas conquistas e quer retornar ao Mundial em 2018

Ao chegar na Tailândia, Big conta que foi muito bem recebido na academia onde escolheu para realizar seus treinos, a Muay Thay Academy, em Bangkok, local acostumado a receber atletas de todo o mundo que buscam se aprimorar na arte marcial. 

Juntamente com a Seleção Brasileira de Muay Thai, formada por cerca de 20 lutadores de diversos Estados brasileiros, o atleta gaúcho teve apoio de treinadores tailandeses. “No primeiro dia já fiquei feliz com os treinos, um treino muito puxado. E o tratamento que eu tive foi muito forte, não me esconderam técnicas, o que não é muito comum na Tailândia, normalmente nos primeiros dias eles testam o lutador pra ver se vale à pena”.

E Big fez valer a confiança dos técnicos. O atleta ficou praticamente confinado em um centro esportivo na capital tailandesa, onde o hotel que ficava e a academia onde seguia uma rotina de até seis horas diárias de treinos, ficavam muito próximos.

Com a confiança em alta, já que o país estrangeiro não era mais novidade, o lutador pôde absorver o treinamento e fazer uma grande luta no Mundial. O adversário foi o russo Shelop Vyacheslav. Em 2016, Big teve mais tempo de treinamento para o Mundial, mas enfrentou diversas dificuldades como um corte profundo na perna quando treinava na Tailândia, além do grande esforço que o atleta fez para perder peso até momentos antes da pesagem, o que debilitou Big para a luta, que lhe rendeu a medalha de prata. “Naquele dia eu entrei no ringue já com cãimbras”, lembra.

Neste ano, Big passou os momentos anteriores à sua luta em seu quarto de hotel. Mesmo com menos tempo de preparação, o bom estado psicológico e a força de vontade foram fundamentais para a vitória, conquistada no dia 18 de março. 

“O campeonato começou às cinco da tarde. Como eu sou peso-pesado, eu sabia que minha luta era a última. Quando faltavam cinco lutas, eu desci do meu quarto do hotel e comecei a preparação. Aí o coração começa a bater mais forte. Mas enquanto eu ia me preparando, eu ficava cada vez mais confiante”. 

E a maior glória de Big, coroando anos de treinamento e algumas decepções e muito suor, veio após três rounds de cinco minutos. Mesmo tendo um rendimento muito superior do que o adversário, o atleta recorda que, ao final da luta, o alívio veio apenas com o anúncio oficial. “No terceiro round eu já sabia que a única chance dele (o adversário) era me acertar forte e fazer eu cair. Quando acabou a luta, eu fui cumprimentar o mestre, comemoramos com os brasileiros que estavam lá. Mas a gente fica apreensivo. Aqueles trinta segundos que demoraram pra anunciar pareciam uma eternidade. Fiquei bem emocionado. Até que enfim veio esse título que a gente queria”, conta, agora aliviado, o Campeão Mundial.

Após alcançar o nível mais alto, muitos atletas se dariam por satisfeitos e retornariam para casa. Mas Big não é qualquer lutador. Com uma trajetória marcada por dificuldades até montar sua academia, localizada na Avenida Paul Harris, em Santa Cruz, Maurício Castilho utilizou os obstáculos da vida para juntar forças e decidir permanecer aprimorando seu conhecimento na Tailândia. Seus treinadores de academia em Bangkok levaram em consideração o sacrifício, e o ajudaram para conseguir uma nova luta para o brasileiro, desta vez em um evento de ainda maior porte, o Super Muay Thai, transmitido ao vivo para toda a Tailândia.

No dia 29 de abril, Big Castilho derrubou mais um adversário russo, desta vez por nocaute. “Eu consegui impor o meu ritmo. No primeiro round eu mantive a distância e minei ele com chutes. Ele esboçou uma reação no segundo round, mas ela parou nas minhas combinações de mão. Esse cara (o adversário) era um lutador muito duro. Ele sentia os golpes mas não se entregava. No terceiro round meu treinador mandou entrar com a cotovelada, que era para nocautear”. E foi após uma sequência de cotoveladas que a arbitragem parou o confronto, decretando o nocaute técnico.

Após a passagem exitosa no continente asiático, Big chegou ao Brasil dia 6 de maio, para rever sua família e amigos, e retomar suas atividades junto aos seus alunos na academia Big Fighters. 

O atleta deixa claro que sente uma grande admiração pela comunidade santa-cruzense. “Espero poder retribuir esse carinho da cidade. As pessoas me param na rua, me dão parabéns, isso é o que mais vale. Eu sou filho de Santa Cruz, minha vida é aqui”.  

Com muitos planos e projetos para o futuro, Big quer um dia retomar o trabalho com crianças carentes, que realizou durante o ano passado em um trabalho junto com a Secretaria de Esportes de Santa Cruz do Sul, onde deu aulas de Muay Thai para crianças de escolas públicas. 

Mas o lutador ainda não teve descanso desde que retornou. Neste sábado, 13, Big já luta o Campeonato Gaúcho de Muay Thai, em Bento Gonçalves. A competição classifica para o Brasileiro, que por sua vez, vale a vaga para o Mundial de 2018 na Tailândia. 

“Quero ganhar tudo de novo”, ressalta o guerreiro.