O dia começara diferente. Nas “Laudes”, às 7h, tivemos uma surpresa. O cântico e o bater das asas – prá lá de alegres – de nosso garnisé. “Tico”, do outro lado da vidraça, perfilara-se atrás da organista. Sem cerimônias. Pela primeira vez. Peito de “lord” da Inglaterra e muitos cocoricós… Os olhos de nossa madre Paula transbordavam a ternura de quem compreende.
Sentia-me exausta no final daquela sexta-feira. Dedicara parte da jornada (e da semana) à tradução de um texto complicadinho. Precisava respirar as mil fragrâncias de mãe natureza misturadas pela brisa vespertina: aquarela na chuva.
No jardim o capelão apontava alguma coisa no gramado. Irmã Isabel, muito corada, balançava a cabeça.
Discretamente emocionado, Pe. Loreno me comunicou:
“Lá se foi o nosso cantorzinho…” Numa confusão de penas, contemplei o que restara do garnisé… A irmã dizia alguma coisa sobre um voraz guaipeca, mestiço de “basset” com vira-lata… A irresponsabilidade dos donos que deixam seus bichos à mercê da própria fome… É preciso que tenhamos responsabilidade na aquisição ou adoção de um mascote. Toda a minha solidariedade para quem se preocupa com estes seres repletos de amor pela vida. Aplaudo a ONG “Protetores de Santa Cruz do Sul” e sua primeira Feira de adoção de animais. Tenho certeza que estes gatos e cães serão super bem tratados em seus novos lares, evitando-se, assim, o perecimento do animalzinho dos outros. Na queda de braço quem perde é o menor.
A dor causada pela morte de um mascote, caminha no compasso do “Eclesiastes”. Passa com o tempo: “Tempo de plantar, tempo de colher…”. Compreendi a missão de Tico: cantar para sempre. Canto que não passa. Solene. O silêncio musical da batuta do Maestro congelada no ar. Som de Eternidade, minha gente.
*Do Mosteiro da Santíssima Trindade ([email protected])














