Início Opinião O 7×1 nosso de cada dia

O 7×1 nosso de cada dia

Eduardo Barreto de Araújo*

No jogo semifinal da Copa do Mundo realizada no Brasil, causaram espanto, raiva, indignação, sofrimento, humilhação, desespero e desolação os 7×1 aplicados pela seleção da Alemanha sobre a seleção do Brasil. Motivo de orgulho para os amantes do futebol, a seleção canarinho que outrora fora responsável por inúmeras glórias, causou dor e sofrimento a estes mesmos amantes.
E toda esta indignação, que invade redes sociais através das palavras dos “filósofos virtuais”, sempre de plantão para alimentarem o senso comum a respeito de tudo, não pode perceber o lado magnífico que o esporte proporciona.
Assistimos ao auge futebolístico da Alemanha e não percebemos que este futebol, a prática deste esporte que arrasta multidões para frente da televisão (porque pelo menos no Brasil os estádios são privilégio de uma pequena minoria que consegue pagar R$ 100,00 por um ingresso), nos trouxe muito mais do que organização tática, nos trouxe e nos brindou com muito mais do que o simples jogo.
Deu-nos este jogo, a oportunidade de percebermos algumas das mazelas que nos assolam, se já tínhamos percebido antes, agora chegara a hora de expor publicamente tudo o que guardamos por muito tempo. “Discutir a relação”, entre nós, nosso passado e o possível futuro. A organização da Copa do Mundo foi boa, porém os 7×1 sofridos não são nada, perto da goleada que sofremos todos os dias.
Levamos 7×1 quando jogamos lixo no chão, quando enganamos alguém, levamos 7×1 quando furamos uma fila, quando achamos que investir na educação não traz retorno. Levamos 7×1 quando somos racistas, homofóbicos, preconceituosos, violentos, quando brigamos no trânsito. Levamos 7×1 quase todo o dia, e o pior, estas goleadas acabam passando em branco. Como algo normal.
Que este momento histórico, onde uma Alemanha multiétnica e multicultural, que desfilou por nosso país, seja lembrado sempre. Que este momento sirva então para repensarmos além do futebol, do esporte e do tratamento que se dá ao jovem atleta, uma oportunidade para reestruturar a educação, a relação com o meio ambiente, nossos preconceitos, nosso racismo de cada dia. Que este momento sirva como um marco na virada de um país que leva goleada quase todos os dias e não percebe.
 

Jefferson Bernardes/Vipcomm

*Graduado em História – Licenciatura Plena pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Professor de História no Colégio Estadual Professor Luiz Dourado.