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A arte muito além da profissão

Gilmar Almeida desenha, canta, pinta e dança. No universo artístico, ele agora aposta no on-line para distribuir suas obras

A história da arte acompanha ininterruptamente a história da humanidade. Alguns historiadores entendem, inclusive, que a história da Arte, desde a Pré-História até os nossos dias, traduz a própria história da humanidade, isto é, revela o processo de auto compreensão humana. Nesse sentido, em tempos onde a expressão artística pode ser uma fuga para um espaço em que anseios, medos e receios não existam com toda intensidade, em Santa Cruz do Sul o Artista Gilmar Almeida aposta no dom e na vocação para utilizar a pintura, a dança, o teatro e a música como formas de retratar sentimentos e sensações. Com carreira já consolidada na arte, o santa-cruzense agora aposta nas redes sociais para monetizar suas obras, multiplicando assim aquilo que para ele é essência de vida: a arte.

Gilmar: “O que me faz ser eu na essência, é ser artista antes de qualquer coisa”
Foto: Arquivo Pessoal

Desde muito novo, na infância, Gilmar já dava sinais de que a arte seria não só uma paixão, mas uma profissão, uma vocação, um verdadeiro dom. Nos anos iniciais da escola, já era conhecido como o artista da sala com habilidades diferentes. O que parecia apenas distração, na verdade começava a apontar aquilo que mais tarde se tornaria meio de vida. “Gostava de pintar, de desenhar, de esculpir e a música me atraia muito. Tudo que envolvia arte me chamava muito a atenção, tanto que para mim foi uma dificuldade ser alfabetizado porque eu não tinha interesse em escrever, eu usava a arte como linguagem, como de fato ela é”, comenta Almeida.

Na família, Gilmar tinha a mãe e o avô como inspiração, pois ambos também pintavam. Porém, o que para ele seria normal aos poucos foi se tornando o diferencial, e caracterizando seus primeiros passos como artista, ainda aos 18 anos. “Foi com 18 anos que fiz minha primeira exposição como artista. E isso é interessante, pensarmos o que é um artista. A carreira de um artista começa quando ele se percebe artista. Isso é arte, é quando dizemos quem somos através da nossa arte. A arte é uma forma de linguagem, uma forma de expressão. Na verdade eu não sou pintor, ou cantor. Eu sou alguém que domina técnicas e essas técnicas eu utilizo para me expressar, para falar sobre o cotidiano, para dizer as minhas verdades. Uso a arte como um todo: no teatro, na dança, na música ou nas artes plásticas. Uso essas técnicas para falar de emoções e sentimentos”, destaca o artista.

Pandemia x Arte

Em tempos de pandemia e “novo normal” à vista, a arte tem se tornado essencial, cada vez mais necessária para crianças e adultos, homens ou mulheres. Todas as gerações procuram na música, no teatro, em filmes ou em qualquer outra forma de expressão, alento para vencer os desafios atuais. Além de projetos financiados através da Lei Aldir Blanc, como, por exemplo, o “Histórias Extremas” ou o “Arte na Casa”. Gilmar também segue em projetos pessoais. “Todo artista do Sul, para poder sobreviver, acaba tendo duas tarefas. No meu caso sou artista e professor, e mesmo sendo professor ficou difícil lidar com a pandemia em função de redução de carga horária e tudo mais. Porém, ao mesmo tempo eu acabei tendo tempo para volta a ser eu mesmo e poder trabalhar de forma artesanal, pintar e criar. Acabei pondo em prática uma técnica que eu estava pesquisando e também comecei a usar o Instagram para divulgar esse trabalho”, evidencia o artista.

Gilmar: “O que me faz ser eu na essência, é ser artista antes de qualquer coisa”
Foto: Arquivo Pessoal

A pandemia serviu também para reascender em Gilmar a confirmação daquilo que lá na infância já dava sinais de existência: a certeza de que a arte era muito mais do que apenas paixão e dom, era o sentido de existência. E embora o estilo de vida atual esteja cada vez mais acelerado, propício ao capitalismo e suas vertentes impulsionadas pela economia e pela sensação de que o trabalho padrão é a única forma de contemplação do cidadão enquanto ser material, Gilmar acabou confirmando durante o período pandêmico sua essência e o privilégio que a arte o proporciona. “Antigamente eles falavam assim: ‘ser artista é ruim, porque tu não tem emprego fixo, não tem garantia’. Então, hoje percebo essa tendência mundial de não existir garantia, de um dia a pessoa estar empregada, no outro ela está sem emprego, sem salário. Não se tem garantia de emprego, de aposentadoria e tudo mais, então descobri que ser artista é bom porque ninguém vai me tirar isso nunca, eu sempre vou ser artista e sempre vou conseguir produzir alguma coisa”.

Almeida que é referência na arte em todo o Estado ainda ressalta o que para ele é a base da profissão como artista. “Essa capacidade de produzir do nada alguma coisa é algo que me abre um cenário inacreditável e faz com que eu tenha menos medo. Me dei conta no passado, quando iniciou a pandemia e tudo parou, que o que me faz ser eu na essência, é ser artista antes de qualquer coisa”.

O que define um artista?

Para Gilmar, a definição de artista vai muito além do retorno financeiro ou popular em si. Para ele, a arte é expressão, sobretudo no que diz respeito à conexão entre pessoas. “Vender ou não, ou ser pago ou não, não denomina ser um artista ou não. Artista é alguém que domina completamente uma técnica ou um processo e passa a se expressar de forma única, autoral. Se eu toco violão, canto ou pinto, eu tenho que dominar isso de um modo que eu consiga me expressar e as pessoas possam entender ou não, mas que eu consiga me expressar a partir disso. O artista pode estar usando a linguagem de um jeito que as pessoas não estão consumindo, mas isso não tira a capacidade de ser artista. A diferença de ser artista ou não está em conseguir transmitir a partir da sua própria técnica”.

On-line vende?

Apesar de lidar com a arte desde a infância, Almeida, hoje com 52 anos, aposta nas novas tendências do mercado digital. Utilizar plataformas como o Facebook e o Instagram passou a ser um divisor de águas na carreira do artista. “Posto postar um quadro meu e essa obra ser comentada por um chinês, um australiano ou um americano. Cada vez mais eu posto coisas e outras pessoas de outras culturas falam comigo, e percebi que há um diálogo a partir da minha arte”.  Almeida ainda finaliza ressaltando a importância da distribuição do material que é produzido pelo artista. “É interessante o artista ter essa visão de se ver como ser humano, mas divulgar para ver se existem outras pessoas que conversam sobre isso e o que eles pensam sobre o mesmo assunto”. Para ter acesso ao material produzido pelo artista Gilmar Almeida acesse @gilmaralmeidasi no Instagram.