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Achei pouco

As redes sociais são os nossos encontros com o planeta Terra, o olho do mundo.

Sou ainda dos tempos das velhas, pesadas e barulhentas máquinas de escrever nas redações dos jornais e conhecedor dos furinhos que traziam em uma espécie de fita métrica as informações do universo pelo telex. Era romântico. Era instigante. Era verdadeiro.

Naquela época, o chamado furo era um prêmio para o repórter de plantão. Ser o primeiro a dar a informação tinha um valor inestimável para a gente. Éramos ambiciosos em poder informar com a rapidez que só o Flash tinha.

O tempo voou e antes mesmo dos carros voadores anunciados pelas histórias em quadrinhos dos Jetsons, surgiu o computador para nos vigiar e informar bem como preconizou George Orwell em 1984.

O computador era uma enorme máquina que ocupava muitos metros quadrados de alguma sala nos EUA ou na antiga URSS. Com o tempo, foi ficando menor, mais rápido, mais completo, disponível para todos.

A partir dele veio a comunicação entre os humanos via e-mail, depois o Orkut, e agora temos acesso às redes sociais mais rápido que um copo de água servido na torneira de casa. Falamos e assistimos com pessoas do outro lado do planeta como se estivéssemos tête-à-tête.

Essa nova maneira de comunicação faz de qualquer pessoa agente do furo jornalístico. Hoje, são raros os acidentes que não são registrados pelas câmaras acopladas aos celulares. A narrativa dos acontecimentos passou a ser levada com agilidade pelos teclados acoplados aos telefones inteligentes. É basicamente por este pequeno aparelho que nos informamos diariamente. Restou aos veículos de comunicação só o papel de dar veracidade aos fatos?

Acredito que não. Os jornais, rádios, tvs, blogs sérios, servem para dar credibilidade sim, mas servem muito mais como o registro que permanece. Por conveniência, muitas vezes vemos os veículos de comunicação trabalharem em prol do desserviço, replicando coisas que não tem nenhum embasamento factível como se verdade fosse ou pela omissão no registro dos acontecimentos. Uma verdadeira lástima.

Dia 31 de maio deste 2021, na Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul, o vereador Raul Fritsch (Republicanos) da Tribuna proferiu a seguinte frase: “para saber quando as mulheres estão falando a verdade, basta dar bebidas para elas”. O pronunciamento é de um machismo absoluto e, não fosse um comentário contrário por parte do vereador Beto Heck (PT), o dito machista ficaria no esquecimento total. Não fosse as redes sociais, estaríamos desinformados deste fato.

Nessa quarta-feira que passou, dia 9 de junho, o Movimento Mulheres em Luta fez uma nota de repúdio e o vereador pediu desculpas, dizendo que havia pessoas que não entenderam o que ele quis dizer. Creio que não é bem assim. Eu entendi e não gostei, assim como achei muito pouco ficar só nesse pedido de desculpas e não se tipificar como quebra de decoro parlamentar, já que ofende todas as mulheres e homens que querem do representante popular ao menos o devido respeito.

Espero que esse vereador faça as desculpas públicas na próxima sessão Legislativa. Visto que mais do que isso não irá acontecer.

Mesmo em tempos de internet chegando quase à instantaneidade, no tempo das máquinas pesadas e do telex, a informação era mais rápida, mais precisa, menos conivente.