
Guilherme Athayde
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As fortes chuvas que assolam o Vale do Rio Pardo desde o início da semana causam estragos nas cidades, mas atingem também a produção no campo. No Vale do Rio Pardo, alguns municípios tiveram quase 200 mm de precipitação em um período de tempo muito concentrado. Segundo dados da Emater/RS-Ascar, a intensidade das chuvas pode afetar a produção agrícola do Estado e da região, principalmente na área da olericultura, que é o ramo da horticultura dedicado ao cultivo de hortaliças, legumes e verduras.
O engenheiro agrônomo Vivairo Zago, assistente técnico da Emater/RS-Ascar na Regional de Soledade, que engloba Santa Cruz do Sul e parte do Vale do Rio Pardo, destaca que ainda é cedo para calcular em números as perdas na produção, mas afirma que já são esperados impactos na quantidade e qualidade dos cultivares. “Os danos mais expressivos serão na área de olericultura. Com certeza teremos impactos negativos na questão de perda de produção, perda de qualidade. Os plantios dessa época são espécies da época, como repolho, couve-flor, brócolis, as foleosas, alface, temperos, raízes como cenoura e beterraba. Na questão da mandioca e batata-doce, pode dar o apodrecimento de raízes com acúmulo de água no solo. São culturas que estão em plena colheita”, oberva.
Zago explica que as áreas alagadas podem gerar perdas expressivas, dependendo da localização. “Nas áreas baixas, terá acúmulo de água e algumas podem ter perda total. Outras com perda de qualidade e atraso no desenvolvimento. O solo encharcou e vai dar um estresse nessas plantas, não terão um crescimento normal, como no repolho, brócolis e couve-flor, culturas plantadas mais a campo”, explica.
Os animais, como o gado leiteiro, também são afetados pelo forte volume de chuvas dos últimos dias. “Na área do bovino de leite também terão áreas baixas alagadas, que vai prejudicar o crescimento da pastagem, perdas por áreas que vão ficar debaixo d’água. Estraga e atrapalha a pastagem. Além de que estamos a semana toda sem a irradiação solar e vínhamos em um período de limitação de irradiação solar, que atrasa o crescimento da pastagem de inverno, principalmente aveia e azevém, que são alimentação para o gado leiteiro e também gado de corte. Podemos ter redução da produção de leite em função dessa chuvarada, mas é cedo para definir o quanto vai ser perdido”, destaca o engenheiro.
O período de umidade também pode provocar doenças no gado, como a inflamação na glândula mamária das vacas, causada por bactérias ou fungos. “Na questão do bovino de leite é o estresse dos animais, o risco de ocorrer a mastite por excesso de umidade. O barro favorece o aparecimento da doença e impacta a qualidade do leite”, aponta Zago. “O manejo dos animais nesses períodos chuvosos é bastante difícil. Se o produtor coloca os animais na pastagem ocorre degradação da pastagem por conta da umidade. E quem não colocar os animais na pastagem, vai ter aumento no custo da produção, pois vai ter que alimentar o gado com silagem, com feno, alimentos que tem um custo maior do que o pasto.”

Junho chuvoso: evento similar ocorreu em 2024
Apesar de tradicionalmente ser um dos meses mais chuvosos do inverno, junho de 2025 já ultrapassa a média histórica de anos anteriores. Em Santa Cruz do Sul, o coordenador da Defesa Civil, Cesar Eduardo Bonfanti, destaca que o acumulado de chuva no município até quinta-feira era de 290 mm. As médias estaduais para o período giram em torno de 115 mm, mas o extensionista rural e assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, Josemar Parise, lembra que um evento similar ao ocorrido nesta semana na região central do Estado já havia acontecido em 2024.
“Analisando a mesma época do ano passado, tivemos dois eventos de chuva em junho. Os primeiros dez dias foram praticamente de tempo firme. Tivemos um evento de em torno de 150 milímetros para mais ou para menos em alguns locais. Em 15 e 16 de junho (de 2024) e depois 21 até 23 de junho mais 150 milímetros. Então, em torno de 300 mm. Foi mais ou menos parecida com a situação deste ano, que também variou de volumes acima dos 200 milímetros”, compara.
O técnico da Emater recorda também que a diferença das chuvas do ano passado foram as temperaturas, que estavam mais elevadas. Ele destaca ainda que a falta do sol é um evento que interfere no crescimento das lavouras de inverno na região. “Não chega a ser tão impactante nas culturas que estão em pleno desenvolvimento. Retornando as condições climáticas de tempo firme e presença de sol, elas retomam o seu desempenho. Tivemos, esta semana, praticamente uma radiação solar ausente. Isso interfere não só no desempenho das lavouras implantadas, emergidas, mas também de maneira geral, nas pastagens da pecuária”, indica.
A chuva deve dar uma trégua neste sábado, 21, e domingo, 22, segundo o site da Emater/RS-Ascar. A precipitação volta com 60% de possibilidade de chuva na segunda-feira, 23. O sol deve retornar nos dias seguintes, porém novas precipitações são esperadas para quinta-feira, 26.














