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Autismo | Com simplicidade, Marcos Petry ensina a complexidade de quem tem TEA

Em comemoração ao primeiro ano de atividade do Centro TEA - Programa TEAcolhe, palestrante Autista torna acessível o entendimento sobre o Transtorno do Espectro do Autismo

O Autismo na Visão do Autista foi realizado em comemoração aos 18 anos do Cisvale e ao primeiro ano de funcionamento do Centro Regional de Referência em Transtornos do Espectro do Autismo (Centro TEA)
Foto: Divulgação/RJ

O Consórcio Intermunicipal de Serviços do Vale do Rio Pardo (Cisvale) levou mais de 700 pessoas para o Auditório Central da Unisc, pais, mães, educadores e pacientes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), para ensinar como é o mundo na visão de um autista. Marcos Petry, de 30 anos, amparado pelo pai Orlando e a mãe Arlete contou como é a vida da família catarinense que percorre o Brasil ensinando a entender o autismo.
O evento, realizado pelo Centro Regional de Referência em Transtorno do Espectro do Autismo (Centro TEA) – Programa TEAcolhe, trouxe famílias dos 13 municípios referenciados ao Centro para participar do evento. Para o presidente do Cisvale, Gilson Becker, a casa cheia com mais de 700 pessoas mostrou a importância do tema e a relevância da presença de Marcos Petry. “Estamos felizes em comemorar o primeiro ano de atividade do nosso Centro TEA com uma palestra tão especial. Falar e entender sobre o autismo é muito importante. Propiciar este evento, para nós, uma grande satisfação”, destaca o presidente.
Formada pelo pai, Orlando e da mãe Arlete e o segundo filho do casal, Marcos, a família Petry mostra que é na perseverança e metodologia criada para ele, que eles conseguiram incluir ele nas atividades sociais e rotineiras do cotidiano. “Não dá para desistir. Mudamos tudo em nossa casa, porque decidimos que não iríamos esconder o Marcos e que ele iria se desenvolver sim”, compartilha Arlete. Segundo ela, para que o menino, hoje palestrante reconhecido em todo o país, reconhecesse cheiro, texturas e desenvolvesse a mobilidade, foram mais de quatro anos. “Decidimos dar para o Marcos às condições necessárias para que ele pudesse viver com qualidade, e isso é o reflexo da vida dele hoje.”
Toda a trajetória inicial do cuidado com o filho foi sem ter a certeza de que Marcos era autista. O diagnóstico surgiu com o passar do tempo e com a observação do menino.”O diagnóstico é um instrumento, uma ferramenta, não uma sentença. Papais e mamães, o seu filho pode tudo, desde que vocês se mobilizem para isto”, recomenda Arlete.

Para entender o autismo


Bem-humorado e comunicativo, Marcos Petry cativou a plateia. Abriu sua fala, apresentando a família e cantando o “Hino do Autista”, canção que fala sobre a importância da família no desenvolvimento de uma criança com TEA. “Eu fui descobrindo que o meu cérebro e dos outros autistas é diferente, especialmente no que se refere a capacidade de abstrair, por isso, é muito mais difícil entender a linguagem figurada e as metáforas”, conta.
Petry compara o cérebro do autista a um aparelho de telefone celular, com muitos aplicativos instalados. “O celular fica lento, mas o nosso cérebro fica confuso, diante de muitos estímulos. A comunicação não verbal para nós é mais difícil, pois o meu cérebro fica muito no modo literal, e isso dificulta muito a minha capacidade de interação.”
O processamento sensorial, capacidade de compreensão das informações e resposta aos estímulos, em uma pessoa neurotípica – que não tem TEA, o acesso às informações é instantâneo. “Pois a gente recebe 5% mais luz, som e informações. Para poder acessar isto, eu preciso encontrar uma zona de conforto, eu me balanço, para poder organizar estas informações e responder ao estímulo. Isso é o que chamamos de modulação do corpo”, destaca Petry.
Marcos revela que a brincadeira, responsável pelo desenvolvimento, também é uma barreira para o artista. “O ser humano brinca para aprender alguma coisa, mas o autista não entende a brincadeira como uma utilidade. Durante muito tempo, meus pais tiveram que mostrar a utilidade da brincadeira comigo”, compartilha o palestrante.

Seleção e padrão até nas refeições

Até mesmo a alimentação é uma barreira para o autista. Marcos chama de seletividade alimentar, que para ele esbarra na forma e no som emitido na hora do consumo. “Minha mãe trabalhou isso comigo me colocando para preparar a comida, combinando comigo o que iríamos consumir”, pontua.
O palestrante diz ainda que tudo é método e adaptação. Até mesmo na hora de dizer “não”. “Explicar a consequência de uma ação ajuda na compreensão, na hora de expressar uma negação. Trabalhar o porquê ajuda muito.”
O evento, com mais de duas horas de duração contou ainda com uma apresentação de alunos da Escola Municipal José Bonifácio, de Vera Cruz. O Sterntanz trouxe o clima de Oktoberfest para a palestra.
O Autismo na Visão do Autista foi realizado em comemoração aos 18 anos do Cisvale e ao primeiro ano de funcionamento do Centro Regional de Referência em Transtornos do Espectro do Autismo (Centro TEA) – Programa Estadual TEAcolhe. A palestra com Marcos Petry contou com o apoio da Unisc, Associações de Pais de Pessoas com TEA, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) Santa Cruz, 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Departamento de Inclusão da Pessoa com Deficiência da Prefeitura de Santa Cruz do Sul.