LUANA CIECELSKI
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Desde a última quinta-feira, 29 de outubro, Santa Cruz do Sul tem um cinema a menos em funcionamento. O Cine Arcoíris, pertencente à rede Arcoplex, que estava instalado no Shopping Santa Cruz, já não exibe seus filmes. Um dos motivos alegados para o encerramento das atividades, de acordo com a direção da empresa, é a falta de retorno financeiro. Pelos mais variados motivos, as sessões estavam cada vez mais vazias.
Outra alegação da operadora para o fechamento do cinema é com relação a necessidade de investimentos. De acordo com o diretor da empresa, Mário Luiz dos Santos, com o surgimento de novas tecnologias, como a 3D, as salas de toda a rede – que funciona em outros cinco estados – estão passando por reformas e adaptações. No entanto, em Santa Cruz do Sul, a capacidade de lotação pequena – havia lugar para 100 a 120 pessoas – decretou o fim. Apesar do carinho que Mario diz ter pelo município, a rede está focando o investindo em salas com capacidade mínima de 300 lugares, e esse não é o caso de Santa Cruz nesse momento.
O Cine Arco-Iris estava em funcionamento desde 12 de setembro de 1998. Ele iniciou suas atividades pouco antes da inauguração oficial do shopping, com uma sala de filme, com capacidade para 50 pessoas, no espaço onde hoje é a loja Rosa Pink. O primeiro filme exibido foi O resgate do Soldado Ryan e na época, ainda sem bilheteria, os ingressos eram comprados na loja Marlene Calçados, no Centro de Santa Cruz do Sul.

Novo cinema será instalado
Mas os santa-cruzenses não ficarão muito tempo sem um cinema no Shopping Santa Cruz. De acordo com a administração do centro comercial, o espaço onde até então estava localizado o Cine Arcoíris será ocupado, em breve, por uma empresa santa-cruzense, que no site do Shopping Santa Cruz já anuncia a novidade: haverá cinema 3D.
“Houve um diálogo sobre a possibilidade de a Arcoplex permanecer ou não, mas como não se chegou a um acerto e eles decidiram sair, nós buscamos uma outra empresa com a qual pudéssemos fechar um contrato”, explicou Luciana. O nome da em´presa, no entanto, ainda não está sendo divulgado.
Antes de qualquer mudança, no entanto, o local deverá passar por uma série de reformas. Luciana explica que haverá a diminuição de três para duas salas que terão um espaço maior. Aproveitando que serão feitas essas alterações, também serão realizados alguns ajustes na acústica das salas.
Além disso, Luciana conta que a intenção é construir também um palco junto às salas. “Será um lugar para pequenas palestras ou para a realização de cursos em horários alternativos que não atrapalhem as sessões”, explica. Esse espaço poderá ser locado por empresas e instituições, no entanto, a administração do shopping ainda está vendo a viabilidade desse projeto.
A previsão é de que o novo espaço seja inaugurado entre os dias 10 e 15 de dezembro desse ano, de forma que já esteja disponível para uso durante as férias de verão escolares. A administração do shopping faz questão de salientar: “não é um fechamento, mas apenas uma alteração da administração das salas”.
Migração cultural
Um das principais causas do fechamento do Cine Arcoíris, como já foi citado anteriormente, foi a falta de retorno financeiro causado pela diminuição do público espectador de filmes. Esse, no entanto, não foi um problema enfrentado apenas por essa unidade, e sim, por diversas casas de exibição audiovisual do país, de acordo com o professor de Produção em Mídia Audiovisual da Unisc, Josmar Reyes.

Aqui, essa diminuição foi determinante para a decisão da Arcoplex de não investir em melhorias causando o fechamento do espaço que já será assumido por outra empresa, no entanto, em outros municípios esse mesmo problema fechou definitivamente casa de cinema e por isso, preocupa os estudiosos.
Josmar explica que em uma cidade, o hábito de ir ao cinema tem relação com as práticas culturais que as pessoas daquela localidade costumam manter. Em cidades metropolitanas como Porto Alegre, por exemplo, o fechamento de cinema não acontece ainda porque, de uma forma geral, a capital gaúcha tem uma mobilidade urbana diferente.
No entanto, o professor, que é doutor em cinema, também entende que alguns fenômenos acontecem. “Na década de 80, quando surgiu o VHS, e alguns anos depois o DVD, diversos cinemas fecharam porque surgiu o hábito doméstico de assistir filmes”, ele relembra. Agora a situação se repete, e até mesmo as locadoras – que surgiram na década de 80 – já quase não existem mais. A causa? Uma migração cultural.
Com o advento da internet, a possibilidade de assistir filmes em serviços de TV online como o Netflix, ou de fazer downloads, o acesso ao audiovisual se tornou fácil e barato. Além disso, houve também o boom das séries. “Ocorreu uma migração das pessoas para um produto cultural diferente”, explica o professor. E com essa migração, aquele hábito de assistir filmes em casa ficou ainda mais forte.
“Mas isso lastimável, porque ver um filme na tela do cinema é muito diferente, e as pessoas estão abrindo mão dessa experiência. E mais do que isso, elas estão abrindo mais de uma mobilidade urbana”, comenta Josmar. E para que esse cenário mude, segundo ele, é necessária uma mudança na perspectiva educacional e cultural. É necessário mais incentivo por parte do poder público. É preciso mostrar às pessoas, através de um processo educacional, o quão bom é um filme no cinema. É preciso que as pessoas queiram e lutem pelas atividades culturais de suas cidades.
Sem alternativas? Não!
Mesmo órfãos de um dos cinemas por um tempo, os santa-cruzenses não ficarão sem alternativas. Uma opção é já o bastante frequentado cinema do Maxx Shopping, localizado na rua Sete de Setembro, 36, que possui a tecnologia 3D a disposição do espectadores.
Além desse, uma opção alternativa são as sessões da Associação Amigos do Cinema de Santa Cruz do Sul, que acontecem todas as terças-feiras, às 20 horas, na sede do Sindibancários, também na rua Sete de Setembro, 489. Nessas noites são exibidos grandes clássicos do cinema nacional e internacional, e a entrada é gratuita.














