A noite se aproximava quando fugia do burburinho da multidão e da chuvinha fina que encobria parte da cidade grande. Ainda assim, as luzes da metrópole e das enfeitadas vitrinas das lojas continuavam apregoando com alegres apelos a compra de seus tentadores presentes no grande mercado de consumo, estimulado pela criativa publicidade.
Apressado, ao dobrar uma esquina, vi sentada no úmido chão da calçada, uma mulher com seus dois ou três filhos, que choravam de frio, de abandono, de injustiça e, mesmo assim parecer resignada ou, quem sabe, revoltada pelo desprezo de uma sociedade tão usurária e competitiva, que simplesmente a ignorava.
O gesto de sua esquálida mão ao estender a esse passante, ao pedir uma esmola, como um grito de socorro, não o sensibilizou e continuou com o passo apressado, rumo à segurança de sua casa.
Agora, sentado confortavelmente em seu aposentos, ao suave som de uma música emanada do aparelho de som e uma bebida para aquecer o espírito e corpo, a figura daquela mulher e seus pobres filhos voltam à mente, como um libelo de um mundo tão desigual, que nem ao menos teve a atenção desse passante para seu drama., Ignorada para a doação de algumas moedas colocadas em suas trêmulas mãos suplicantes….
*Jornalista