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Dia do pesquisador brasileiro

Em 14 de novembro de 2008, foi publicada no Diário Oficial da União a Lei 11.807/2008, que institui o Dia Nacional do Pesquisador, assinada pelo vice-presidente em exercício José de Alencar. A Lei prevê que o Dia Nacional do Pesquisador seja comemorado anualmente no dia 8 de julho, data em que, em 1948, foi criada a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC. A Lei 11.807/2008 teve sua origem no Projeto de Lei do então Senador Eduardo Azevedo, que assim justifica a proposição da data: No momento atual, que muitos denominam de “era do conhecimento”, e em que cada vez é mais importante o papel da pesquisa, do desenvolvimento e da inovação tecnológica, é importante criar uma data nacional para homenagear pesquisadores e para que sirva também de um dia de reflexão sobre as contribuições e as necessidades da pesquisa brasileira.
E este é o objetivo deste texto: homenagear os Pesquisadores Brasileiros em geral, e, em especial, homenagear os pesquisadores da Universidade de Santa Cruz do Sul, que experimentam diariamente as dificuldades e as conquistas da busca pelo avanço do conhecimento em uma instituição comunitária, no interior do Estado do Rio Grande do Sul. Alguém mais distante do dia a dia de um pesquisador pode imaginar uma cena um tanto bucólica para esse profissional, já que a “busca do conhecimento” pode nos remeter à imagem de O Pensador, de Auguste Rodin, ou à imagem do Professor Pardal, com suas invenções mirabolantes. Entretanto, se olharmos mais de perto, veremos que o trabalho do pesquisador é feito de pequenas mas gratificantes conquistas, muita persistência e uma boa dose de incertezas.
A primeira incerteza diz respeito à sua própria identidade de pesquisador. No Brasil, são raríssimas as oportunidades de trabalho de dedicação exclusiva às atividades de pesquisa. Na sua grande maioria, pesquisadores são também professores universitários, e isso é interessante, pois o país carece de recursos humanos preparados para os desafios da “era do conhecimento”. Assim o pesquisador-professor, ao mesmo tempo em que se dedica à pesquisa, compartilha com seus alunos o conhecimento acumulado e ainda aponta as lacunas e as oportunidades para o avanço do saber, colaborando na formação de profissionais qualificados e de outros futuros pesquisadores.
Outra incerteza presente na vida dos pesquisadores diz respeito ao financiamento da pesquisa. Mesmo que o pesquisador esteja empregado como pesquisador-professor, as pesquisas em geral necessitam de infraestrutura dispendiosa, espaços físicos e equipamentos caros. Existem agências de fomento que lançam editais para financiamento das pesquisas, mas a busca por esses recursos, ainda que indispensável, requer do pesquisador uma boa dose de persistência, já que a burocracia é complexa, a competição pelos recursos é grande e o receio de complicações na prestação de contas paira como uma dúvida iminente por longos anos.
E as incertezas continuam. Ao pesquisador-empregado, que alcançou fomento para subsidiar suas pesquisas e desenvolveu-as a contento, cabe a tarefa de publicar os resultados de sua pesquisa em forma de artigos e livros, ou ainda de transformar esse novo conhecimento em patente, garantindo assim o reconhecimento da autoria do trabalho. E aí vem outro desafio: buscar uma revista qualificada, buscar uma editora que não publique apenas best-sellers, aguardar durante anos o reconhecimento da patente…
A essa altura, o leitor pode estar se perguntando: mas por que alguém escolhe uma profissão tão cheia de incertezas? E uma resposta poderia ser: Porque a atividade de pesquisa é gratificante! Porque os pequenos avanços de cada projeto de pesquisa somados podem contribuir para melhorias das condições e da qualidade de vida. Porque o conhecimento tem um papel transformador, inovador e precisa ganhar visibilidade na sociedade. Porque o desafio da busca do conhecimento faz nos sentirmos vivos, com muito a aprender, com um eterno sentimento de que sabermos pouco e que por isso precisamos buscar mais. E assim, cada aluno em que plantamos a semente da curiosidade científica, cada artigo em que conseguimos explicitar um raciocínio ou demonstrar a confirmação de uma hipótese acaba se tornando o combustível para manter vivo o desejo de avançar.
A instituição do Dia do Pesquisador alcança assim o objetivo para o qual foi criada: homenagear (reconhecendo e agradecendo o trabalho de nossos pesquisadores), e refletir sobre as contribuições e as necessidades da pesquisa.
Parabéns, Pesquisadores!

* Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade de Santa Cruz do Sul. E-mail [email protected]