Início Geral Doenças crônicas | Obstáculos e negação prejudicam tratamentos

Doenças crônicas | Obstáculos e negação prejudicam tratamentos

Pacientes abandonam procedimentos por diversos fatores, como a não aceitação, dificuldades no trabalho e preconceito

Ambulatório de Diabetes atua com equipe multidisciplinar – Foto: Fabrício Goulart

Fabrício Goulart
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Manter um tratamento contínuo nem sempre é tão simples quanto parece – especialmente para quem convive com doenças crônicas. Pacientes com diabetes, hipertensão e asma, dentre outras, precisam de cuidados para toda a vida. Contudo, mesmo conscientes disso, muitas pessoas interrompem ou seguem de forma irregular o tratamento prescrito.

A médica cardiologista e coordenadora das emergências do Hospital Santa Cruz (HSC), Bárbara Swarowsky Tabach, avalia que o tema é um dos maiores desafios na gestão de condições crônicas. Entre as causas para que os pacientes deixem os tratamentos, aponta a falta de compreensão sobre a doença ou o tratamento, a negação (especialmente quando é assintomática), quadros depressivos, de ansiedade ou outras questões psicológicas, esquecimento, rotina desorganizada e também medo de efeitos colaterais.

Além disso, sinaliza que há problemas relacionados ao próprio tratamento, como esquemas complexos de medicamentos – com vários remédios, horários e jejum – efeitos adversos, tratamentos prolongados e a falta de resultados visíveis no curto prazo. Este último, pode gerar a impressão de que nada está fazendo efeito.

“Há também associação com fatores econômicos e sociais, entre eles o custo dos medicamentos, a falta de acesso a consultas, exames ou transporte e o amparo social e familiar limitado”, diz Bárbara. Para a médica, as próprias relações ainda podem ser fatores: a falta de vínculo com a equipe de saúde, consultas muito rápidas e possíveis falhas na relação entre médico e paciente.

Multiprofissional

O Ambulatório de Diabetes de Santa Cruz do Sul (Rua Capitão Pedro Werlang, 59, Centro) atende cerca de 800 pacientes com doença descompensada – quando os valores de glicemia permanecem elevados por um longo período – do tipo 1 e 2. No local são oferecidos atendimentos com diferentes profissionais, que inclui médico, psicólogo, nutricionista, assistente social e enfermeiro. Um dos trabalhos da equipe é, justamente, o de monitorar os pacientes e tentar estimular para que não interrompam o tratamento.

Conforme a coordenadora, Carmen Hamid, a diabetes sempre vem acompanhada de outros fatores, e por isso precisa ser trabalhada de forma conjunta. “É o lado emocional da não aceitação; a parte da nutrição, de comerem de forma errada; e até dificuldades com a família, que muitas vezes acha que é bobagem”, explica.

No caso da diabetes, as complicações na interrupção podem ser severas no futuro, incluindo amputações e cegueira. Mesmo assim, os pacientes muitas vezes enfrentam até restrições no trabalho. “O mercado de trabalho, às vezes, não possibilita que venham para uma consulta ou para a retirada dos insumos; ou os pacientes não querem perder uma cesta básica ou um bônus oferecido”, diz Carmen.

O psicólogo Marcelo Augusto Ferreira, que atua no ambulatório, avalia ainda que para os pacientes do local também está a adequação da alimentação – um fator que vai além da pessoa. “Às vezes, a família tem dificuldade de adotar uma alimentação mais saudável”, observa.

Auxílio

Diante das dificuldades, os profissionais da saúde trabalham alternativas para reverter o cenário. No Ambulatório de Diabetes, as ações envolvem conscientização dos pacientes e dos próprios familiares. De acordo com Bárbara Tabach, medidas simples, como explicar os riscos da não adesão e os benefícios do cuidado contínuo, ou a utilização de alarmes e aplicativos específicos, podem auxiliar: “Em alguns casos, quando possível, podemos simplificar o tratamento, reduzindo o número de medicamentos e facilitando o uso com horários fixos e combinados com a rotina do paciente”.