Início Especiais Em protesto:Manifesto contra o racismo pede fim da discriminação

Em protesto:Manifesto contra o racismo pede fim da discriminação

Na tarde de quarta-feira, 7, na Praça Getúlio Vargas, houve uma mobilização de diversas pessoas em prol da causa

FOTOS: ANA SOUZA
Movimento reuniu forças na luta pela desigualdade racial

Débora Dumke
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No final da tarde de quarta-feira, 7, a Praça Getúlio Vargas foi palco de um ato de luta pela igualdade racial. O movimento foi uma organização do Conselho Municipal da Promoção da Igualdade Racial (Compir) e do Movimento da Mulher Negra de Santa Cruz do Sul (Movine). Várias pessoas foram apoiar a manifestação trazendo mensagem de apoio e solidariedade.

Foram realizados vários pronunciamentos da sociedade em defesa da causa. Durante o ato, vários cartazes pedindo que a lei seja cumprida, que racismo é crime, balões pretos e brancos, a fim de demonstrar que todos são iguais. Houve também um minuto de silêncio, como forma de protesto e cantava uma música que representava revolta.


No ato, estava Renato dos Santos, o Renatinho, que ficou ainda mais conhecido pelo triste acontecimento na última sexta-feira, 2. Na ocasião, no dia do seu aniversário sofreu racismo, contou que embora a situação que ocorreu o machucou muito, está feliz em ver que há essa mobilização e o apoio de tantas pessoas e que estão em uma caminhada. “Acho que precisamos dar um basta, né? Ninguém mais aguenta sofrer e é inadmissível que, em pleno século 21, as pessoas ainda possuam tanto ódio pela cor da nossa pele. A gente não faz nada para ninguém, só queremos nosso espaço. E, se Deus quiser, tudo vai dar certo. Todo mundo se apoiando e tem muita gente solidária, estou impressionado. Gente de todos os cantos, vários Estados, fico muito feliz. Tem até um amigo meu que mora nos Estados Unidos e me mandou um áudio de cerca de 1 minuto. Ele me conhece desde criança, quase chorando ele disse: ‘Fiquei com o coração arrasado, mas segue aí nessa luta contra o racismo, fortalece aí Santa Cruz do Sul e o Brasil todo e vamos combater isso’”, contou Renatinho, emocionado.

Renatinho: com forte emoção, ele lembrou o ocorrido


Para Isabel Pereira, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o movimento serve principalmente para ter mais conscientização. “Não param de chegar casos de racismo, preconceito racial, injúria, perseguição em estabelecimentos, então esse ato é o pontapé inicial para uma luta que a gente vem traçando há muito tempo e que culminou nesse episódio lamentável que ocorreu na última semana. Realizamos o ato para fazer com que não só as pessoas negras se unam nessa luta, mas que as pessoas brancas, que não são racistas, também se engajem. Não basta não ser racista, hoje em dia, precisamos ser antirracista”, contou.


Para Vera Lúcia da Silveira, presidente do Compir, o ato é importante porque os conselheiros estão cansados de assistir, conhecer, saber e receber notificações e atender denúncias de ataques racistas, que, no final, não dão em nada. “Assumimos o Conselho na pandemia, em 2020, e muita coisa não podemos realizar. Então começamos a fazer esse trabalho de campo, reunindo dados, notificações, denúncias. Subnotificações são as que mais nos deixam tristes, pois elas são maiores que as notificações, por isso não podemos fazer nada”, observa. “Entretanto, o copo estava muito cheio e o caso do Renatinho fez transbordar. Teve toda essa comoção e que viralizou nas redes sociais e nós temos essa obrigação de trazer para a comunidade santa-cruzense esse movimento.”

Cartazes mostravam a indignação pelos atos racistas


Haverá movimentos mensais, através do Compir, em favor de políticas públicas e punições bem mais severas. “Eu não gosto de usar a palavra precisamos, mas, sim, nós vamos fazer com que os crimes de racismo sejam punidos. Não é mais injúria discriminatória, não é mais preconceito, é crime de racismo e exige do ente público, dos órgãos públicos, da sociedade como um todo, das entidades de classe, um movimento maior, convergente. Essa semente precisa ser plantada. Santa Cruz do Sul não pode ir para o mapa de cidade branca racista, que trata os seus pretos dessa forma, com descaso e desrespeito”, destaca Vera.


Ela ainda traz a seguinte indignação: quando um branco e um preto concorrem a uma vaga de trabalho, o branco é admitida; quando um branco está na esquina, é só um branco na esquina e, quando é um preto, é um suspeito. “Isso precisa e vai mudar. O Compir entregou em mãos para a Câmara de Vereadores um documento e recebemos o aval do líder do governo, vereador Henrique Hermany (Porgressistas), para a instalação e criação de uma Secretaria Municipal de Direitos de Equidade Racial. Santa Cruz tem de um tudo para pessoas brancas e vai ter que ter, em 2023, para pessoas negras. O Conselho é só um órgão deliberativo, consultivo e de controle social. As pessoas negras precisam ser vistas e respeitadas, e principalmente receberem oportunidade e direito. A pergunta que eu faço é: do que somos feitos?”, acentuou a presidente do Compir.


O ato contou com o apoio de Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers), Conselho Municipal de Defesa da Mulher, OAB Subseção Santa Cruz do Sul, 4Black, Sociedade Cultural e Beneficente União, vereadores Alberto Heck (PT) e Cléber Pereira (União Brasil), Futebol Clube Bom Jesus e Associação Brasil de Homeopatia Popular Comunitária.