Início Opinião "Inclusão ou exclusão": qual o papel da educação?

"Inclusão ou exclusão": qual o papel da educação?

A construção das sociedades, desde os seus primórdios, sempre esteve cercada por fortes resistências e preconceitos inabilitando os indivíduos com necessidades especiais rotulando-os, marginalizando-os e privando-os de seus direitos como ser humano. Analisando que a diferença é inerente aos indivíduos, e reconhecendo a singularidade como algo natural em que cada ser humano pode usar de seus direitos coletivos na sociedade, um novo conceito brota, denominado inclusão, qual destaca que os membros de uma sociedade são cidadãos legítimos e por isso têm direitos e deveres igualitários.
De acordo com a ONU, pessoas com deficiência são “aquelas que têm impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas”.
A proposta inclusão fundamenta-se em uma filosofia que visa construir ações de igualdade e condições de ensino, não apenas aos indivíduos com necessidades especiais mas todos aqueles que por eventuais circunstâncias necessitem no decorrer de sua formação acadêmica adequações de ordem curricular, física, metodológica oportunizando vivências e experiências para criação de instrumentos de transformação social, política e educacional. Este enfoque, nos remete a identificar que a educação deve ser centrada abrangendo os interesses e necessidades de cada indivíduo para contribuir com seu desenvolvimento.
De acordo com o Censo Escolar 2006, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), contabilizou “375.488 matrículas de alunos com deficiência na Educação Básica e um crescimento de 76,4% no atendimento em classes regulares (não especiais)”. Estes dados são animadores e indicam que a educação inclusiva vem se expandindo no Brasil.
Entretanto, a efetivação de uma prática educacional inclusiva não será apenas garantida por meio de leis, decretos ou portarias que obriguem as escolas regulares a aceitarem os alunos com deficiência, ou seja, apenas a presença física do aluno deficiente na classe regular não é garantia de inclusão, todavia incide que o sistema de ensino esteja preparado para dar conta de trabalhar com os alunos que chegam até ela, independentemente de suas diferenças ou características individuais. Pois, isto, é levar uma educação de qualidade para todos.
Neste enfoque, pode-se destacar que a prática da cidadania advém principalmente de um ambiente de ensino, onde o processo de sociabilização dos indivíduos é desenvolvido quando, estes são tratados na sua singularidade.
Gardner (1994), estudioso das psicologias cognitivas e do desenvolvimento, autor da Teoria das Inteligências Múltiplas, enfatiza as múltiplas capacidades, inclusive daqueles indivíduos considerados incapacitados socialmente, contribuindo com o desenvolvimento do ser humano em sua individualidade, apresentando a singularidade e as capacidades distintas mostrando de uma maneira mais democrática o processo de ensino/aprendizagem.
Portanto, desenvolver o potencial humano buscando a superação de atitudes de preconceito e discriminação em relação às diferenças físicas, sensoriais e/ou intelectuais próprias da pluralidade de manifestações humanas, são necessárias para o processo educacional existente, a fim de terem aporte social inclusivo.
Assim, na busca de uma educação para todos, nos indagados diariamente sobre qual o papel da educação frente à inclusão? Pois, a partir de tal pergunta construiremos significativamente novos caminhos e saberes necessários para quebrar barreiras que provocam exclusão.

*Especialista em Educação Especial e Gestão em Saúde Pública