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Licença para matar 2

Os fatos ocorridos no dia 1°/12/2019 em São Paulo, que resultaram na morte de nove jovens na comunidade de Paraisópolis, passaram e hoje fazem parte das estatísticas. Semana passada, na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, uma operação desastrosa da Polícia Civil resultou na morte de 29 pessoas. Mas o interessante é que o discurso de ódio continua sendo destilado por lideranças políticas de nosso País. Quando os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro, Dória e Witzel, aderiram de forma cega e tosca à visão do Governo Federal, da política pública de segurança, onde uma das principais bandeiras é a exclusão de ilicitude de agentes das forças policiais, que diga-se, tinha seu principal defensor na figura do ex-Ministro Sérgio Moro. Isso deu início a um comando que estamos assistindo e que encontra respaldo no alto escalão do Governo Federal, vide as falas do vice Mourão e do presidente Bolsonaro sobre a tragédia no Rio.

O tempo passou, tanto Witzel, que hoje pode ser considerado um “bandido bom”, e Dória, mais uma viúva do Bolsonaro, talvez tenham claro sobre a barbárie que se instalou nas periferias de nosso País. Ambos certamente devem ter pesadelos com o líder que ajudaram a alimentar.

Quando a autoridade máxima do País diz que devemos conter um ladrão de celular “a bala”, está-se à frente de ordem literal de licença para matar. A sociedade não precisa mais violência do que já tem. O papel do Estado e da força pública de segurança é pacificar a sociedade e não estimular a vingança, como vem ocorrendo.

Não há dúvidas de que as mazelas das grandes capitais, seja com o poder das milícias, facções e traficantes, são um problema muito sério, e devem ser enfrentados com inteligência e não com mais violência, sob pena, do poder do mais violento e sanguinário se impor sobre a grande maioria de pobres e inocentes que vivem em tais espaços das grandes e médias cidades do País. E diga-se de forma clara, a demanda que sustenta o tráfico de drogas não vive na periferia.

Por isso, é dever do Estado e, principalmente, dos governantes refletir antes de verbalizar absurdos que autorizam de forma expressa o extermínio de jovens, na maioria negros e pobres, como estamos assistindo, pois como ensinam os profissionais da comunicação, a mensagem é aquilo que se entende, e não o que se diz.