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Lira Neto:

A 28ª Feira do Livro terá como Patrono o escritor e jornalista Lira Neto e como Escritor Homenageado o poeta santa-cruzense Mauro Ulrich. O tema “Ler te liga” foi o slogan escolhido como o norteador da Feira deste ano, indicando a leitura e a literatura como elemento de integração com a realidade e com a ficção; integração com diversas áreas como música, artes visuais, teatro e, ainda, se aproximando do público jovem, com uma linguagem bem conhecida e utilizada por eles. Em entrevista ao Riovale Jornal, o Patrono Lira Neto nos fala um pouco sobre sua carreira e experiências vividas por ele. A Feira do Livro ocorrerá de 11 a 20 de setembro, numa realização do Sistema Fecomércio-RS/Sesc, da Unisc e da Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Sul, no Parque da Oktoberfest.

Riovale Jornal – Quando você passou a escrever e o que lhe motivou a isso?
Lira Neto – Sou jornalista de profissão e trabalhei em redação de jornal até 1999. Depois disso, gradativamente decidi arriscar uma carreira de escritor profissional, unindo duas grandes paixões: o jornalismo e a história. Meu primeiro livro de circulação nacional foi publicado em 2004, a biografia do marechal Castello Branco (“Castello: A marcha para a ditadura”, Editora Contexto). Creio que escrever biografias foi a forma que encontrei de continuar sendo essencialmente um repórter, porém com mais tempo para apurar e com mais espaço para escrever, digamos, minhas “reportagens”. Todos os meus livros são isso: reportagens de longo fôlego. A diferença é que, em vez de trabalhar com o cotidiano e o tempo presente, dedico-me hoje a entender os processos de construção da memória.

RJ – Qual o livro mais marcante que já leu até hoje?
LN – Difícil citar apenas um livro marcante. Na infância, fiquei fascinado com “A chave do tamanho”, de Monteiro Lobato, autor que me iniciou como leitor. Na juventude cursei Letras e Filosofia, quando consumi principalmente os grandes clássicos da literatura brasileira e universal. A partir de certo momento, devorei a literatura norte-americana do século XX. Hoje, prefiro ler livros de não-ficção. Entre os meus autores prediletos estão Gay Talease e Norman Mailer. No Brasil, tivemos Joel Silveira, um mestre do gênero jornalístico.

RJ – Quando sua escrita virou profissão?
LN – A partir da publicação de “O Inimigo do Rei: Uma biografia de José de Alencar” (Globo, 2006), fui paulatinamente me afastando do jornalismo cotidiano. Ainda passei alguns anos conciliando o ofício de escrever livros com o de repórter free-lancer, trabalhando eventualmente para vários jornais e revistas do país. Contudo, desde o lançamento de “Padre Cícero: Poder, fé e guerra no sertão” (Companhia das Letras, 2009), passei a trabalhar exclusivamente em meus livros. Escrevi os três volumes da biografia de Getúlio, por exemplo, ao longo de cinco anos, em regime de dedicação exclusiva.

RJ – Qual seu escritor favorito?
LN – Assim como é impossível eleger um único livro, também é temerário apontar um só autor de preferência. Mas, se fosse obrigado a citar apenas um deles, eu cravaria o nome de Graciliano Ramos. Ou, quem sabe, Lima Barreto.

RJ – Qual a sensação de se deslocar a uma superfície comercial e ver suas obras à venda?
LN – Escrevo para ser lido. E vivo dos livros que escrevo. Adoro frequentar as listas dos mais vendidos. É gratificante saber que há tanta gente disposta a gastar tempo e dinheiro com meu trabalho.

RJ – De onde vêm seus personagens? São inspirados em pessoas reais ou imaginárias?
LN – Não escrevo obras de ficção. Não tenho a imaginação criadora dos romancistas. Como jornalista, trabalho com aquilo que convencionamos chamar de “fatos”. Apesar disso, sempre tenha em mente que qualquer narrativa, inclusive a histórica, é necessariamente uma reconstrução dos tais “fatos”.

RJ – Quantas obras já publicou? Qual seu próximo livro?
LN – Tenho dez livros publicados e, atualmente, estou mergulhado na pesquisa para um novo trabalho, a sair em 2017. Mas isso ainda é segredo absoluto.

RJ – No seu entender, qual é o papel da escola e da família na formação do leitor?
LN – O papel da escola é fundamental. Mas, às vezes, a instituição escolar trabalha no sentido contrário ao da efetiva formação de leitores. Isso ocorre quando, por exemplo, professores obrigam crianças e jovens a lerem clássicos como Machado e Alencar, escritores fundamentais, antes da hora adequada. Sou contra as famigeradas fichas de leitura, a leitura como obrigação. Detesto a ideia de “incentivar o hábito da leitura”. O ato de ler não deve ser encarado como um “hábito”, igual ao de escovar os dentes ou lavar as mãos antes e depois das refeições. Leitura é prazer.

RJ – O que o bom livro precisa ter?
LN – A capacidade de dialogar com o leitor. Livro bom é livro lido.

RJ – Qual sua opinião em relação ao futuro do jornalismo, em termos de jornal impresso x jornal digital? E o mesmo sobre os livros?
LN – Creio que estamos vivendo um momento extraordinário, no qual não há mais o monopólio da informação por meio dos grandes conglomerados editoriais. Isso vale para o jornal, mas também para o livro. Na verdade, não me interessa se o suporte no qual a palavra escrita vai chegar ao leitor do futuro vai ser o papel ou a tela de um tablet. O que temos de entender é que hoje, para o bem e para o mal, se tornou impossível qualquer controle sobre os fluxos de informação.  

RJ – Como você avalia o fato de ser o patrono da 28ª Feira do Livro?
LN: Para mim, é uma experiência singular. Estou muito honrado – e extremamente feliz com o convite.

Divulgação/RJ

Lira Neto: “Livro bom é livro lido”

Raio X do Patrono

Lira Neto, 51 anos, jornalista e escritor. Vencedor quatro vezes (2007, 2009, 2013 e 2014) do Prêmio Jabuti de Literatura e uma vez (2015) do Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), sempre na categoria Biografia. Graduado em Comunicação Social-Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), também cursou Filosofia na extinta Faculdade de Filosofia de Fortaleza (Fafifor) e Letras na Universidade Federal do Ceará (Uece). Já colaborou com algumas das mais importantes publicações da imprensa nacional, a exemplo dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Brasil Econômico.
Tem vários livros publicados, entre os quais: “Getúlio (1945-1954): Da volta pela consagração popular ao suicídio” (Companhia das Letras, 2014); “Getúlio (1930-1945): Do governo provisório à ditadura do Estado Novo” (Companhia das Letras, 2013); “Getúlio (1882-1930): Dos anos de formação à conquista do poder” (Companhia das Letras, 2012); “Padre Cícero: Poder, fé e guerra no sertão” (Companhia das Letras, 2009); “Maysa: Só numa multidão de amores” (Globo, 2007); “O Inimigo do Rei: Uma biografia de José de Alencar” (Globo, 2006); e “Castello: A marcha para a ditadura” (Contexto, 2004).