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O fim do mundo ao contrário

Dois mil e onze quase chegando ao fim e com ele avivam-se as conversas sobre o final do mundo em dois mil e doze.  Para minha alegria, os comentários são mais bem humorados do que catastróficos. Dia desses recebi de um amigo um vídeo de uma entrevista concedida pelo Eduardo Galeano a um grupo de jovens durante um acampamento em Barcelona.
O Galeano sabe como poucos a medida da acidez e da leveza das palavras. Para o poeta, esse é “um mundo ao contrário”, mas não é o único mundo possível. Vivemos num mundo infame, um mundo mal nascido, diz ele. Mas existe um outro mundo na barriga deste. Um mundo diferente e de parto complicado. Não é fácil o nascimento, mas com certeza, pulsa no mundo que estamos. “Um mundo que pode ser, pulsando no mundo que é”.
Talvez, nas palavras do Eduardo Galeano possamos encontrar uma explicação mais “sentipensante” para este fim do mundo. Quem sabe este outro mundo que pulsa no ventre deste “mundo ao contrário”, possa pular de lá. E se o parto for muito difícil, que percamos a mãe e que apenas o filho sobreviva. Utópico? Sem dúvida!! Mas a utopia é necessária para que possamos viver num mundo de tantas desigualdades. Pois no mundo em que vivemos, neste “mundo ao contrário”, restam poucas opções entre a utopia e a conformidade.
Em dois mil e cinco escrevi um pequeno artigo intitulado “Fórum de Quixotes”. Lembro-me de escrever o texto a punho, sentada na Estação Rodoviária de Porto Alegre, retornando do Fórum Social Mundial, onde havia participado, entre tantos debates, de uma mesa composta por ninguém menos que Eduardo Galeano, José Saramago, Inácio Ramonet, Frederico Zaragoza e Luiz Dulci. O tema da discussão era “Quixotes hoje: utopia e política”.
Naquele momento, ao falarem sobre utopia, tanto Galeano como Dulci, foram enfáticos em dizer que a utopia não precisa ter função, ela precisa é produzir tensão para que a humanidade não se acomode, para que não nos conformemos com as desigualdades, com as injustiças, a violência, a miséria, a fome e a discriminação. Se a utopia tem alguma função, é a de nos fazer caminhar, ou seja, não nos deixar inertes frente às injustiças que vivemos, diz Galeano.
Em dois mil e doze o Fórum Social Mundial vai estar fisicamente pertinho novamente e, diferente do que muitos fazem parecer, o Fórum não é só festa, pois as intenções são sérias e os debates necessários. Quem sabe a presença do Fórum aqui possa ajudar a reacender as utopias de Quixotes muitas vezes cansados com a andança cotidiana.
Se for para este mundo acabar, que outro muito mais bacana possa se acender em nossos corações e em nossas ações. Um outro mundo é não só possível como absolutamente necessário. Que venha 2012, que venha o Fórum Social Mundial, que venham os sonhos e as ações para o fim deste “mundo ao contrário” e inicio de outro mundo, mais solidário e igualitário!!

* Professora Universitária e Contadora de Histórias