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O homem inteiro

Uma das coisas que aprendi com meu inesquecível professor e diretor Hardy Elmiro Martin, do Colégio Mauá, foi que a gente nunca deve enfeitar-se com penas alheias. Por isto, vou logo dizendo que me inspirei no artigo de Leandro Karnal, publicado no fim de semana passado.

De lá, retiro a citação da australiana Bronnie Ware, autora do livro Antes de Partir, que faz uma reflexão sobre os cinco arrependimentos: “1) Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que outros esperavam de mim; 2) Eu gostaria de não ter trabalhado tanto; 3) Eu gostaria de ter tido coragem de expressar os meus sentimentos; 4) Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos; 5) Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz”.

Na verdade, Karnal se debruça sobre vida e morte do ser humano, refletindo sobre a existência, garimpando uma frase muito profunda de Dostoiévski em seus Contos Reunidos: “O homem é inteiro apenas no futuro”, indicando talvez que nossa memória vá se juntar à biografia.

Na evolução da reflexão, traz o pensamento brilhante do Padre Antônio Vieira (1670) em o Sermão da Quarta-Feira de Cinzas: “A morte tem duas portas: uma porta de vidro, por onde sai a vida; outra porta de diamante, por onde entra a eternidade. Entre as duas portas se acha, subitamente, um homem no instante da morte sem poder tornar atrás, nem parar, nem fugir, nem dilatar, senão entrar por onde não sabe e para sempre”.

Talvez as circunstâncias que estamos vivendo com o coronavírus estejam dando ensejo para reflexões mais profundas sobre a vida e suas circunstâncias e a fugacidade do tempo. E tudo isso escapa de nossas mãos com a areia da praia, mostrando-nos que nada nos pertence e que somos participantes do teatro da existência.