Nos meios esportivos das últimas semanas muito se falou sobre a irresponsabilidade do ex-jogador da seleção brasileira, Adriano, reverenciado como “o imperador da Roma”. A imprensa e o povo em geral, não conseguem entender como um jogador tão famoso e com generosa conta bancária, acabou “caindo na gandaia” e desperdiçando uma vida aparentemente feliz. O que mais se ouve é gente atirando pedra e criticando a irresponsabilidade do atleta.
Faz poucos dias, um programa esportivo de uma rádio de Porto Alegre entrevistou um repórter de uma rede de televisão do Rio de Janeiro. O entrevistador perguntou maliciosamente sobre a situação do Adriano, interrogando o repórter carioca sobre o período em que o Flamengo ainda iria agüentar as recaídas do atleta. O repórter carioca deu uma resposta que deixou o entrevistador gaúcho calado e, certamente, envergonhado.
Disse o carioca: “O Adriano deve ser encarado como um doente e não como um irresponsável. Ele é alcoolista e assim deve ser tratado. Se ele estivesse com câncer todos estariam formando corrente de pensamento positivo para que se recuperasse. Já que está com a doença do alcoolismo nós o condenamos de maneira preconceituosa. O problema é que a sociedade ainda não entendeu que o alcoolismo é uma doença igual ao câncer, e se não receber o devido tratamento, vai levar à morte”.
O gaúcho agradeceu a entrevista, chamou os comerciais e eu desliguei o rádio.
Confesso que nunca fui fã do jogador Adriano. Nas poucas vezes que o vi jogar quase sempre torci contra ele. Mas agora comecei a torcer por ele. Torço para que se recupere e consiga ajudar muitas outras pessoas a vencerem a doença do alcoolismo.
Nós temos muitos Adrianos em nossas comunidades, com a diferença de serem pessoas de menos fama e, normalmente, com salário bem mais apertado. São aquelas pessoas que não conseguem passar um dia sem ingerir álcool ou que não tem domínio sobre si quando vão às festas. Aquelas pessoas que tem intensa vida social, onde o álcool sempre marca presença, seja isso na forma de cerveja, vinho, cachaça, whisky, amarula, conhaque ou qualquer outro drinque.
Pessoalmente tenho alguns amigos que eram alcoolistas e, felizmente, se recuperaram. Tenho também outros amigos, familiares e pessoas próximas a mim que ainda não aceitaram sua doença e por isso não estão se tratando. Conheço pessoas que “estão no fundo do poço” e não vai demorar muito para que me chamem para fazer o seu enterro.
Enquanto isso nós (também eu) continuamos a favorecer a proliferação do vírus da doença do alcoolismo. Motivamos as pessoas a beberem em nossas promoções, porque é nisso que está o lucro da festa. As comunidades competem entre si para ver quem vai conseguir vender mais cerveja na festa. Um dos itens apontados como sucesso da última Oktoberfest foi a venda de mais de 140 mil litros de chope. Ficamos felizes quando as pessoas bebem, e jogamos pedra nas pessoas depois que elas se tornaram dependentes. Será que também isso não é uma doença?
Que a enfermidade do ex-imperador da Roma, Adriano, nos ajude a sermos mais conscienciosos no combate ao vírus que leva as pessoas a adquirirem a doença do alcoolismo! E que sejamos mais acolhedores com aquelas pessoas que foram atacadas por este vírus, que na maioria das vezes, é letal.
* Padre em Linha Santa Cruz ([email protected])














