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Quem não cola não sai da escola?!

Final de ano letivo sempre traz consigo (sei que não apenas pra mim), além do cansaço físico, muitos orgulhos (que até amenizam a canseira) e preocupações. Para os que, como eu, dedicam-se à docência, as preocupações giram muito em torno dos aprendizados – se ocorreram de fato, se ocorreram na medida em que esperávamos. Essa é uma preocupação que sempre me leva a repensar a prática docente, sobretudo a minha prática docente.
Dia desses assisti um vídeo do youtube chamado “Garoto folgadão canta Geração Copy Cola”. O vídeo já é antigo e muitos já devem tê-lo visto, é uma paródia da música “Geração Coca Cola”, da Legião Urbana. A letra começa assim: “Meu pai só tinha a enciclopédia, pra se virar e estudar / Olha galera que coisa comédia, tinha que ler e pesquisar/ Desde pequenos temos internet, é mais legal, mais racional/ A gente acha no Google e depois nem lê, só teclar em Ctrl+A e depois Ctrl+V/ Somos os filhos da evolução, já nem sabemos escrever à mão/ Somos o futuro da nação, geração copy e cola! / Vou passar 20 anos na escola, sem estudar pra aprender/ Não é difícil imaginar o nível profissional que eu vou ter […]”.
Posso parecer “careta”, mas me preocupo mais do que me divirto com esse vídeo. A geração copy e cola está aí, nas escolas, nas Universidades, em todos os níveis de ensino. Não dá para jogar o jogo do “faz de conta que eu não sei nada sobre isso”, é preciso reconhecer que as novas tecnologias ajudam, mas que o mau uso das mesmas atrapalha (e como atrapalha!). 
Lembra daquele ditado que diz, “quem não cola não sai da escola”?! Continua valendo, o que mudou foram as técnicas e recursos de colagem nos trabalhos e provas. Na geração copy e cola muitos nem ao menos leem o que copiam e colam e entregam trabalhos escolares e acadêmicos sem pé nem cabeça.
Preocupo-me não porque apenas leem pouco, pesquisam quase nada, mas porque parece que muitos (não gosto de generalizações, são muitos, mas não são todos!) perderam o desejo de aprender, pois aprender requer esforço em alguma medida. Esforço de estar atento e, quando em sala de aula, deixar outras coisas de lado (celulares, notebooks, ipads, iphones, esmaltes e lixas de unhas), para estar na relação com os colegas, com os professores, com os conteúdos.
Não quero com isso parecer retrógrada ou ingênua. Ao contrário, concordo com Pedro Demo (2004), quando diz que a aula, por si só, não garante qualquer aprendizagem, uma vez que todas “são da ordem da instrumentação da aprendizagem, [por isso] não podem substituir o esforço de pesquisa e elaboração própria do aluno”. Se a aula garantisse aprendizagem, ao término de um bimestre, ou semestre, todos nossos alunos tirariam exatamente a mesma nota, uma vez que todos assistiram às mesmas aulas. Mas não é assim, a aprendizagem se dá a partir de um processo de elaboração individual.
Com isto não estou dizendo que nossas aulas não ensinem. A aula dá condições para o aprendizado, mas aprender é um processo de construção subjetiva. É claro que o empenho do professor no processo de ensino é fundamental, mas isso por si só não garante o aprendizado dos estudantes, é preciso que o aluno seja também sujeito de sua própria aprendizagem.
Quem não cola sai da escola sim. Igualmente é verdade que quem cola também sai da escola, mas como diz o garoto folgadão, não é difícil imaginar o nível profissional que vão ter.

*Professora Universitária e Contadora de Histórias