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“Sei que nada sei”

Considerei oportuno citar talvez a mais conhecida frase do filósofo grego Sócrates, para servir de baliza desta reflexão, pois em tempos obtusos que estamos vivendo, o grande filósofo deve servir de referência, para ao menos poder dizer que não podemos cometer erros que já são por demais conhecidos na caminhada da humanidade. Somente para lembrar, Sócrates foi condenado à morte no século III A.C. pela aristocracia grega, pois foi considerado subversivo e por atentar contra os deuses, mas deixou um legado filosófico que a truculência não conseguiu apagar. Só isto, por si só justifica a importância da filosofia e da sociologia na vida acadêmica de qualquer profissional.

A visão utilitarista da educação formal sempre surge com governos autoritários, o que aliás não foi diferente no pós-1964, o golpe que insiste em não ter fim, pois também neste período, as ciências humanas praticamente foram banidas dos bancos escolares, sob o argumento de que precisávamos formar mão de obra qualificada, ou melhor, como se dizia à época, adestrada para construir pontes, prédios e etc.

A formação filosófica e sociológica deve servir de base para desenvolver nossa capacidade de perguntar, pois este foi outro legado de Sócrates, quando ensinou que saber perguntar é mais importante do que já saber todas as respostas. Pois antes de sermos bons médicos, engenheiros, advogados, ou qualquer outro ofício, devemos ter uma formação humanística sólida, que possibilite o exercício ético da atividade profissional escolhida. Ou seja, as ciências humanas têm sido, no caminhar lento da humanidade, a fonte onde se busca permanentemente o aperfeiçoamento das relações humanas. Onde conceitos como paz, direitos humanos, meio ambiente saudável, igualdade entre gêneros, respeito às diferenças, são conquistas humanitárias que foram se tornando costumes e posteriormente regramentos legais. Não fosse assim, a tortura ainda seria algo aceitável em nossos dias.

A escola antes de oferecer formação profissional, o que é muito importante, deve formar pessoas humanas melhores, que tenham capacidade de compreender seu papel na sociedade. Não concordo muito com a tese de que educação se traz de casa, pois é condenar os infortunados sem lar consolidado à desventura eterna. É na escola que devemos ter a oportunidade de reverter mazelas que a vida proporcionou para muitos, e não é possível cumprir tal missão sem a compreensão do todo.

Por fim, considero que qualquer reforma educacional deve ser pensada a partir do método que estimule o estudante na busca do conhecimento, e que a formação proveja o indivíduo de elementos que lhe deem capacidade de julgamento sobre todos os atos de sua vida, inclusive sobre sua vida profissional.