Poderia afirmar aqui, para a satisfação de um maior número de leitores, que a data de 30 de junho, domingo, foi marcante para mim e a esposa, assim como para a maioria dos brasileiros, devido à conquista do título da Copa das Confederações pela Seleção Brasileira de Futebol. No entanto, este dia reservou emoções muito mais fortes e significativas que a conquista de mais um título de nossa seleção canarinho.
O acontecimento a que me refiro, talvez, já estava escrito nas estrelas há mais de dez anos, quando, porém, nem o mais otimista dos visionários pudesse prevê-lo. De um ano e meio para cá, eu mesmo já o esperava. Mas, foi a partir do final de dezembro de 2012, quando da ordenação diaconal do seminarista Marcelo Carlesso, que comecei a desejar vivenciar este momento especial que este final de semana reservava.
Se assim não o desejasse, seria apenas mais um domingo como tantos outros: levantar cedo, ir à missa; à tarde, um futebol na TV ou no interior. Mas resolvemos que seria diferente. Levantar mais cedo, desta vez, era preciso. Ir à missa era um compromisso inadiável. Porém, tinha de ser aquela missa, naquela hora e naquele lugar. E com este propósito, rumamos a Ilópolis. Percorrermos 140 Km para assistir à santa missa. Seria, obviamente, uma missa especial. A Missa de Ação de Graças do ex-seminarista e amigo, agora Padre Marcelo Carlesso, ordenado na sexta-feira, 28 de junho.
Como não pudemos acompanhar a excursão para a ordenação, fizemos questão de subir à região serrana da Diocese para participar daquela que já seria a segunda missa do mais novo sacerdote da Diocese de Santa Cruz do Sul.
Pessoalmente, ainda não conhecíamos a cidade de Ilópolis, mas tivemos a alegria de conhecer, há pouco mais de dez anos, um jovem estudante secundarista que disse que era natural daquele município. Foi por ocasião de uma visita do Seminário de Arroio do Meio à Paróquia da Ressurreição, Comunidade a qual pertencemos.
Na ocasião, nos prontificamos de acolher alguns dos jovens seminaristas em nossa casa. Só veio o motorista e um menino, aparentemente tímido. Enxerguei naquele estudante, a realização de um sonho que eu alimentava na minha adolescência e não tivera a oportunidade de concretizar: estudar num Seminário.
Durante o café da manhã, na tentativa de desfazer a timidez do menino, dirigi-lhe uma pergunta que, certamente, lhe soou forte, mas não ficou sem resposta. Talvez, foi a mesma pergunta que algum Orientador Vocacional do Seminário já lhe tivesse feito. Perguntei se estava no Seminário para seguir os estudos ou se realmente desejava ser Padre. O menino não titubeou: “Quero ser Padre”. O seu jeito sincero de ser e a sua convicção na resposta não deixaram dúvidas. Era cedo, porém, para tirar conclusões.
No ano seguinte, durante uma visita ao Seminário, a convite de um casal de amigos nossos que tinha um filho estudando lá, junto ao grupo de seminaristas estava ele. Antes que eu o cumprimentasse, ele me cumprimentou e disse que era o Marcelo. Aquele que dormira lá em casa.
A alegria daquele encontro só se repetiria anos depois, quando aquele ”menino tímido” cursava a Filosofia na UNISC e trabalhava na loja da Mitra, onde eu buscava subsídios para as minhas aulas de Ensino Religioso e de Catequese, onde pude, muitas vezes, contar com a sua preciosa ajuda.
Os anos passaram, e o menino, na verdade já não mais tão tímido, foi cursar a Teologia e voltou a Santa Cruz para realizar o seu trabalho de diaconato, antes da ordenação sacerdotal. Apesar de estar por perto, não o visitamos, depois de participarmos da ordenação diaconal em dezembro. Esperávamos a ordenação sacerdotal ou a primeira missa.
E valeu a pena esperar. Domingo pela manhã, fizemos questão de estarmos lá em Linha Santo Antão, interior de Ilópolis, Comunidade onde a vocação do Padre Marcelo brotou, em meio a pinheiros e plantações de erva-mate. Um local muito bonito!
Parte do relato aqui descrito, poderia tê-lo feito lá, naquele momento, mas por algum motivo não o fiz. Talvez, porque, em vários momentos, a emoção não o permitiu. Em outros, um pouco de timidez me fez silenciar. Engraçado, o tímido, agora, era eu, embora pudéssemos nos sentir muito bem acolhidos no meio daquelas pessoas todas desconhecidas, com exceção dos padres que por lá estavam.
Durante o sermão do Padre Marcelo, qual não foi a surpresa, quando ele, ao perceber a nossa presença, lembrou a todos da presença do casal de amigos de Santa Cruz. Uma mistura de orgulho e emoção nos envolveu. Na doçura de suas palavras, especialmente escolhidas para aquele momento, até o mais endurecido dos corações estremeceria. Em sua fala, a transmissão de uma mensagem de amor, paz, fé, esperança, carinho, ternura, humildade e perseverança que o mundo tanto precisa.
Por um instante, lembrei de João Batista, que “falava com ternura de amor a seus irmãos”. Nas palavras e no gesto do Padre Marcelo, ao se colocar a serviço de Deus e dos irmãos, o exemplo para quem, no dia a dia, exerce funções de liderança e, por vezes, o faz com arrogância e prepotência, humilhando, pisando e ignorando quem lhe é próximo, em vez de enxergar a oportunidade para mostrar a estas pessoas o seu talento, ajudando com sua experiência e inteligência a quem precisa.
Lembrei também, naquele instante, de uma passagem bíblica, onde Jesus fala a seus discípulos, que toda vez que damos de comer a quem tem fome; damos de beber a quem tem sede; acolhemos em nossa casa quem é estrangeiro, que é a Ele que o fazemos. Impossível não pensar que, ao acolher aquele menino em nossa casa, que não pudesse ter sido Jesus, na pessoa daquele menino, a quem estávamos acolhendo.
Que o exemplo de fé e perseverança do Padre Marcelo possa nos servir de exemplo e inspire os jovens de hoje, às vésperas da Conferência Mundial da Juventude, a meditar sobre sua vocação e o papel que lhes cabe neste mundo. Vida longa ao Padre Marcelo e, que no seu trabalho de evangelização, possa inspirar muitos jovens, que a exemplo dele, tenham a coragem de dizer o seu SIM a Jesus Cristo, em prol de um mundo melhor para todos.
*Professor














