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Workshop: Processo educativo é essencial no esporte

A segunda e última noite de palestras no Workshop de Esportes ocorreu na sexta-feira, 28 de setembro, na Câmara de Vereadores. No início da programação, o Centro Social Marista Boa Esperança realizou apresentações de música e dança. “A música também é uma aliada para promover a inclusão social”, disse o diretor do ‘Riovale’, André Felipe Dreher, na abertura da programação de sexta.

CRISTINA WEIGEL E HENRIQUE WENNING

Os professores do Colégio Mauá, Cristina Weigel (ginástica artística e de trampolim) e Henrique Wenning (atletismo), realizaram a primeira palestra da noite. Eles evidenciaram que, no Mauá, o processo educativo está intimamente ligado à cultura e ao esporte. O educandário desenvolve atividades em diversas modalidades esportivas, além de contar com uma estrutura física ampla ligada ao esporte. A principal competição disputada pelo Mauá é a Olimpíada Nacional da Rede Sinodal de Educação (Onase), da qual o colégio santa-cruzense sagrou-se campeão em 2018 nas modalidades atletismo e xadrez.
Segundo os professores do Mauá, a formação humana do atleta/aluno é a base do trabalho, sem cobrança de resultados, embora sejam identificadas potencialidades. O pódio é considerado um bônus. O Mauá desenvolve projetos sociais para jovens dos bairros, como o Nosso Vôlei e o Evoluir Atletismo.

PATRÍCIA MOLZ

Outra palestra do Workshop foi feita pela coordenadora do futebol feminino do Avenida, Patrícia Molz. “Fazer futebol não é tão fácil quanto a gente acha enquanto torcedora”, explica ela. Patrícia afirma que as dificuldades são grandes e que “é preciso muito amor” nesse trabalho. Ela disse que é apaixonada por futebol desde criança. Fez parte da equipe “Futebol com batom” e depois foi uma das fundadoras de outro time, o “Phoenix”. Patrícia relata que já tentou vários patrocínios para suas equipes e ouviu muitos “nãos”.
Em 2016, ela propôs ao Avenida a criação de uma equipe feminina, e a ideia foi aceita. No alviverde, 80% das jogadoras possuem entre 12 e 20 anos de idade. Muitas das meninas são de comunidades carentes. Patrícia acredita que o futebol feminino precisa de mais apoio, da mídia inclusive. Ela aponta que o preconceito existe, mas a realidade “pode mudar”.

FLÁVIO RAMON

Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), o psicólogo com especialização na área esportiva Flávio Ramon disse que uma política esportiva mais clara se faz necessária. Segundo ele, isso vale para as três esferas do poder (municipal, estadual e federal). Ramon entende que a criança busca no esporte as seguintes prioridades: 1) Diversão; 2) Socialização; 3) Desafio. Portanto, conforme Ramon, o esporte deve ser uma atividade prazerosa para a criança, e não deve ficar entregue à ‘Síndrome de Bernardinho’, esta caracterizada pela cobrança excessiva.
Ramon entende que a atividade esportiva é essencial para combater o sedentarismo e a obesidade. “A maior parte da população brasileira é sedentária. Isso é um grande problema”, frisa Flávio Ramon.

MÁRCIO CHAGAS

Educador físico, ex-árbitro de futebol e atualmente comentarista da RBS TV, Márcio Chagas lembra que foi bolsista em escola particular. “Através do esporte, mudei o panorama da minha vida”, relata. Chagas começou jogando basquete e jogou contra o forte Corinthians de Santa Cruz do Sul nos áureos tempos do Tricolor. Assistiu à final do Brasileiro de 1994, quando o Corinthians foi campeão sobre Franca. Depois se direcionou como árbitro de futebol. Em relação aos tempos de bolsista em escola particular, disse que não se sentiu à vontade. Chagas entende que o aluno deve ser bem acompanhado pelos educadores, no sentido de formar o cidadão.
O comentarista diz que o futebol ainda é muito machista e tem se tornado cada vez mais elitista. Conforme Chagas, um curso de arbitragem custa em torno de R$ 5 mil, e as arenas recém construídas refletem uma pirâmide social, em que o dirigente fica em posição superior e privilegiada na comparação com o restante do público.
O ex-jogador e comentarista Paulo Sereno, presente no Workshop, dialogou com Chagas. Sereno lembrou de sua experiência como jogador do Guarani de Campinas (SP), que custeou sua educação. Paulo Sereno apontou a queda na condição técnica dos jogadores de futebol brasileiros, pois existe uma superficialidade nas avaliações, inclusive da imprensa, com o qual Chagas concordou.

DOGIVAL DUARTE

“Antes se dizia: ‘A juventude é o futuro do país’. Hoje não se diz mais isso”, destacou, em sua palestra, o diretor da Rádio Santa Cruz, Dogival Duarte. De alguma forma, esse vazio traz uma certa desesperança. Dogival entende que o esporte não serve apenas para formar um Messi ou um Pelé, mas ajuda também a construir trajetórias pessoais. O diretor da Rádio Santa Cruz diz que a receita da felicidade está em fazer e viver a vida. Segundo ele, o sucesso “bombástico” não é algo necessário. “A felicidade está nas pequenas coisas.”
Conforme Dogival, “é no pequeno grupo que se encontra a felicidade”. Isso se reflete em aspectos como: saber conviver em grupo; o bom relacionamento e fazer amigos. Lapidar e sofrer são elementos pelos quais precisamos passar, segundo Dogival.

MARÍLIA JOSEFIAKI

Presidente do Santa Cruz Chacais, Marília Josefiaki lembrou que o time de futebol americano foi criado em 2007, por jovens que estudavam no Colégio Mauá. Atualmente, o Chacais possui categoria masculina e feminina. A equipe de mulheres (time da modalidade ‘flag’) ficou com o vice-campeonato gaúcho em 2018.
Marília conta que o time sub-19 é uma das grandes prioridades do Chacais, visando a inclusão social. O clube possui um bom relacionamento com as escolas municipais e estaduais. Ela afirma que o futebol americano não é discriminatório, pois todos os biotipos são valorizados.
“Quando um atleta entra no Chacais, ele vai ser apoiado no que precisar”, assegura Marília. Cerca de 60% do grupo é formado por pessoas de baixa renda, e o clube quer fazer a diferença na vida dessas pessoas. Conforme Marília, os jovens são instruídos com valores para construção do caráter, e o sentido de cooperação é uma marca do clube, procurando formar uma família.

JOSÉ DE ABREU

A Associação de Futebol Amador de Santa Cruz do Sul (Afasc) reúne os clubes dos bairros da cidade. O presidente da entidade é José de Abreu, que destaca aspectos como magia, emoção e paixão para fazer futebol. A Afasc existe desde 2012 e realiza a Copa Cidade, retomando o antigo Campeonato Citadino, que havia sido interrompido na década passada. O trabalho é desenvolvido por voluntários, que disponibilizam seu tempo para buscar suporte para a entidade.
“Vamos ser persistentes”, garante Abreu. A Afasc conta com 22 clubes filiados. “Fazemos um trabalho para todos.” Com a interrupção do Campeonato Citadino, na década de 2000, muitos não acreditavam que as atividades seriam retomadas, mas José de Abreu conseguiu reverter essa expectativa. Em 2018, a Copa Cidade contou com o patrocínio dos supermercados Miller, e agora está em disputa a Copa Afasc Master, com patrocínio da Kaiser. A Afasc também desenvolve atividades nas categorias sub-12 e sub-15, e no futebol feminino.