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A democratização da propriedade

Uma das questões que provocaram o golpe militar em 1964, foi a tentativa de reforma agrária por parte do governo de João Goulart. A ideia de redistribuir a terra, tratando de diminuir a concentração da mesma em poucas mãos, gerou indignação entre a elite e a classe média brasileiras, o que levou, entre outros fatores, à instauração da Ditadura Militar. A elite e a classe média entendiam que a redistribuição da terra era uma tentativa de implantar o comunismo no Brasil.
A ideia de uma sociedade igualitária, não é necessariamente uma intenção comunista. É só verificar as sociedades nórdicas, para perceber que, com base em mercado e também em políticas sociais, é possível diminuir as desigualdades. Claro, chegar ao mesmo nível de desenvolvimento nórdico é muito difícil, mas os exemplos de Suécia, Finlândia e Noruega podem servir de base para uma estruturação social mais justa.
A questão da propriedade em si é bem complexa, e já foi tema de análise de grandes filósofos, como o suíço Jean-Jacques Rousseau e o inglês John Locke. Rousseau entendia que a propriedade acabava com a liberdade e gerava desigualdade, prejudicando a possibilidade de soberania popular. Locke, por outro lado, acreditava que a propriedade era um fator que estimulava a liberdade. Diante de duas posições opostas e, acima de tudo, fundamentadas por dois grandes pensadores, fica difícil escolher apenas um lado.
Em uma perspectiva realista, é preciso dizer que, sim, a propriedade é um elemento importante da nossa sociedade. Os governos, em parceria com o mercado, devem possibilitar às camadas mais pobres o acesso à propriedade. Isto representa uma democratização das relações econômicas e sociais.