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Conhecimento da multidão aumentando resultados

Crowdsourcing é o que chamamos de produção social. É o ato de buscar no conhecimento que é gerado na internet, em especial nas redes sociais, as respostas que você precisa e dar um uso a elas. Para se ter ideia, os dois produtos, extremamente conhecidos e utilizados em larga escala no mundo, surgiram de iniciativas de crowdsourcing. São eles: Wikipedia e Skype.
Esta é uma década de guerra do crowdsourcing. Vimos o fim de todo o negócio de enciclopédias e o Skype, que demorou menos de uma década, para transformar a economia de conferências por áudio e vídeo. Mas o importante, no caso das empresas que utilizam o crowdsourcing, é deixar claro que a rede de colaboradores não é formada por trabalhadores convencionais. As pessoas trabalham movidas por uma série de motivadores, que não só o dinheiro. Pense no que representam sexo, drogas e rock’n roll para alguns aspirantes ao mundo artístico.
Os colaboradores podem ser pagos por hora de trabalho ou por produção. Outro modelo é o pagamento por ideia aproveitada. Isto não é novidade: consultorias e agências de propaganda encaminham propostas a clientes, que podem ser aceitas, e remuneradas, ou não. Hoje há ferramentas de baixo custo que permitem medir o esforço e o resultado do que os colaboradores entregam. E, se quem vai receber acha que o valor não é justo, há espaço para negociar.

O Brasil é muito aberto a novas tecnologias e à interação em redes sociais. As pessoas são abertas a testar, como aconteceu com a adesão em massa ao Orkut e com a forte participação dos brasileiros no Twitter. Há empresas brasileiras, como a Tecnisa e a Fiat, que têm grandes cases de desenvolvimento de produtos em colaboração com o público. Por isso sou otimista com relação ao crowdsourcing no Brasil.
As organizações que utilizam o crowdsourcing estão lidando com a necessidade de abrir na Internet seus planos e estratégias. Essa é a mesma dificuldade que uma empresa enfrenta quando anuncia que precisa contratar, por exemplo, especialistas na fabricação de sapatos, caso não seja do ramo. Isso diz ao mercado a mensagem de que ela está entrando nessa área. Mas nada impede que eu diga, na Internet, que estou desenvolvendo dez diferentes programas, quando na verdade estou interessado em apenas um deles. As corporações estão acostumadas a utilizar informações falsas como contraespionagem.
Ao mesmo tempo, quando um grupo decide investir em um novo setor, hoje em dia, ele tem avaliar se vale mais a pena passar três anos desenvolvendo tudo em segredo, com recursos próprios, ou fazer um anúncio e passar a contar com todo o conhecimento que está na rede, e que pode permitir que ela ganhe a corrida e ofereça os novos produtos e serviços muito mais rápido do que qualquer concorrente.
Existem vários projetos interessantes que surgiram nos últimos anos, baseados na colaboração da multidão. Temos, por exemplo, o ZocDoc, um site que permite fazer agendamentos online de consultas e agrega avaliações dos pacientes, para que possam identificar os melhores profissionais. O Duolingo, que oferece a possibilidade do usuário aprender uma nova língua enquanto, ao mesmo tempo, faz parte de um projeto para traduz a web. Tem o suporte técnico da HP, que faz com que os consumidores ajudem uns aos outros, como um exército de voluntários contra o suporte pago. Existem também projeto Life in a Day do YouTube, que pediu para que as pessoas gravassem seus próprios vídeos para que, ao final, o material fosse compilado e editado na forma de um documentário, entre outros exemplos.
O importante é que internautas devem ser parceiros na criação de produtos e serviços e as empresas devem tratá-los como colaboradores e deixá-los participar de todo o processo de criação de produtos e serviços.

*Shaun Abrahamson é sul-africano e fundador da Mutapo