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Diário da pandemia – maio, trabalho e literatura

Estamos em primeiro de maio de 2020. E quando maio chega, chegam as cerejas em Portugal e em outros países aqui da Europa. Então, maio acabou de chegar e já comi as primeiras cerejas da temporada. Estão uma delícia e vem muito mais delas por aí. Quero comer mais cerejas frescas do que no ano passado. Chega também o tempo do pêssego paraguaio, aquele achatado e do pêssego normal, redondo e avermelhado, e do damasco fresco e dourado. E continuamos a aproveitar o morango gigante e saboroso que aqui temos. A laranja, deliciosa e doce, parece ter o ano todo.

Maio será um mês melhor, se Deus quiser, num ano que começou tão terrível e foi ficando mais terrível ainda, até culminar em abril com o pico da pandemia, que esperemos esteja acabando e a curva possa, assim, começar a descer. Temos que ter esperança de que isso vai passar e ficar em casa o máximo que pudermos, para que realmente o pico tenha passado e não haja uma outra “onda”, como tem sido cogitado.

Então é dia primeiro de maio e é Dia do Trabalho. É feriado, mas qual a diferença, se todos os dias são iguais? É verdade que alguns governos estão liberando o confinamento para que o comércio comece a abrir e as pessoas possam voltar a trabalhar e a comprar, a partir da próxima semana. Mas não é só esses trabalhadores – os que ficaram em casa e vão voltar a trabalhar, ou os que já estão trabalhando na indústria, no comércio, nos serviços, etc., que quero homenagear. Quero homenagear, também, os nossos verdadeiros heróis, os trabalhadores da saúde, que estão lá, na trincheira de uma guerra insana, colocando suas vidas em risco, adoecendo e morrendo para defender a gente, para cuidar da gente. Eles são os reais heróis de sempre. Se existem heróis reais – e agora sabemos que eles existem, são esses trabalhadores que quase não dormem nem comem mais para tentar salvar vidas. Meu agradecimento a vocês, médicos, enfermeiros, trabalhadores de todos os níveis em hospitais, casas de saúde e também aqueles batalhadores anônimos que recolhem o nosso lixo, que limpam as nossas ruas, que não estão apagando fogo mas estão socorrendo os doentes, que estiveram sempre nos supermercados, nas farmácias, nas padarias, etc., que estavam e estão na rua para nos entregar encomendas, principalmente comida e artigos de primeira necessidade, para não deixar faltar nada para nós, que ficamos em casa para não sermos contagiados pelo coronavírus, inimigo invisível que está lá fora, traiçoeiro, para nos pegar. Meus aplausos, meu tributo, hoje e sempre.

E hoje é, também, o Dia da Literatura Brasileira. E eu, que amo literatura, mando daqui um grande abraço a todos os colegas dessa profissão tão solitária, a de produzir literatura, mas que por causa dela mesmo, acabamos nos aproximando, nós todos que escrevemos e fazemos parte dela. Parabéns a todos os escritores brasileiros, não importa o país onde estão, pois são eles que fazem a Literatura Brasileira ser mais viva e mais literatura. Neste dia para pensar, comemorar e valorizar a literatura do nosso país tupiniquim, façamos um pacto: vamos encontrar maneiras para divulgar a nossa literatura e a literatura de nossos pares, novas alternativas para incutir o gosto pela leitura em leitores em formação, encontrar novas maneiras de acesso à leitura, propiciar a aquisição do hábito da leitura, para que a nossa literatura brasileira seja mais conhecida e mais lida.

Hoje o dia esteve lindo em Lisboa, com bastante sol, e Rio, nosso neto de um ano, esteve lindo e feliz, rindo muito e gargalhando, até, para não deixar ninguém sorumbático, meditabundo, borocochô. Não costumo usar esses palavrões, mas é tudo que o Rio não deixa a gente ficar. De maneira que nesse dia primeiro não anotei a estatística do coronavírus de ontem, não vi televisão, apenas li dois jornais brasileiros de hoje com as notícias de ontem, trabalhei na edição comemorativa de quarenta anos revista literária SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA – e estou lendo um bom livro, “O Egípcio”, de Mika Waltari. Em e-book. E vou ler outros, que acabei acostumando a ler na tela de aparelhos como Notebook e tablets, por causa da revisão e edição de livros, revistas e jornais. Amanhã falo de pandemia.

Luiz Carlos Amorim – escritor, editor e revisor