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Ligas amadoras popularizaram o basquete santa-cruzense

Cosseno campeão da Liga Municipal de 2007. título foi o mais difícil e decidido em detalhe contra o Nem Aro – Crédito: Arquivo Pessoal Marcelo Denizar Martin

Tiago Mairo Garcia
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A passagem do técnico Ary Vidal e a formação dos grandes times do Corinthians nos anos 90 levaram os santa-cruzenses a colocarem o basquete como a sua principal modalidade esportiva. O clube tricolor, campeão brasileiro em 1994 e onze vezes campeão gaúcho (58, 83, 84, 86, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96) serviu de inspiração para que muitos jovens praticassem a modalidade nas escolas, situação que refletiu na formação de vários atletas para a prática do esporte. Com muitos talentos despontando na cidade, começaram a surgir outras equipes de Santa Cruz que passaram a participar do estadual de basquete, mas que após a competição, ficavam ociosos no restante do ano e sem a disputa de um campeonato para manter o ritmo de competição em nível adulto.

Essa situação começou a mudar a partir de janeiro de 1999. Através de uma iniciativa de Athos Calderaro, atual treinador do Stock Med/União Corinthians, foi realizada a primeira Liga de Verão de Basquete Adulto de Santa Cruz do Sul. Calderaro lembra que a ideia surgiu num bate-papo entre adeptos da modalidade. “A ideia surgiu em janeiro daquele ano. Como o estadual adulto de basquete era no segundo semestre, não tínhamos competição para jogar. Tínhamos um horário no Poliesportivo, onde muita gente ia bater bola, dava cerca de 20 a 25 atletas. Aí surgiu a ideia de fazer a Liga de Verão de Basquetebol”, contou Calderaro.

No primeiro ano, cinco equipes participaram, com jogos sendo realizados nas terças e quintas à noite no Ginásio Poliesportivo, com a competição ocorrendo nos meses de janeiro e fevereiro. “Participaram somente atletas da cidade que estavam em atividade disputando outras competições, jovens das categorias de base e veteranos que já haviam jogado pelo Corinthians. Juntaram três gerações e formaram equipes. Aí começou a surgir e deu certo”, lembra Athos, que organizou o campeonato. O primeiro campeão foi a equipe da Philip Morris. “A Philip Morris disputava os jogos do Sesi e tinha um time muito bom. Eles foram os campeões da primeira edição”. Também jogaram naquele ano as equipes do Sagrado Coração de Jesus, Toba, Bule Prefixos e Metalúrgica Mor. “A ideia era proporcionar o basquete para todos. Pode ter nível profissional, amador, de base, mas que haja basquetebol. A cidade respira basquete e precisava ter esse incentivo”, ressaltou.

O organizador recorda que a competição de 99 também auxiliou o esportista Carlos Alberto Oliveira, o Carlão, que era adepto da modalidade, a se tornar árbitro profissional de basquete. “O Carlão não tinha curso de arbitragem, mas era um amante do basquete e fez a arbitragem do campeonato no peito e na raça, e olha que apitar basquete é complicado. Depois surgiu o curso de arbitragem da Federação Gaúcha de Basquete e o Paulo Rocha indicou para ele fazer. Até hoje ele está como árbitro. O campeonato estimulou os adeptos na prática da modalidade e também uma pessoa para ser árbitro”, contou.   

Vendo que a competição organizada por Athos Calderaro tinha potencial para dar certo, a Prefeitura de Santa Cruz do Sul passou a organizar o campeonato a partir do ano 2000. O professor Paulo Rocha, que integra o Departamento de Esportes do Município, foi um dos incentivadores e passou a organizar a competição. “A partir do torneio organizado pelo Athos, foi fundada a Liga Municipal de Basquete em formato de liga para representar os clubes e fomentar o basquete de alto rendimento na cidade. Com incentivo do Poder Público e apoio dos times, a competição criou raízes e deu certo”, destacou Rocha.

Nos primeiros anos, a Liga Municipal contava apenas com equipes e atletas de Santa Cruz e após houve a liberação para atletas e equipes de outras cidades, com a competição se tornando uma das principais em nível amador do Estado. “Muitos jogadores profissionais que estão de férias vêm para Santa Cruz jogar. Hoje, a Liga Municipal de Basquete de Santa Cruz é a competição de melhor nível técnico que temos no Estado”, disse Athos. “A Liga Municipal fomentou o basquete de alto rendimento. Sempre tivemos uma média de oito a dez equipes participantes em todas as edições”, salientou Rocha.

COSSENO, O MAIOR CAMPEÃO

No primeiro ano da Liga Municipal, em 2000, novamente a Philip Morris conquistou o título ao vencer o Cosseno na final e se consagrar como primeira campeã. A partir de 2001 teve início a hegemonia do Cosseno, um dos mais tradicionais times amadores de basquete da cidade. O empresário Marcelo Denizar Martin foi atleta e um dos organizadores da equipe. Ele destaca que participou de todas as edições da Liga Municipal de Basquete. Sobre o início da equipe na competição, ele lembra que o Cosseno disputava o Campeonato de Futebol Sete do Clube União, mas como todos os membros eram adeptos do basquete, a equipe participou das primeiras edições usando o uniforme do futebol. “A gente pegou um uniforme do ano anterior do futebol em que cortamos as mangas das camisetas para fazer regatas de basquete, sendo o nosso uniforme nos primeiros anos de Liga Municipal”.

Sobre o primeiro título do Cosseno, obtido em 2001, Martin destaca que a equipe venceu o Sagrado Coração de Jesus na final disputada no Poliesportivo. “Vencemos a série por 2 a 0 e conquistamos nosso primeiro título”. Em 2002 e 2003, novamente a Philip Morris sagrou-se campeã, obtendo três títulos nos quatro primeiros anos de Liga. Entre os anos de 2004 e 2009, o Cosseno passou a ter a hegemonia ao vencer seis campeonatos consecutivos.  “Vencemos o Sagrado em 2004 e 2005; o Ernesto Alves de Oliveira, em 2006; o Nem Aro, em 2007, e o São Luís, em 2008 e 2009, sendo todos adversários bem competitivos”, lembrou. A hegemonia foi quebrada em 2010, quando o São Luís venceu o Cosseno em final disputada no Ginásio do Corinthians. “Se via que eram todos contra o Cosseno. O ginásio estava lotado, o São Luís tinha uma grande torcida e acabamos perdendo a final por 2 a 1 na série melhor de três jogos”. O último título da Liga Municipal do Cosseno foi conquistado em 2012, com a equipe obtendo oito títulos, sendo o maior vencedor. Martin também venceu a competição em 2016 com o Mauá Master, sendo um título marcante. “Não éramos favoritos, mas conseguimos vencer Lajeado na semifinal e derrotamos a turma de 86 na final, que eram favoritos. Foi uma grande zebra e o título mais inesperado”, destacou. 

Sobre a conquista mais marcante do Cosseno, Martin destacou o título de 2007 contra o Nem Aro, com uma cesta decisiva sua no segundo jogo. “O Nem Aro era um time forte. Eles haviam vencido o primeiro jogo e venciam o segundo jogo por dois pontos. Faltando quatro segundos, eles erraram o lance livre para ganhar o jogo, a bola caiu na minha mão, consegui atravessar a quadra, e com o cronometro zerando consegui fazer a bandeja e empatar o jogo. Fomos para a prorrogação, conseguimos vencer e no jogo três vencemos por dois pontos e nos consagramos campeões. Esse foi o título mais difícil que conquistamos”, salientou Martin. O time do Cosseno, nos títulos, foi formado com Marcelo Martin, Paulinho Ferreira, Ricardo Gordo, Ivo, Jeferson Gerhardt, Mutti, Marcião, Frida, Cruxen, Piru, Léo Assmann, Tiago Rauber, Digo, entre outros. 

Com os títulos da Liga Municipal, o Cosseno representou Santa Cruz nos jogos Intermunicipais do Rio Grande do Sul (Jirgs), com a equipe vencendo a disputa estadual em 2004 na cidade de Passo Fundo e 2008 em Santa Maria. Com os títulos estaduais, a equipe disputou os Jogos Abertos Brasileiros (Jabs) nesses anos. Nas disputas nacionais, a equipe foi eliminada na primeira fase. O Cosseno também disputou o estadual de basquete adulto de 2013, quando obteve o segundo lugar na fase classificatória, com oito vitórias e duas derrotas, sendo derrotado pelo Ceat Bira, de Lajeado, em semifinal, que acabou em confusão no segundo jogo disputado em Santa Cruz do Sul e que foi finalizado com a disputa dos últimos três minutos em Lajeado. “Vencemos Caxias lá com nove jogadores e por um ponto. Esse resultado nos deu a vantagem de decidir a semifinal em casa. Enfrentamos Lajeado e perdemos por cinco pontos no primeiro jogo e no segundo jogo, em Santa Cruz, estava empatado e terminou em confusão. Fizemos um acordo para não parar o campeonato e tivemos que jogar em Lajeado três minutos. Perdemos e eles passaram para a final”, salientou.

Após a disputa do estadual, o Cosseno acabou encerrando as atividades e não voltou mais para a competição, sendo o último ano em 2014, quando a equipe perdeu a final para o Sagrado. “O pessoal estava ficando mais velho e os que queriam seguir, fizemos uma fusão com o time do Athos e passamos a jogar com eles”. Ao avaliar a história da equipe na competição, Martin destaca que a Liga Municipal tinha o seu encanto. “Eu disputei mais de 25 estaduais, mas a Liga Municipal tinha o seu valor e o mesmo nível do estadual. As equipes se reforçavam com jogadores de Lajeado e Porto Alegre. O municipal era uma prévia do estadual e para nós foi um privilégio vencer tantos campeonatos. Hoje, os números do Cosseno são os números a serem batidos. São oito títulos, vários prêmios individuais e dificilmente alguém vai conseguir chegar perto devido ao equilíbrio que existe hoje no basquete local”, finalizou.

Com a Liga Municipal de Basquete consolidada, em 2014, Athos Calderaro idealizou a Liga de Verão, competição realizada nos meses de janeiro, fevereiro e março. A competição já teve sete edições, com a última sendo realizada em 2020, com o Sub-18 do União Corinthians sendo o campeão em final disputada contra o Cancheiros, no Ginásio do Corinthians, sendo a última competição amadora disputada antes da parada em razão da pandemia. Ao avaliar as competições e a trajetória da modalidade na cidade, Athos Calderaro pontuou a importância de se valorizar a história. “O basquete nunca saiu da cidade e do coração dos santa-cruzenses. Foi o único esporte que lotou o Poliesportivo e elevou Santa Cruz em nível nacional. Acredito que com a volta do União Corinthians e o fim da pandemia, vamos voltar a ver o Poliesportivo lotado com o basquete”, finalizou.