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Linha Santa Cruz conquista octa em final histórica

Linha Santa Cruz conquista octa em final histórica

Tiago Mairo Garcia
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Time do Linha Santa Cruz campeão do Cinturão 95/96 – Arquivo Pessoal/Aurélio Desbessel

Com sete títulos conquistados, sendo os últimos três de forma consecutiva, o Linha Santa Cruz era o time a ser batido pelos adversários no Cinturão Verde. O campeonato iniciou em 1995 e foi finalizado em 14 de julho de 1996, na localidade de Boa Vista, com o clássico entre Boa Vista e Linha Santa Cruz na final, sendo a última vez que o certame adotou o modelo de iniciar em um ano e finalizar no ano seguinte. No primeiro jogo, disputado no Estádio dos Plátanos, com mando do Linha, as duas equipes empataram em 1 a 1, gols de Itamar para o Linha e de Euclides para o Boa Vista, resultado que deixou a decisão em aberto e esquentou o clássico entre os dois maiores campeões do certame.

A partida de volta já começou a ser disputada nos bastidores durante a semana e teve como personagem principal o centroavante Aurélio, do Linha. O diretor do Linha na época, Aurélio Quadros Desbessel, lembra que membros do Boa Vista que integravam a diretoria do Cinturão Verde descobriram que o atacante havia agendado uma viagem de férias para o Rio de Janeiro. “O pessoal do Boa Vista ficou sabendo da viagem e no dia que ele embarcou marcaram a final no domingo para aproveitar a ausência dele”, lembra Desbessel.

Hoje representante comercial, Aurélio Schwerz, 45 anos, conta que havia marcado com antecedência uma viagem no período das suas férias para o Rio de Janeiro e que viajou de ônibus com a esposa para a capital carioca. Enquanto o jogador viajava, os dirigentes do Linha já tratavam do retorno do centroavante para disputar a final. “Eu cheguei no Rio sabendo que não tinha nada resolvido sobre o jogo. Na sexta à noite, o Pedro Kirst me liga e avisa que eu iria retornar de avião para jogar a final, mas que não era para falar para ninguém. Eu lembro que ainda dei entrevista ao vivo para a rádio e confirmei que estava no Rio”, conta o jogador.

Aurélio deixou a esposa no Rio, pegou o voo para Porto Alegre no sábado à noite, e veio de Fusca com os dirigentes do Linha. Para manter o anonimato, o jogador ficou hospedado em um hotel até o horário do jogo. “Queria ficar na casa da minha mãe, que ficava a algumas quadras, mas não deixaram porque ninguém podia ficar sabendo”, conta o centroavante. Ao chegar no campo do Boa Vista, o jogador lembra da surpresa dos torcedores com a sua presença na final. “Eu cheguei no campo do Boa Vista e no caminho para o vestiário ouvi a torcida deles comentando, incrédulos, que eu iria jogar. Isso criou um outro ambiente para a final”, conta o jogador.

FINAL COM NOVE GOLS

Com Aurélio em campo, Boa Vista e Linha fizeram um jogo digno entre dois grandes vencedores do Cinturão Verde. A partida terminou empatada em 4 a 4, gols de Euclides, Jauri e Sildo (2) para o Boa Vista e de Aurélio, Dinho (2) e Paulinho, resultado que levou a decisão para a prorrogação. Desbessel lembra do lance que deu o octacampeonato e o tetra consecutivo para o Linha. “Teve um chute de fora da área, o goleiro Edson deu rebote e o Paulinho marcou o gol. Vencemos por 1 a 0, sendo uma grande festa essa conquista por tudo que representou a final”, conta o dirigente. Após comemorar o título, Aurélio pegou o voo na manhã de segunda e pôde aproveitar as merecidas férias com a esposa na “cidade maravilhosa”. “Foi uma final que me marcou para sempre”, frisou o jogador.

Em 1996, o time do Linha, octa campeão, foi formado com PG, Eldon, Luizinho, Jeyson e Ildo. Lúcio, Dinho e Itamar (Ibanez) (Klaus). Aurélio, Marco e Jair, time treinado por Clayton Fernandes. O Boa Vista foi vice-campeão com Edson, Paulo, Marcão, Oli e Luciano. Edmilson, Euclides e Sildo. Valdir, Jauri (Rafael) e Daltro, time treinado por Paulo Hickmann. A arbitragem da final em Boa Vista foi realizada por Paulo Spall auxiliado por Décio Custódio e Sérgio Dias. Na solenidade de premiação, o Linha recebeu a Taça Souza Cruz, que patrocinou o campeonato na época.

Ao avaliar o campeonato do Cinturão Verde, o ex-centroavante do Linha, que foi goleador da competição, salientou que era um campeonato diferente. “A comunidade participava e vivenciava essa disputa no interior. Cada final tinha duas, três mil pessoas, em jogos que reuniam famílias. Antigamente eram várias pessoas que faziam futebol e hoje são poucos que ainda fazem”, diz Aurélio. Já Desbessel salientou que o Cinturão foi uma competição de muita grandeza. “Nada foi tão pleno como o Cinturão Verde. Talvez o basquete com o Corinthians nos áureos tempos, mas nem o futebol profissional foi tão representativo como foi o Cinturão Verde para Santa Cruz”. Paulo Trinks finaliza: “Era o jogo no domingo que dava comentário a semana inteira e que envolvia as comunidades, sendo momentos marcantes para o futebol amador da nossa cidade”, finalizou o dirigente.

Aurélio Desbessell, Aurélio Schwerz e Paulo Trinks com a faixa que marcou o tetra – Tiago Mairo Garcia

Boa Vista é hexa em 97 e 98

A partir de 1997, o Campeonato do Cinturão Verde passou a ser disputado no mesmo ano. A decisão foi entre Boa Vista e Rio Pardinho, tradicional clube que disputava a Liga de Sinimbu e com a emancipação do município vizinho, passou a integrar o Departamento do Cinturão Verde. No primeiro jogo, disputado em Rio Pardinho, empate em 0 a 0.

Na decisão, disputada no dia 15 de junho de 1997, no campo do Boa Vista, coube ao centroavante Aurélio ser novamente protagonista, mas desta vez a favor do Boa Vista. O atacante marcou os dois gols na vitória do Boa Vista por 2 a 0 sobre o Rio Pardinho, resultado que decretou o pentacampeonato do Cinturão Verde para o Boa Vista. Tesoureiro do Boa Vista, Sérgio Muller lembra que o ex-zagueiro do Grêmio, Bolivar Guedes e o filho Fabian Guedes, que depois se tornaria o zagueiro Bolivar, campeão da Libertadores da América com o Inter em 2006 e 2010, jogaram a final do Cinturão Verde pelo Boa Vista juntos. “O Bolivar pai era um zagueiro experiente com liderança e o Bolivar filho jogava de ponteiro-direito no ataque e se destacava “, lembra Muller.

O time campeão foi formado com Xuxa, Euclides, Bolivar, Jaime e Júlio; Chicão, Jair e Luciano. Aurélio, Fabian e Zildo, time treinado por Iraí Fucks. Já o Rio Pardinho foi vice-campeão com Erni, Gioni, Thumé, Angelo (Marcelo) e Enor. Daniel, Pacheco e Bira; Leandro, Aldo (Elmar) e Alcindo, time treinado por Milton Brant. A arbitragem da final foi realizada por Sérgio Dias auxiliado por Airton Bauer e Marcelo Beling. Aurélio foi goleador em 97 com 23 gols em oito partidas.

Em 98, a decisão foi disputada entre Boa Vista e Cruzeiro, de Linha João Alves. No primeiro jogo, em Boa Vista, vitória do Boa Vista por 2 a 0. Na decisão, disputada no Estádio dos Plátanos, em Santa Cruz do Sul, as equipes empataram em 2 a 2, gols de Itamar (2) para o Boa Vista e de Betinho e Silvinho para o Cruzeiro, resultado que garantiu o hexacampeonato para o Boa Vista. O time do Boa Vista, hexacampeão, foi formado com Xuxa, Jairzinho, Bolivar, Júlio e Luciano. Vovô, Traíra, Itamar e Zildo. Valdir e Rivelino (Angelo), time treinado por Hélio Bohnem. Já o Cruzeiro, de Linha João Alves, foi vice-campeão com Jair, Carlos, Félix, Mauricio (Clóvis) e Nei (Dinho). Marcos, Eldor e Rangel. Betinho (Jean), Pedrinho (Piá) e Silvinho, time treinado por João Hickmann. A arbitragem foi de Edir da Silveira auxiliado por Iloir Conrad e Renato Albers.