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Maior parte da população se automedica

Everson Boeck
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Instituído a partir de uma pesquisa realizada em 2013 em São Paulo, o dia 5 de maio celebra o Dia Nacional do Uso Racional do Medicamento, onde em diversos municípios brasileiros são realizadas atividades para alertar a população sobre os riscos do uso incorreto de medicamentos. Em Santa Cruz do Sul uma ação foi realizada ontem, durante o dia, através do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF-RS) em parceria com o Curso de Farmácia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
Segundo o mestre em farmácia, professor Ediberto de Oliveira Machado, o Dia Nacional do Uso Racional do Medicamento surgiu depois que uma pesquisa foi feita na cidade de São Paulo no ano passado. “A repercussão foi tão alarmante que a data foi instituída e este ano as atividades estão sendo feitas pela primeira vez”, explica.
A pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial (ICTQ), em conjunto com a Data Folha, mostrou como é dura a realidade brasileira da prática de consumir medicamentos sem um aconselhamento ou acompanhamento de um profissional de saúde qualificado. Segundo os dados, quase 80% da população, que tem algum sintoma, procura a indicação de familiares, amigos ou vizinhos.
Nesta atividade os estudantes do Curso de Farmácia da Unisc atuaram como promotores do consumo de medicamentos através da distribuição gratuita de um medicamento fictício chamado “Dornein” à população. Próximo a eles, estavam os professores e outros alunos observando e anotando se a pessoa abordada simplesmente aceitou o medicamento sem qualquer questionamento – como por exemplo: Para que serve? Qual a dosagem? Tem alguma contra indicação? – ou recusou o medicamento.
Mais afastados dos promotores e observadores estavam os profissionais farmacêuticos que novamente abordaram a pessoa que aceitou o medicamento fictício e perguntando a ela: “Você tem o costume de procurar o farmacêutico quando vai a farmácia para buscar orientação?”. Neste momento, a pessoa foi alertada quanto aos riscos da automedicação e recebeu um folder explicativo sobre o Dia Nacional do Uso Racional do Medicamento.

Everson Boeck

Em Santa Cruz do Sul uma ação foi realizada ontem durante o dia para
esclarecer a comunidade sobre os riscos do uso de medicamentos
sem orientação de um médico ou farmacêutico

Maior parte da população se automedica

De acordo com os dados analisados através das abordagens feitas durante a atividade a maior parte da população faz uso de automedicação. De acordo com o professor Ediberto, coordenador do Curso de Farmácia da Unisc, três equipes de alunos e professores realizaram a atividade simultaneamente em pontos distintos no Centro da cidade. “Entrevistamos 1.109 pessoas e, destas, 56,73% fazem uso de automedicação, isto é, aceitaram o medicamento fictício”, afirma.
O que mais chamou a atenção, segundo Ediberto, é que 227 pessoas que foram abordadas pegaram o medicamento sem fazer qualquer questionamento. “Muitas que pegaram o medicamento, depois disseram que o fizeram porque era de graça ou porque acharam que seria bom para alguma coisa. Isso mostra a necessidade da iniciativa ser repetida”, pontua. No entanto, o professor avalia a atividade como muito positiva. “A ação foi esclarecedora e educativa. A comunidade se mostrou muito receptiva ao receber as orientações e esclarecimentos e elogiou o trabalho”, destaca.
Norberto Kannenberg, 56 anos, pegou o medicamento fictício oferecido na rua. Ao ser abordado pela segunda vez, nesta pela farmacêutica Danielly Joane Bullé, professora do curso de Farmácia da Unisc, ele disse que dependendo do remédio pede orientação para um farmacêutico. “Remédios para gripe, por exemplo, costumo comprar por conta”, relata. Ouvindo as orientações da professora e os riscos da automedicação Norberto ficou surpreso e elogiou a iniciativa. “Assim como eu muita gente não sabe dos riscos e se medica podendo agravar ainda mais as doenças”, observa.
Segundo a Danielly, os pacientes vão cometendo “pequenos deslizes” que podem agravar doenças e até matar. “Muitas pessoas não sabem que não se deve, em hipótese alguma, ingerir bebida alcoólica se estiver tomando paracetamol sob o risco de complicações no fígado sendo, em alguns casos, necessário transplante”, informa.


Norberto Ekannenberg, 56 anos, pegou o medicamento fictício e recebeu
os esclarecimentos dos da professora Danielly

Valorizar o farmacêutico

A professora Danielly ressalta que a atividade também tem como objetivo destacar a importância do profissional. “O número de pessoas que ao procurar uma farmácia solicita ajuda de um farmacêutico é muito pequeno. Quem sabe sobre os medicamentos são os farmacêuticos e todos os estabelecimentos que disponibilizam remédios são obrigados a ter pelo menos um profissional”, comenta. “Esta mobilização também quer que a comunidade conheça o farmacêutico e saiba que ele é um profissional que está apto a ajudá-la”, frisa.

Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs)

Outro dado importante destacado pela professora refere-se aos Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) – 65% da população faz uso destes por conta própria. Apesar de os MIPs não necessitarem de apresentação da prescrição na farmácia, eles também apresentam riscos quando do uso inadequado. Nesse sentido, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) regulamentou as atribuições clínicas e a prescrição autorizada pelos farmacêuticos, levando informação qualificada aos pacientes que utilizam MIPs em transtornos menores.
“Ao contrário do que a maioria dos médicos entendeu inicialmente, a ideia não é tomar o lugar deles, mas desafogar o SUS. A intenção é minimizar os sintomas do paciente até ele conseguir a consulta”, esclarece. Depois disso, o Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Sul (CRF-RS) lançou, no dia 25 de abril, em Passo Fundo, a campanha pelo Uso Racional de Medicamentos, durante a Sessão Plenária itinerante.


Equipe de alunos e professores que abordou 1.109 pessoas durante a atividade

 

Dados da atividade em Santa Cruz

> Pessoas abordadas …………………………..1.109 (total)

> Se automedicam/promovem       
   uso abusivo de medicamentos …………. 56,73%

> Não se automedicam/usam       
   medicamentos apenas sob
   orientação médica ou farmacêutica ….. 43,27%

Pesquisa

A pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial (ICTQ), em conjunto com a Data Folha, mostrou que o fato de quase 80% da população realizar a chamada automedicação impacta diretamente nos índices de intoxicação pelo uso incorreto de medicamentos, que hoje, no Rio Grande do Sul, supera em quase dez vezes a segunda maior causa de intoxicação, os agrotóxicos, de acordo com o Centro de Informações Toxicológicas (CIT). Os últimos registros apontaram 6.623 casos de intoxicação por automedicação ou interação medicamentosa, só no Rio Grande do Sul. No país, a média de internações pelo mesmo motivo chegou a 60 mil nos últimos anos.
Além disso, esse uso desenfreado de medicamentos, sem orientação médica e farmacêutica, contribui significativamente para a lotação dos postos de saúde ou emergências de hospitais, devido a patologias que acabam não sendo corretamente tratadas. Logo, o resultado se desdobra em mais gastos do Governo com tratamentos e internações que poderiam ter sido evitados com mais informação e orientação da sociedade.
A campanha , a campanha pelo Uso Racional de Medicamentos foi realizada simultaneamente em 17 municípios, entre eles: Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul, Cruz Alta, Frederico Westphalen, Ijuí, Lajeado, Santana do Livramento, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Pelotas, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santa Rosa, Santiago, Santo Ângelo, São Leopoldo e Uruguaiana.