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Mestre Facebook

Certa vez, em conversa com amigos, afirmei – com aquela convicção que só os inconsequentes conseguem ter – que o Facebook, dada a sua imensa aceitação por tantas e tão diferentes pessoas, é o fenômeno mais impressionante das últimas décadas no complexo campo da comunicação de massa. Mas disse também que, para a imensa maioria de seus usuários, o Facebook não passava de um imenso playground virtual. Um observador atento, porém, logo percebe que achar que o Facebook é apenas um “site de relacionamentos” é incorrer no erro do reducionismo fácil – tanto quanto o é pretender que um lar seja apenas “um local onde pessoas habitam”, ou que um casamento seja apenas “um contrato”. Estudiosos do assunto já perceberam que ainda vamos precisar de alguns anos – ou mais que alguns – até podermos esmiuçar tudo aquilo que sites como o Facebook representam e até que ponto podem influenciar os grupos sociais em que nos inserimos. Assim como há muito mais complexidade naquilo que chamamos de “lar” ou “casamento”, há também um sem-número de camadas difíceis de desvendar e rotular em um site dinâmico que coloca pessoas dos mais diferentes matizes, com os mais diversos interesses, objetivos, expectativas e necessidades em contato imediato e quase irrestrito. Basta um simples bater de teclas.
Hoje, usa-se e abusa-se do Facebook tão facilmente que pode parecer que estamos lidando com algo simples e sobre o qual temos domínio. Não nos iludamos: ainda nem começamos a compreendê-lo, tal a sua complexidade e alcance – assim como estamos muito longe de dominá-lo.
Chega a assustar.
Acontece que este leviatã virtual, se deixarmos, pode se mostrar um professor e tanto. Se deixarmos de lado a preguiça intelectual que caracteriza nossa espécie, fica fácil constatar que o Facebook pode nos ensinar algumas coisas bem interessantes. Pode nos mostrar, por exemplo, que coisas que de início nos agradavam e divertiam, agora, por pura repetição, nos irritam. Pode nos mostrar que pessoas a quem não estaríamos dispostos a dedicar três minutos de atenção podem nos fascinar pelo que dizem, escrevem e pensam. Tudo graças a meros batequebates nas teclas e postaquevejos na tela. O “Professor” também ensina que a diferença entre “nós” e “os outros” é ainda maior do que pensávamos; mas também mostra que ou aprendemos a aceitar as diferenças e os diferentes, ou corremos um sério risco de que os diferentes não nos aceitem. O Facebook nos deixa claro que, do ponto de vista dos diferentes, os diferentes somos nós. Uma boa lição.

Não posso falar por você, mas Mestre Facebook me deu belas aulas de Flexibilidade Avançada. Em suas páginas, lemos e vemos muita coisa que nos dá vontade de metralhar o mundo; no entanto, respiramos fundo, massageamos o pescoço tenso e aí está: o mundo não foi metralhado e agora somos um pouquinho mais flexíveis. Em outras aulas, aperfeiçoamos a fina Arte do Não. Pouco a pouco, nos é mais fácil dizer não aos exibicionistas virtuais; à propaganda ideológica fora de lugar; à massacrante referência a um sem-número de deidades e crenças; aos que, ao invés de ver no outro um parceiro de experiência, o veem como fonte de renda fácil, e estão ali apenas para vender ou vender-se. De minha parte, digo um discreto mas firme Não a quem não me interessa, e espero ardentemente que façam o mesmo comigo.
Pelo Facebook, podemos ser acusados injustamente por idiotas e acarinhados docemente por seres admiráveis. A qualquer momento, podemos nos sentir bem-vindos ou esbarrar no gelo da indiferença. Mas não podemos nos dar ao luxo de ver no Facebook o nosso espelho, senão aqueles seres admiráveis erraram ao nos acarinhar e os idiotas, no fundo, seremos nós. Simples assim.
Quando o guru da comunicação de massa Marshall McLuhan disse que o mundo havia se tornado uma “aldeia global”, não tinha ideia de quão acurada era sua constatação. Em nossos dias, com a superação da distância física pela proximidade virtual, nos vemos hoje ainda mais íntimos do que os habitantes de uma mesma aldeia – parece até que somos ocupantes de uma mesma sala global.
Mais importantes que tudo, no entanto, são as mil lições que a cada dia aprendemos de nossos pares virtuais neste que é hoje o mais prestigiado dos cursos sobre a mais completa das artes populares: a vida.
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*Linguista e professor