Início Geral “O progresso hoje no Brasil é uma falácia”

“O progresso hoje no Brasil é uma falácia”

Esta é a afirmação do professor de História, Eduardo Barreto, que faz uma reflexão para o Dia Nacional do Progresso, celebrado neste domingo, 27

Luciana Mandler
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Para você, o que significa “Ordem e Progresso”, lema da bandeira do Brasil? Para que cada cidadão reflita sobre o que representa essas palavras, foi criado o Dia Nacional do Progresso, celebrado neste domingo, 27 de junho. Além disso, a data homenageia todos os direitos conquistados ao longo dos anos. Mas em meio ao caos ocasionado pela pandemia de Covid-19, política, economia… Como celebrar a data? Como seguir e levar ao pé da letra as palavras “Ordem e Progresso”, estampadas na bandeira?

Para o professor de História da Escola de Educação Básica Educar-se, Eduardo Barreto, atualmente não há o que comemorar, pelo contrário, devemos nos preocupar, e muito. “O contexto fala por si só. O progresso hoje no Brasil é uma falácia”, reflete. O professor destaca ainda que, a ideia que temos de progresso se mistura com a de evolução. “Herança da cultura judaico-cristã de uma história linear com início, meio e fim. Ela foi principalmente reforçada a partir do advento do liberalismo econômico e da Revolução Industrial que tornou o conceito sinônimo de capital, criando uma confusão quando pensamos sobre a questão de progresso”, aponta.

O educador avalia o lema da bandeira como positivista. “Uma releitura a partir de Comte. Herança do golpe que institui a República e marca o início da participação nefasta dos militares na História republicana”, explica. “A bandeira nasce sem a participação popular, e marca como símbolo uma república que já nasce excluindo dos direitos básicos a maior parcela da sua população”, acrescenta.

Em meio a isso, como progredir para sermos um País melhor? Segundo o professor Eduardo Barreto, é preciso investir em muitos serviços essenciais. “Mas farei da minha área. Investir na educação como um projeto futuro e não como um projeto político de quatro em quatro anos”, salienta. “Olhar com carinho e atenção para a periferia e atender o cidadão naquilo que de básico é necessário para a sua dignidade. Investir não é gastar”, aponta.

Outra confusão que ocorre no Brasil quando falamos de investimento em serviços básicos. “Investir é pensar no futuro. Sem o imediatismo e sem o viés neoliberal que desmonta cada vez mais as áreas essências em nome de um suposto avanço. A única coisa que avança no Brasil e que a pandemia apenas descortinou e expôs para todos é a desigualdade econômica e social”, avalia.

Mas como enxergar progresso diante disso tudo? “Através dos jovens”, acredita. “Ser professor é apostar eternamente no poder dos jovens. Se nascesse mil vezes, mil vezes seria professor, mesmo sabendo das dificuldades da profissão”, enfatiza. No entendimento de Eduardo Barreto, ser professor é passar a vida toda muitas vezes sem ser reconhecido, mas apostando e se dedicando aos jovens e o poder transformador que eles possuem.

“Creio que a geração que surge no Brasil entre quatro e 18 anos irá transformar o presente e o futuro”, aposta. “O amadurecimento forçado de muitos desses jovens também impôs uma ‘abertura dos olhos’ para ciladas que outras gerações não perceberam. Os jovens estão questionando as bases que antes não eram questionadas. É um movimento que cresce, mesmo de forma silenciosa, ele cresce. É nesse despertar dos jovens que está em curso que mora o essencial do ser humano. A esperança”, reflete.

Assim como os jovens, todos os brasileiros, independe da idade, cor ou classe social podem contribuir com o “progresso” do País. Como? “Tendo em mente que é um cidadão e têm papel determinante na construção do Brasil”, pontua o professor. “Porém, historicamente esse cidadão é forçado a abdicar das ferramentas que o permitem mudanças”, completa. Uma educação sólida e pautada no projeto de longo prazo na percepção do professor Eduardo contribuiria para um maior envolvimento em questões fundamentais. “Uma educação política e histórica de qualidade, por exemplo, não teria nos trazido ao buraco econômico e social em que nos encontramos atualmente”, aponta. “Muito do ‘progresso’ gira em torno do elemento básico que é a educação e o seu papel no processo de emancipação intelectual do cidadão”, conclui.

A palavra é ESPERANÇA

Após refletir sobre o Dia Nacional do Progresso, o professor de História, Eduardo Barreto, deixa sua mensagem para que possamos construir uma nação melhor. Confira:

Professor de História, Eduardo Barreto (Crédito: Divulgação)

Em 2022 será o centenário do nascimento de Darcy Ribeiro que nos ensinou que “a desigualdade no Brasil é um projeto”. Fico pensando que se estivesse vivo infelizmente não ficaria surpreso com o projeto de extermínio dos indígenas brasileiros por meio de lei que está em pleno funcionamento. Logo ele que se dedicou tanto para as questões dos nossos povos nativos, bem como para a questão da educação e formação do povo brasileiro.

Como mensagem final gostaria de deixar um pedido: Valorizem quem faz ciência no Brasil, valorizem os pesquisadores, os trabalhadores que levantam antes do sol nascer e volta pra casa somente depois que ele vai embora, valorizem a educação. Estudem a História do Brasil, o País que vivemos todos nós e que quase nada conhecemos.

Precisamos urgentemente plantarmos árvores cuja sombra não iremos usufruir e muito menos saborearmos os seus frutos. Devemos pensar na geração presente de jovens e crianças e principalmente nas gerações que virão. Somente com um projeto de longo prazo poderemos construir um caminho pautado na igualdade social, no respeito às diferenças sejam quais elas forem, e na liberdade e segurança de viver sabendo que existe esperança. Creio que a palavra é esta: Esperança.