LUANA CIECELSKI
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A natureza é cheia de sons. Porém nem todos são tão belos quanto os de alguns pássaros. O canto é inspiração para a voz humana e também para a poesia, como na famosa Canção do Exílio de Gonçalves Dias onde, na primeira estrofe, ele faz referência a sua terra natal pelo Sabiá que nela canta. Pois saiba que não há época melhor para ouvir todos esses sons do que no verão. E Santa Cruz pode se considerar bastante privilegiada no quesito variedade, em comparação com outros municípios.
De acordo com o professor do curso de Biologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) Andreas Köhler, Santa Cruz além de ser bastante arborizada em comparação com outras cidades, especialmente as metrópoles, possui também o Cinturão Verde, que contem as condições ideais para várias espécies e serve como refúgio para elas. “Atualmente, Santa Cruz do Sul tem mais de 200 espécies de pássaros que aqui vivem”, o professor contabiliza.
E no verão é mais fácil de ouvir muitas delas, porque essa é a estação dos pássaros. Além das temperaturas mais elevadas que os permitem sair mais dos ninhos, nessa época muitos deles se aproximam mais das residências em busca das árvores frutíferas. A cidade também está mais vazia. Em alguns momentos do dia há muito menos som de trânsito e até mesmo menos som de vozes nas ruas.
Então tire uns minutos de folga, procure uma praça, vá até a Gruta dos Índios, ou se você mora em uma rua com bastante vegetação como é a realidade de alguns dos bairros (Universitário, Verena, Santo Inácio, Higienópolis, Centro, Goiás, Margarida, Monte Verde entre outros), apenas feche os olhos e tente ouvir: sem dificuldades você vai escutar os Sabiás, os Tico ticos, as Andorinhas, o João de Barro e com um pouco de sorte, talvez você consiga escutar também o grito de um Tucano, ou de um Falcão pousado no alto de um prédio, porque essas espécies também são encontradas em Santa Cruz.
Contato com humanos
Se você conseguiu ouvir, deve ter percebido como é bonito. Para continuar assim, entretanto, é preciso que o homem faça sua parte na preservação do ecossistema local. É também preciso saber lidar com eles. Tentar compreender da melhor maneira possível a sua natureza.
É preciso compreender, por exemplo, que para os pássaros os telhados e outras reentrâncias das residências são muito atrativas, pois não entra água da chuva, o que torna a sua vida muito mais fácil, muito mais confortável. “As folhas das árvores protegem, mas nunca será como um telhado, ou como o galho que está embaixo de uma cobertura”, explica Köhler. Essa situação, no entanto, tem seu lado negativo. Se por um lado eles estão mais abrigados, por outro eles também ficam mais estressados por causa do movimento das pessoas que ali vivem. O ideal então é tentar intervir em sua natureza o mínimo possível, lembrando que conviver com pássaros tem suas vantagens.
O mesmo vale para os casos de quedas de filhotes. Isso porque, segundo o professor Andréas, nem sempre essas quedas são acidentes. “Às vezes, quando a fêmea percebe que um dos filhotes está doente, está com algum problema ou não está se desenvolvendo corretamente, ela joga aquele filhote para fora do ninho para proteger os outros filhotes que estão dentro”, ele explica.
Algumas vezes também é o momento daquele pássaro começar a voar. “Muitas espécies já descem do ninho antes de voar. Isso não significa que a mãe não está alimentando-o e protegendo-o”, explica Köhler. Segundo ele, é comum pessoas procurarem o departamento de biologia da universidade levando filhotes e explicando que os encontraram na grama, porém, ele explica, isso só deve ser feito como um último recurso. “O ideal é que se observe primeiro. É bem provável que você vai ver a mãe voando por perto se fizer isso. Nesse caso, não é preciso se preocupar. Ele desceu do ninho ou foi colocado para fora porque essa é sua natureza”, garante.
Outra forma de ajudar é plantando árvores. Mas o professor alerta: “não pode ser qualquer espécie de árvore. É preciso que seja a árvore certa! Não ajuda plantar Pinus ou uma espécie exótica. É bom plantar árvores nativas e especialmente árvores que gerem frutos e sementes que os ajudem a se alimentar”. Depois de um tempo do plantio, é só fechar os olhos e escutar.
Vantagens dos pássaros
Muitas pessoas se sentem incomodadas com a proximidade exagerada dos pássaros, como quando eles entram nos telhados fazendo ninho nos forros e consequentemente barulho ou sujeira. Para isso, no entanto, existem algumas proteções chamadas passarinheiras que impedem a entrada das aves, assim como dos morcegos e evitam que gestos mais agressivos, como a retiradas dos ninhos, tenha que ocorrer. Porém sempre vale lembrar que o convívio com os pássaros tem suas vantagens.
Os pássaros, por exemplo, tem um papel muito importante na manutenção do ecossistema. Quando se alimentam de frutas eles muitas vezes carregam em seus bicos sementes que depois caem no chão e germinam. No caso dos Beija-flores, eles também têm o papel de polinizar as plantas. Ao visitar flores em busca do néctar (líquido adocicado produzido pelos vegetais e que serve de alimento aos pássaros), ele entra em contato com o pólen que fica preso ao seu bico e penas. Posteriormente, quando a ave se dirige a outras flores, deixa nelas esses grãos de pólen, fertilizando-as. É dessa forma que muitas espécies vegetais se reproduzem e geram novas sementes e frutos.
Além disso, de acordo com o professor Andréas, algumas espécies, como é o caso dos falcões e das corujas, também se alimentam de animais menores como ratos. Dessa forma eles evitam que ocorram infestações desses pequenos animais na cidade e mantêm o equilíbrio ambiental.
Köhler também explica que pássaros não são grandes motivos de preocupação para a saúde. “De uma forma geral, pássaros não transmitem doenças para os seres humanos”. Uma das raras exceções são as Pombas que algumas vezes espalham pulgas, fungos e bactérias causadoras de algumas doenças.
