Início Geral Professores temem a reformulação do Ensino Médio

Professores temem a reformulação do Ensino Médio

EVERSON BOECK
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Uma série de encontros está acontecendo entre os professores da rede estadual de ensino e a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE). O objetivo é apresentar aos educadores a nova proposta do Governo Estadual, através da Secretaria Estadual de Educação, que prevê uma reformulação do Ensino Médio no Rio Grande do Sul. Várias escolas já foram visitadas, mas esta semana está previsto no roteiro da 6ª CRE as escolas Santa Cruz (dia 9), Prof. Luiz Dourado (dia 9) e Nossa Senhora da Esperança (dia 10). A etapa municipal acontece também no dia 10 de novembro, às 19 horas na Escola Luiz Dourado; a etapa regional no dia 16 de novembro às 8h30min na Unisc, e a etapa inter-regional no dia 29 de novembro, em Estrela.

O PROJETO E A 6ª CRE

O projeto do Estado prevê aproximação com o mercado de trabalho e ampliação da carga letiva anual de 800 para mil horas a partir do ano que vem. Além disso, estabelece uma participação decrescente das disciplinas tradicionais, como Português e a Matemática entre o 1º e o 3º ano.
Segundo a coordenadora pedagógica da 6ª CRE, Ana Alves, o plano da Secretaria Estadual da Educação inclui dar a todos os alunos uma visão prática do mercado de trabalho, por isso, dedicariam 200 horas por ano para fazer uma pesquisa de campo sobre uma atividade profissional de acordo com cada região. “Ao contrário do que muitos pensam, a redução da carga horária das disciplinas tradicionais não vai ‘enfraquecer’ o conhecimento do aluno, vamos estar qualificando-o nas disciplinas diversificadas, seja na oralidade, na produção escrita, na relação entre as áreas. O conhecimento não vai ficar somente formal e abstrato, mas vai ter uma relação com a prática”, argumenta.
A coordenadora pedagógica também informou que a Secretaria Estadual de Educação está em constante tratativa com o Conselho Estadual de Educação na construção de um regimento que deverá servir de referência para as escolas usarem como modelo e o adequarem de acordo as suas necessidades. “A reestruturação do Ensino Médio não significa e não é uma qualificação técnica para nosso aluno ao final da Educação Básica. Ela significa uma relação, um diálogo entre as áreas do conhecimento e das disciplinas do núcleo comum, isto é, será trabalhado a teoria no núcleo comum – como é hoje – e a relação com a prática nas novas disciplinas”, esclarece Alves.
Conforme Ana, a maioria das escolas particulares do Estado já trabalham neste ótica, mas entende que são necessárias várias adequações para cada realidade. “Sabemos que a escola particular tem uma estrutura diferente, mas nós acreditamos na educação da escola pública que é onde vai acontecer a grande transformação da educação. Todas estas etapas estão sendo realizadas para que os professores conheçam a proposta, sugiram novas idéias até que o plano esteja de acordo”, frisa.

PROJETO CAUSA INDIGNAÇÃO NA ESCOLA ERNESTO ALVES

Na última quinta-feira, 3 de novembro, a Escola Ernesto Alves recebeu os representantes da 6ª CRE. Durante a explanação da proposta pais ficaram irritados e se retiraram do local. Eles, assim como os professores, acreditam que é pouco tempo para uma mudança tão importante, tendo em vista que, se aprovado, o projeto será aplicado já no início do ano letivo de 2012. Além disso, acreditam que o Governo do Estado está apresentando um projeto pronto que admite apenas pequenas alterações e não a construção de um que atenda às reais necessidades da educação pública.
A diretora da Escola, Elisabete Dreher, garante que o sentimento da grande maioria dos professores, pais e alunos é de angústia. “Ainda temos muitas incógnitas a respeito deste documento que foi apresentado e a maior parte dos nossos questionamentos não foram respondidos”, afirma. Em relação à carga horária, ela disse que os professores estão muito preocupados com a formação do aluno. “Mesmo que as disciplinas diversificadas (as ciências e suas tecnologias) preparem para a prática as provas de Enem, vestibulares e concursos públicos cobram a teoria, e como a proposta está sendo apresentada o aluno não estará preparado para enfrentar isso ao concluir o terceiro ano”, argumenta.
Elisabete frisa, no entanto, que a proposta da reestruturação tem alguns pontos positivos, mas não para ser implantada agora. “O Governo quer apenas fazer uma espécie de capacitação na semana que antecedem as aulas. Isso é possível? Estão querendo nos forçar a assinar algo que feito do dia para a noite sem estudo e sem avaliação vai dar errado logo adiante e nós seremos responsabilizados por compactuar com isso”, preocupa-se.

CPERS/SINDICATO ORIENTA QUE ESCOLAS NÃO ACEITEM A PROPOSTA

O 18° Núcleo do Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato) realizou um encontro na tarde de terça-feira, 1° de novembro, no Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Fumo e da Alimentação (Stifa) para tratar sobre a proposta apresentada pelo Governo Estadual para reestruturação do Ensino Médio no Estado. Participaram dezenas de professores, alunos, pais e, a a convite do 18° Núcleo do Cpers/Sindicato, a presidente da Direção Central do sindicato, Rejane de Oliveira.
A diretora veio esclarecer alguns pontos sobre a proposta de reestruturação do Ensino Médio que o Governo está propondo e as alterações do Plano de Carreira, além de debater questões como o não-cumprimento da lei do Piso Nacional do magistério. Ela destacou que a categoria está insatisfeita e impaciente com todas as promessas do governo que foram assinadas e guardadas no fundo da gaveta. “Estamos mobilizados e se o Estado não nos der uma resposta positiva de imediato poderemos iniciar uma greve, sim!”, disse, referindo-se à Assembleia Geral que ocorre no dia 18 de novembro, no Gigantinho, em Porto Alegre.
Rejane destacou, ainda, que existem outros projetos que atacam a Educação e os direitos da categoria. “O Governador apresenta uma proposta baseada num sistema de avaliação, plano de carreira e reestruturação do Ensino Médio. Ele está jogando sobre os professores as deficiências da Educação brasileira além de condenar o jovem ao total despreparo cognitivo”, preocupa-se.
A diretora do 18° Núcleo, Mirian Trindade, afirma que se o projeto for executado todo o Ensino Médio vai mudar. “Eles querem desqualificar mais ainda todas as áreas do conhecimento para ter a profissionalizante. Por exemplo: as 4 aulas semanais de matemática que temos hoje no terceiro ano, reduzirão para apenas uma. Que preparação esse jovem vai ter para fazer um Enem, um vestibular? Não existirá opção para um Ensino Médio tradicional, como é hoje, a menos que alguma escola particular o tenha”, explica.
Mirian sublinha, ainda, que esta proposta não valoriza em momento algum o aluno e muito menos a qualidade do ensino. “Dezenas de escolas estão sucateadas. Existem salas de aula de informática que estão chaveadas porque não há professores. Primeiro é preciso de investimento e solucionar algumas muitas questões para depois se pensar numa mudança de estruturação do ensino. Isso mais parece uma estratégia de governo e não uma proposta educacional”, considera.