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Quaresma: tempo de conversão

Dom Canísio Klaus*
 
Estamos vivendo o tempo da quaresma. É o tempo onde o convite da quarta-feira de cinzas – “convertei-vos e crede no Evangelho” – é repetido constantemente. O tempo onde o silêncio deve falar mais alto do que as palavras e a discrição ser mais expressiva do que os ornamentos.
O Texto Base da Campanha da Fraternidade fala da necessidade de uma conversão pastoral, como “uma atitude de autoavaliação e de coragem para mudar as estruturas pastorais obsoletas da Igreja, para que ela seja, cada vez mais, geradora de discípulos missionários comprometidos com a vida de todos”. Citando o profeta Joel (2,13) – “Rasgai não só as vossas vestes, mas também os vossos corações” – alerta para o fato de que a conversão pastoral “não deve ser compreendida apenas como uma mudança externa, mas como uma atitude de conversão interior, que brota do encontro pessoal de cada cristão com o Ressuscitado”.
Parece-me, que aqui está o centro da conversão para a qual a quaresma nos convida. Em 1975 o então Papa Paulo VI, ao falar da urgência em se construir “estruturas mais humanas, mais justas e mais respeitadoras dos direitos da pessoa” alertou para o fato de que “as melhores estruturas, ou os sistemas melhor idealizados depressa se tornam desumanos, se as tendências inumanas do coração do homem não se acharem purificadas, se não houver uma conversão do coração e do modo de encarar as coisas naqueles que vivem em tais estruturas ou que as comandam” (EN, n° 36).
A conversão que a Igreja nos pede na quaresma, deve vir acompanhada de três atitudes básicas.
Em primeiro lugar vem a oração. O tempo da quaresma é um tempo onde as pessoas são convidadas a dedicarem mais espaço para a oração do que nos outros dias do ano. Os 40 dias que antecedem a Páscoa devem ser aproveitados para rezar a Via-Sacra, rezar com os vizinhos nos grupos de família, participar das celebrações comunitárias nos finais de semana e fazer uma boa confissão.
Em segundo lugar está a penitência. A Igreja prescreve dois dias para o jejum e a abstinência da carne, que são quarta-feira de cinzas e sexta-feira santa. Mas aconselha seus fiéis a adotarem esta prática em todo o tempo da quaresma, particularmente nas sextas-feiras.
Em terceiro lugar e como coroamento das atitudes anteriores, vem a caridade. Sem ela, o jejum, a abstinência e a oração se tornam estéreis. A coleta da solidariedade, que a CNBB propõe como gesto concreto da Campanha da Fraternidade, é uma das formas de expressarmos a nossa conversão e demonstrarmos o nosso amor a Deus e aos irmãos.
Aproveitemos, portanto, este rico período da quaresma para uma verdadeira conversão interior, que nos leva ao coração de Deus e nos encaminha à fraternidade com as irmãs e os irmãos, desafiando-nos à solidariedade com os mais necessitados. Com isso, estaremos construindo as bases para a conversão pastoral e a conversão das estruturas.

*Bispo Diocesano