Início Geral RELIGIÃO | Uma frente contra o preconceito e o racismo

RELIGIÃO | Uma frente contra o preconceito e o racismo

Conselho Municipal do Povo do Terreiro pede apoio e ação da Câmara de Vereadores de Santa Cruz

Guilherme Athayde
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No começo deste mês, Santa Cruz do Sul foi palco de uma audiência pública sobre intolerância religiosa, em especial contra crenças de matriz africana. O evento foi promovido pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara de Vereadores, presidida por Alberto Heck (PT).

Um dos integrantes da ação foi o presidente do Conselho Municipal do Povo do Terreiro de Santa Cruz, Pai Leandro Liban d’Bara, que utilizou o espaço da Tribuna Popular, em reunião da Câmara de Vereadores, para pedir a abertura da Frente Parlamentar da Intolerância Religiosa, Racismo e Homofobia. Ele destacou que, apesar do município possuir quase 300 terreiros, ainda não há respaldo do Poder Público à abertura do órgão no Legislativo.

O líder religioso revelou que já conversou com o vereador Serginho Moraes (PL) sobre o tema do racismo e preconceito religioso, mas acredita que ainda é necessário maior esforço da sociedade para que o assunto seja levado adiante. “Sobre a frente parlamentar, eu não tive respaldo ou resposta de ninguém ainda. Espero uma resposta positiva da Câmara. Acredito que deva ter um apoio, mas não muito grande, é mais para não dizer que não estão fazendo essas políticas públicas”, refletiu.

Nascido e criado em uma família de tradição na relação com religiões de matriz africana, Leandro acredita que é necessário difundir o tema para reduzir os casos de discriminação que afetam os seguidores do candomblé, umbanda e kimbanda, que têm ligação profunda com a própria história do Brasil, trazidas pela população negra escravizada nos séculos passados. À frente do tempo Pai Ogum Megê, no Bairro Senai, ele afirma que o tema ainda é alvo de forte preconceito em Santa Cruz e lamenta que apenas dois vereadores, Alberto Heck (PT) e Jeferson Redondo (Republicanos), tenham comparecido à audiência pública.

“Santa Cruz é uma cidade muito intolerante e conservadora, dentro de uma bolha racista e intolerante. Já teve racismo contra os índios, contra nordestinos, e há muito preconceito religioso em Santa Cruz pelo conservadorismo, pela ignorância, falta de conhecimento e hipocrisia, pois, de dia, estão falando mal, sendo intolerantes, mas, à noite, muitos batem à porta dos terreiros”, observou.

Intolerância institucional

Outra reclamação é contra a falta de ação das instituições para combater o preconceito. Injúria racial e intolerância religiosa são crimes com penas de até cinco anos de prisão, mas, muitas vezes, os casos registrados acabam não tendo punições. “A gente hoje está muito afetado e faz boletins de ocorrência quase semanalmente pelos terreiros. Está uma onda de intolerância muito grande. Só o Conselho do Povo de Terreiro tem dois boletins de ocorrência feitos. Uma onde uma mulher associou uma estátua de orixá ao diabo e outra de um grupo de WhatsApp, chamando nós religiosos de psicopatas. Fora outros BOs que os terreiros fazem, quase semanais. Aí que eu falo que existe intolerância institucional, pois a instituição onde fizemos o boletim abre inquérito e fica só nisso, e não é tocado à frente”, reclamou Leandro.

Com um ano de ação completado no início deste mês, o Conselho Municipal do Povo do Terreiro é ligado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Inclusão. Além do presidente, Pai Leandro Liban d’Bara, a entidade tem como vice-presidente Pai Laone d’Ogum e Moa de Xangô de secretário, além de conselheiros da sociedade civil e de governo. Entre outros projetos, um dos objetivos do conselho é a criação de uma delegacia contra a intolerância religiosa, racismo e homofobia.

Ação vai entregar ninhos de Páscoa para crianças carentes

A terceira edição da Páscoa do Bem, promovida pela Associação Cultural Afro-Brasileira Salve Jorge, acontecerá no próximo domingo, 20. O evento é coordenado por Pai Leandro Liban d’Bara e visa alcançar até 500 crianças carentes dos bairros de Santa Cruz do Sul. A coordenação do evento busca doações da comunidade para confeccionar as cestas, que serão entregues a partir das 15 horas no Bairro Menino Deus.

“É uma ação social dentro da comunidade do Menino Deus, onde nasceu a Salve Jorge, e nos bairros arredores. Nesta ação social, a gente tenta levar um pouco de felicidade, e não deixar morrer esse sonho do coelhinho da Páscoa e da criança ganhar o seu chocolate. Muitas vezes, nas comunidades carentes, o pai e a mãe não conseguem dar um ninho de Páscoa para a criança e vai perdendo esses contos, como Natal e Páscoa. Então fazemos essa ação social de entregar os ninhos para crianças carentes”, destacou Leandro. Quem quiser ajudar, pode entrar em contato com ele pelo telefone (51) 99257-7599.

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