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Amigos do Cinema: filme dessa terça traz Maria e José modernos

LUANA CIECELSKI
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Censurado pelo Vaticano e proibido de ser exibido nos cinemas brasileiros, durante o governo de José Sarney, o filme Je Vous Salue, Marie, (Eu Vos Saúdo, Maria) de Jean-Luc Godard sempre foi polêmico e na época de seu lançamento, não pode ser assistido por muitas pessoas. Mas nessa terça-feira, dia 3 de abril, todos terão uma nova oportunidade, porque esse será o filme exibido pela Associação Amigos do Cinema nessa semana.  

O filme foi lançado na França em 1986 e tem 102 minutos. Ele pode ser definido de forma simplificada como uma reconstituição da história de Maria, José e da gestação de Jesus, porém, em tempos modernos, como se eles vivessem nos dias de hoje. Então temos Marie (Myriem Roussel), uma estudante que joga basquete e trabalha no posto de gasolina de seu pai e Joseph (Thierry Rode) que trabalha como taxista, além, é claro de Gabriel (Philippe Lacoste). 

Filme questiona como seria a gestação de Jesus e a história de Maria e José nos dias de hoje

E o enredo é bastante semelhante àquele que já conhecemos. Ao saber da gravidez de Marie, Joseph a acusa de traição, negando a realidade, enquanto Gabriel tenta convencê-lo a aceitar os planos divinos. Paralelamente a isso, também acompanhamos um professor de ciências que estuda a origem da vida na Terra e que se envolve com uma aluna, com quem mantem intensas discussões filosóficas.

A história é considerada sacrílega por alguns, e outros tantos costumam achá-la um tanto quanto incompreensível, porém, é unânime a concordância de que há uma espiritualidade evidente nessa obra, e uma espiritualidade surpreendente. A forma como o tema foi abordado por Godard é nova e criativa e também muito audaciosa. Apesar disso, ela não deixa a desejar na mensagem que passa, e talvez até aproxime a história divina da juventude. Até porque as duas personagens principais estão bem situadas em sua época e vivem os conflitos de um casal moderno: José tem um caso com outra mulher e Maria duvida do seu amor, por exemplo. 

Além disso, durante a história podemos acompanhar a transformação interna, emocional, psicológica e espiritual de Maria. A moça vai aceitando pouco a pouco o inacreditável porque não tem outra opção. Ela vai aos poucos assumindo o seu destino e descobrindo uma outra dimensão na vida. Chega mesmo a optar pela castidade e então, como uma mulher de carne e osso, que tem desejos de mulher, percebe o peso que essa castidade lhe impõe. “Nua na cama, vê-se a braços com o desejo, como todas as mulheres; e trava um combate desgastante contra a tentação”, definiu a crítica de cinema Annie Goldmann. “Tais tentações não empanam a espiritualidade de Maria, ao contrário, é pelo combate contra si mesma que atinge o mistério do espírito e se eleva em relação aos outros. Se tudo lhe fosse dado, se tudo lhe fosse fácil, o seu mérito seria menor”, conclui. 

A sessão, que acontece todas as terças-feiras na sede do Sindibancários, inicia às 20 horas. Ela é gratuita e aberta ao público. Toda a comunidade está convidada a assistir e participar do bate-papo que acontece após a exibição.