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Um chamado do povo indígena

LUANA CIECELSKI
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“Nós não queremos tornar as pessoas indígenas. Não queremos que elas vivam como nós. Mas queremos conhecê-las e queremos que elas nos conheçam”. Cheia de significado, de respeito pelo próximo e de um pedido por respeito, a fala do Guarani Mbyá, Vherá Poty, é uma boa definição para a exposição fotográfica aberta na noite de ontem na Casa de Artes Regina Simonis. 

Denominada “Os Guarani Mbyá”, o projeto promovido pela Universidade de Santa Cruz (UNISC), Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pelo SESC, trata justamente da temática indígena. No total, são cerca 60 fotografias feitas em conjunto pelo fotógrafo Danilo Christidis e pelo líder político Mbyá-Guarani Vherá Poty. São registros de um projeto que teve início há 10 anos, e que tem como principal objetivo sensibilizar as pessoas para a cultura indígena, como o próprio Danilo foi sensibilizado. 

Exposição reúne cerca de 60 fotos feitas em conjunto pelo fotógrafo Danilo Christidis e pelo líder Mbyá-Guarani Vherá Poty

Conforme conta Christidis, em 2008 chegou a ele um vídeo de uma tribo de indígenas sendo expulsa, de forma bastante indigna, de um de um determinado local pelo Estado. “Aquilo foi como um chamado pra mim”, relata. “Eu me convidei a estar com eles, a dar início ao projeto”. De lá para cá foram 10 anos de convívio muito próximo, uma troca de experiências, uma imersão cultural. E disso, resultou a exposição e também um livro, que coincidentemente – ou não! – chegaram à Santa Cruz do Sul no dia em que se comemorou o Dia do Índio. 

Ambos – livro e exposição – mostram o estilo de vida do povo de Vherá Poty. As fotos narram um modo de vida prosaico, diferente daquele conhecido nas cidades. E elas celebram essa diferença. Isso porque foram feitas por Danilo, sempre com a orientação de Vherá Poty, que no fim das contas acabou se tornando também um fotógrafo, e depois foram escolhidas por ambos, de forma que todas aquelas à mostra hoje promovem a vida e a relação com as diferenças. 

“A sociedade tem uma carência de perceber e de viver a diferença. Diferente não significa inferior”, diz Vherá Poty com toda a sua sabedoria. “E esse projeto é um exemplo simples de que é possível o convívio e a troca de cultura sem destruir os valores uns dos outros”, complementou. 

As fotos também trazem em si, as percepções indígenas das fases da vida, do convívio em comunidade, e também do convívio com a cidade que também invadiu suas vidas. “Temos muito o que aprender com os índios”, aponta Danilo. “E temos que dar visibilidade a eles, tanto com o fim corrigir uma injustiça histórica, quanto para rever a nossa vida, em especial no que se se refere a questões ambientais e de comunhão com a natureza”, destaca Danilo. 

A mostra está disponível para visitação a partir de hoje até o dia 26 de maio na Casa de Artes Regina Simonis que funciona de segundas a sextas-feiras, das 10h às 12h e das 13h15 às 17h15, e também aos sábados, das 10h às 17 horas.  No local estarão disponíveis para compra os livros do projeto “Os Guarani Mbyá”. A entrada para a exposição, porém, é gratuita.

Mais informações sobre a exposição podem ser conseguida pelo telefone (51) 3056 2086 ou pelo e-mail [email protected]. Outras informações sobre o projeto “Os Guarani Mbyá”, pela página no Facebook: www.facebook.com/OsGuaraniMbya/

OS GUARANI MBYÁ

Os Guarani representam uma das maiores populações indígenas do Brasil com cerca de 34 mil pessoas, com um território que se estende pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. Calcula-se que aproximadamente 3 mil deles vivem no Rio Grande do Sul, distribuídos em mais de 20 comunidades. 

Durante a realização do projeto até aqui, aproximadamente 15 delas foram visitadas pelo Cacique Mbyá da Aldeia de Itapuã, Vherá Poty e o fotógrafo e professor Danilo Christidis. Inicialmente, o indígena serviu como um guia, mas não demorou para que Poty se mostrasse um talentoso fotógrafo também. Então passou a ensinar Danilo a como perceber sua comunidade, sua cultura, costumes e formas de pensar o mundo. Certa vez ele disse a Danilo: “Vamos te receber como uma criança que precisa ser ensinada a perceber o mundo como nós percebemos”. 

Durante o processo, Vherá Poty além de guia, tornou-se ele próprio um fotógrafo

Embora restritos a diminutas áreas de moradia, os territórios de vida e circulação deste coletivo indígena abrange as florestas subtropicais do sul e sudeste, onde aprenderam a conviver em íntima comunhão com as matas que os alimentam e os justificam. Essa fantástica sócio-diversidade infelizmente é pouco conhecida dos brasileiros, sendo por isso pouco respeitada e valorizada. São distintas da sociedade envolvente suas línguas, eco-lógicas, formas de organização social, relação com a natureza e religiosidade, arte, educação, medicina e saúde, modos produtivos e manejo de recursos naturais, formas de culinária, gestação e parto, compreensão da infância, da velhice, do nascimento e da morte.