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Janeiro Branco: Precisamos falar sobre Saúde Mental

Psicóloga Caroline Maria Nunes fala sobre o Janeiro Branco

Viviane Scherer Fetzer
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Em 2014 foi criado o Janeiro Branco, uma campanha totalmente dedicada a colocar os temas da Saúde Mental em máxima evidência no mundo em nome da prevenção e do combate ao adoecimento emocional da humanidade. Desde lá, campanhas vêm sendo realizadas anualmente. O mês foi escolhido por ser de reflexão em relação ao ano que passou e ao que está por vir, desta forma, a campanha vem para auxiliar nesse autoconhecimento e na busca por realizações.  
Em 2020, o tema da campanha é ‘Precisamos falar sobre saúde mental’, convidando as pessoas para cuidarem de si e da saúde de todos, contribuindo para um mundo com mais sentidos, mais harmonia e mais culturas saudáveis para as mentes, os corpos e as relações sociais de todos. 
A psicóloga, Caroline Maria Nunes, em entrevista ao Riovale Jornal, reforçou a importância em iniciar o ano falando sobre saúde mental, “cuidar da saúde mental é abrir portas para o autoconhecimento, evitar o adoecimento e criar estratégias de como lidar com as adversidades da vida”. E também salientou a relevância de um cuidado e de uma aceitação em relação a valorização da saúde mental que “nos permite perceber que podemos prevenir e tratar o adoecimento mental, buscando qualidade de vida”.

‘Riovale Jornal’ – Por que começar o ano falando sobre saúde mental?
Caroline Maria Nunes –
Falar sobre saúde mental se apresenta uma demanda cada vez mais emergente. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o índice de suicídio no Brasil aumentou consideravelmente nos últimos anos já que estamos vivendo em um momento em que muitas pessoas se encontram adoecidas psicologicamente e hesitam em procurar por ajuda, principalmente pelos estigmas e preconceitos que são criados em torno do cuidado com a saúde mental, pois quando se fala em saúde mental, logo se associa “doença” ou “transtorno” mental. Deste modo, percebe-se que muitas vezes se é dada uma ênfase maior ao cuidado da saúde física, esquecendo-se do corpo enquanto totalidade, do lado mental e interno. Há uma busca incessante de olhar para fora e uma evitação de se confrontar com a dor e o sofrimento, até porque é “vergonhoso” assumir que não se está bem. Vivemos em uma sociedade que cobra por felicidade a todo instante, o que podemos denominar de “positividade tóxica”, não existindo a possibilidade de dar lugar para o sofrimento e de poder validá-lo. Ainda que a geração atual venha rompendo barreiras e preconceitos em relação ao cuidado à saúde mental, grande parcela da população possui desconhecimento sobre os recursos a que pode recorrer, tais como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) que é um serviço público de saúde. É importante ressaltar que quando se fala em saúde mental, não se fala em ausência de doença mental, mas sim, a possibilidade de entendimento sobre suas emoções e sentimentos. 

‘R.J.’ O que buscam os profissionais da área com o Janeiro Branco?
C.M.N –
Os profissionais buscam sem sombra de dúvidas a conscientização da população. É por meio da disseminação de informações que podemos transmitir a importância do cuidado com a saúde mental. Como havia ressaltado, a conscientização se faz pertinente, uma vez que o cuidado com a saúde mental ainda é alvo de preconceitos. Comumente julgamos quando alguém busca por ajuda profissional, rotulando-o como “maluco” ou “louco”. Sempre costumo dizer que admitir reconhecer que precisamos contar com o apoio de um profissional jamais será sinônimo de fraqueza, e sim de coragem para querer enfrentar os seus problemas, até porque problemas todos nós temos, mas quem vai ao psicólogo é quem quer enfrentá-los. Por isso, cuidar da saúde mental é abrir portas para o autoconhecimento, evitar o adoecimento e criar estratégias de como lidar com as adversidades da vida. 

RJ – “Precisamos falar sobre saúde mental” esse é o tema da campanha desse ano. Isso serve para reforçar a importância do tema e também para tentar acabar com o tabu em relação ao assunto?
C.M.N. –
Com certeza. Há uma tentativa muito grande de nós, profissionais de saúde mental, em proporcionar o conhecimento sobre o assunto, entendendo que quanto mais for disseminada a importância do cuidado em relação à saúde mental, maior serão as possibilidades de (des)construções acerca deste tema. Valorizar a saúde mental nos permite perceber que podemos prevenir e tratar o adoecimento mental, buscando qualidade de vida.

RJ – Quais as formas de tentar manter a saúde mental em dia? Aliar a saúde física e emocional também é necessário?
C.M.N. –
São inúmeras as formas de manter a saúde mental em dia. A primeira delas é buscar por autoconhecimento por meio da psicoterapia porque a partir disso, você poderá reconhecer em si quais são seus desejos e o que para VOCÊ é capaz de provocar saúde e bem-estar, já que isso dependerá da singularidade, particularidade e subjetividade de cada pessoa. É de extrema importância aliar a saúde física e mental, entendendo que corpo e mente são aspectos indissociáveis. Se o emocional de alguém não anda bem, poderá desenvolver um adoecimento psicossomático, que são de uma ordem psíquica. As doenças psicossomáticas estão relacionadas as nossas emoções que por estarem em conflitos e em desequilíbrio, encontram no corpo uma “válvula de escape”, já que o que não trazemos à tona por meio da fala, o corpo arruma um jeito de evidenciar. Geralmente estes adoecimentos se manifestam no corpo por meio de sintomas bem comuns, tais como dores de cabeça, gastrites, descontrole da pressão arterial, além de outros comportamentos ansiosos e compulsivos, que dificilmente associamos às nossas emoções. Por isso, buscar identificar a origem e a causa destes sintomas é fundamental, pois somente quando tivermos a consciência do aparecimento destes adoecimentos, poderemos encontrar soluções e maneiras de como manejar essa situação. Além disso, outras dicas preciosas que eu sugiro são: priorize cuidar de você, busque reconhecer as suas emoções e sentimentos, fortaleça os vínculos sociais e afetivos, desfrute do tempo ócio, exercite a mente e o corpo com aquilo que lhe proporcione prazer.  

Tratamento com psicoterapia

A psicóloga, Caroline Maria Nunes, também explicou como a psicoterapia pode somar a essa busca pela saúde mental. 
“A psicoterapia se refere ao tratamento do sofrimento e adoecimento psíquico. Este tratamento se dá por meio da fala e da escuta com o apoio exclusivo do psicólogo, já que a psicologia é uma ciência que estuda a mente humana que envolve a relação entre as emoções e os comportamentos. Para procurar um psicólogo, não se deve esperar o sofrimento se transformar em adoecimento. Muitas pessoas vão procrastinando o cuidado mental, achando que ele irá amenizar com o passar do tempo, o que resulta em uma bola de neve sem fim. Por isso, é importante a identificação de sinais de alerta que indicam conflitos internos. Estes sinais de alerta podem ser definidos como aquela tristeza que não é passageira, não estar se sentindo bem consigo mesmo, sentir-se ansioso repetidamente, entre outros fatores. A psicoterapia não é um processo simples, eu costumo dizer que é um processo gradual e a longo prazo, pois a mudança não se dá de forma imediata. Não dispomos de poções mágicas e nem de receitas milagrosas. Não existe algo que sirva de parâmetro para todos. Será por meio da fala que o paciente poderá elaborar o que ainda é incompreensível, tendo clareza sobre o que se encontra nebuloso. A psicoterapia é um processo de construção conjunta, entre psicoterapeuta e paciente que buscam atribuir sentido e dar significado para o que ainda não tem nome. Nomear sentimentos e emoções, desbloquear traumas da infância e consequentemente possibilitar o autoconhecimento, são premissas da psicoterapia. Os benefícios da psicoterapia são inúmeros, já que proporciona ao paciente a independência necessária para lidar com suas emoções e superar dificuldades por meio do desenvolvimento de habilidades emocionais. Por isso que sempre digo a todo paciente que chega até meu consultório: Não vamos ao médico quando estamos com alguma queixa/dor física recorrente? Por que hesitamos em procurar por apoio psicológico quando vivenciamos alguma dor que nem sempre o remédio é capaz de curar? Ainda estamos habituados nas soluções médicas, e considero elas fundamentais em determinadas situações, mas como costumo dizer, a medicação atuará na amenização do sintoma, não na causa dele. Por isso, a psicoterapia é o maior investimento que você poderá fazer em você. Neste novo início de ano, destacando-se o janeiro branco, aproveite para refletir sobre o que você queira mudar em sua vida e recomece. Dê essa nova chance a você! Lembrando que cuidar da saúde mental não é apenas no janeiro branco e/ou no setembro amarelo, é o ano todo”.

Caroline Maria Nunes é psicóloga graduada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Atualmente é mestranda em Psicologia Social e Institucional na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Laboratório de Psicodinâmica do Trabalho (PPGPSI/UFRGS). Atua em Santa Cruz do Sul como psicóloga clínica em consultório particular, atendendo adolescentes e adultos que buscam por meio da psicoterapia um espaço privilegiado de fala e escuta que auxilie no autoconhecimento e no cuidado da saúde mental. Além disso, desenvolve a Clínica do Trabalho, prestando consultorias e palestras as organizações de Santa Cruz do Sul, Porto Alegre e região. Experiência na área de Psicologia, ênfase em Clínica do Trabalho, Saúde Mental e Trabalho e Psicologia Social e Institucional.