Início Geral Manifestação não tem previsão de fim

Manifestação não tem previsão de fim

Sara Rohde
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Luana Ciecelski
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Um momento histórico está ocorrendo no país neste ano de 2018. Devido a alta da inflação e o aumento dos impostos, os caminhoneiros estão paralisados o que impede o abastecimentos da maioria das mercadorias. São quatro dias de protestos até essa quinta-feira, 24, e não há previsão do término.
Em conversa com os motoristas manifestantes em Santa Cruz do Sul a manifestação não vai acabar enquanto não baixar o preço do diesel e dos pedágios. Segundo um dos organizadores do protesto no município (preferiu não se identificar), os motoristas estão firmes e não tem a intenção de ceder sem um acordo, “ou o governo dá jeito de baixar o valor do diesel ou não vamos parar de manifestar”. O caminhoneiro ainda ressalta que além do valor alto do diesel o valor cobrado nos pedágios é inadmissível “pagamos R$ 3,10 por cada eixo, não importa se ele está rodando ou está erguido, o valor é cobrado igual, tem caminhão com 9 eixos o que dá em torno de R$ 30,00 só em um pedágio, imagina em todos, isto é um absurdo”, completa. 
Os caminhoneiros estão protestando em vários locais do Estado – já foram registrados 36 pontos de interdições em rodovias gaúchas – desde a última segunda-feira, 21. Em Santa Cruz do Sul a paralisação iniciou com mais de 120 caminhões parados e os protestos seguem com intensidade no entroncamento da RSC-287 com a BR-471. Em outros 23 estados a situação é semelhante. 
Conforme o Conselheiro Fiscal dos Postos Pflug, Walter Pflug, o sentimento é de preocupação, mas ao mesmo tempo é de revolta com a situação em que o país se encontra. “Alguma coisa devia ser feita e ainda bem que está sendo feita”. Segundo Walter toda a rede Pflug ficou sem combustíveis, “eu não consegui abastecer meu próprio carro porque nas oito redes de postos Pflug acabou a gasolina e não temos previsão de quando haverá combustível novamente”.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, em anúncio nessa quinta-feira, 24, a mobilização só vai acabar quando o presidente Michel Temer sancionar e publicar, no Diário Oficial da União, a decisão de zerar a alíquota do PIS-Cofins incidente sobre o combustível. Em reunião na manhã dessa quinta-feira, 24, com a equipe econômica, Temer disse que ceder ao movimento grevista pode estimular outros setores insatisfeitos a iniciarem novas greves pelo país.  
Na noite da última quarta-feira, 23, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou o projeto que zera o PIS-Cofins sobre o diesel até o final do ano, agora falta passar por análise e aprovação do Senado. O presidente do Senado, Eunício Oliveira, viajou na última quarta-feira, mas devido a repercussão de sua viagem decidiu retornar à Brasília e marcar para as 19 horas dessa quinta-feira uma reunião com líderes e representantes das entidades dos caminhoneiros. Até o fechamento desta edição nada havia sido decidido pelo Senado.

 

 

O QUE ESTÁ FALTANDO

GASOLINA

Um dos itens mais críticos é a gasolina. Na maior parte dos postos de Santa Cruz do Sul, o combustível já havia terminado no fim da manhã de ontem. Esse foi o caso da rede de Postos Pflug. Por volta das 10 horas, todos os oito pontos de comercialização já estavam sem gasolina para fornecer. O mesmo aconteceu na rede de postos Sim. Às 10h30 todo o combustível havia terminado também. Já na rede de postos Nevoeiro, os estabelecimentos do centro da cidade também ficaram sem combustível logo cedo, mas até o fim da manhã o estabelecimento de Linha Santa Cruz ainda permanecia abastecendo. Um dos últimos postos com combustível na cidade foi o Posto 1, que encerrou o abastecmento por volta das 16 horas de ontem.

Motoristas fizeram fila para abastecer os veículos antes que a gasolina acabasse

GÁS DE COZINHA

Outro item que está terminando em Santa Cruz do Sul é o gás de cozinha, de acordo com levantamento feito pelo Riovale Jornal, no fim da manhã de ontem, cinco depósitos já estavam fechados por falta de estoque. Nos demais, a previsão era de o fornecimento seria possível apenas até o fim da tarde de ontem, em alguns, e em outros até o meio dia de hoje. Não há previsão de chegada mais estoques. 

ALIMENTOS

Também foram registrados problemas de abastecimento dos supermercados da cidade, de acordo com informações divulgadas pelo presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesar Longo. A principal preocupação é na área dos perecíveis. “A partir dos próximos dias, se a situação não se normalizar, poderá haver desabastecimento em itens de hortifrúti, carnes, frios e laticínios refrigerados, por exemplo”, explica. 
Já em relação aos produtos não perecíveis, Longo aponta que os supermercados possuem um estoque médio de segurança de 15 dias. “Com relação a estes produtos, não há risco de desabastecimento para o consumidor final em um curto prazo”. Nesse grupo se enquadram itens de mercearia – massas, biscoitos, grãos, leite, açúcar, bebidas, farináceos, matinais, condimentos, doces, bombonière, etc. – higiene e beleza, limpeza, bazar e não alimentos em geral. 

 

OUTRAS PARALISAÇÕES

MUNICÍPIOS GAÚCHOS

Em função da greve, a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) orientou que os municípios paralisassem todos os equipamentos e serviços que utilizam combustíveis, exceto na área da saúde, nessa sexta-feira, 25 de maio. A decisão foi tomada com base em pesquisa realizada pela Famurs junto aos prefeitos. Dos 497 municípios, 373 anunciaram que devem aderir à paralisação. Santa Cruz do Sul não faz parte da lista.
A orientação da Famurs é que os municípios façam uma paralisação por um dia, considerando os preços abusivos praticados, o corte do repasse da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide-combustíveis) aos municípios e em apoio aos caminhoneiros. O presidente da Federação ainda alerta que o corte da Cide irá impactar nos municípios que já enfrentam uma grave crise financeira, protestos dos caminhoneiros e desabastecimento. “O aumento no preço dos combustíveis e a desoneração da Cide, diminuindo o que é repassado aos municípios, irá afetar a economia dos entes que já recebem menos recursos”, disse.

TÁXIS 

Também em apoio aos caminhoneiros a Associação de Rádio Táxi de Santa Cruz do Sul convocou na tarde de ontem uma paralisação como forma de pedir a redução do preço do diesel. Pedidos de corridas não foram atendidos entra às 15h e às 18 horas, e dezenas de taxistas do município e da região se reuniram no Posto 1, localizado na Rua Carlos Trein Filho. Dali eles se dirigiram ao trevo do Gaúcho Diesel, na RSC-287 para se unir à manifestação dos caminhoneiros.
Também em apoio aos taxistas e caminhoneiros, na tarde de ontem funcionários de diversas empresas localizadas na Carlos Trein Filho bloquearam a via com seus próprios veículos, na quadra entre as ruas Júlio de Castilhos e a Tabelião Rudi Neumann. “Temos que fazer alguma coisa, temos que apoiar esses caminhoneiros, porque a causa deles é de todos nós”, disse uma das manifestantes. 

Taxistas se reuniram no Posto 1 para ir, em carreata, até o trevo do Gaúcho Diesel

EDUCAÇÃO

Na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), as aulas da noite de ontem, dia 24, e da manhã de hoje, foram suspensas em todos os campi. A nota divulgada pela universidade também informava que “caso o mesmo quadro persista no dia de amanhã (hoje, dia 25), a medida será também essa. Se o movimento cessar ainda hoje, as aulas de amanhã, sexta-feira, serão normais (tarde e noite)”. 
Já nos ensinos fundamental e médio, algumas escolas da região estão tendo problemas com a falta de transporte. A Secretaria Estadual de Educação (Seduc), porém, orientou as Coordenadorias Regionais (CREs) por meio de nota “a manterem normalmente o funcionamento nesta sexta-feira (25) e durante o período da greve dos transportadores de carga”. Seguindo essa orientação, todas as escolas da região permanecerão de portas abertas e eventuais problemas devido à falta de transporte para os alunos e professores deverão ser tratados caso a caso pelas escolas e pela CRE. 
As aulas que por ventura forem perdidas devido à greve serão totalmente recuperadas junto às escolas afetadas. “Não podemos parar totalmente, porque nem todos os nossos estudantes dependem de transporte coletivo”, disse o Coordenador Regional de Educação, Ricardo Pinho de Moura. Ele garantiu ainda que todas as escolas estão com um bom estoque de merenda para os próximos dias e que esse não deverá ser um problema também. 

TRANSPORTES

Até o fechamento dessa edição o Consórcio TCS, responsável pelo transporte coletivo urbano de Santa Cruz, não tinha um posicionamento oficial a respeito de mudanças nas linhas de ônibus. Reuniões foram realizadas na tarde de ontem entre os diretores das empresas para discutir essa questão. A empresa Stadtbus, porém, informou que havia combustível para trabalhar normalmente durante o dia de ontem, mas ainda não se tinha informações sobre o fornecimento do serviço a partir de hoje. 
Já a Viação União Santa Cruz deve trabalhar normalmente. De acordo com o diretor-presidente, Sérgio Pauli a empresa tem procurado atender com normalidade. “As frotas trabalharão em todos os horários e dias pelos próximos cinco dias”, ele disse.