Sara Rohde
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O coreógrafo Sandrinho Bittencourt trabalha com a arte há mais de 20 anos. E o seu trabalho é muito mais que um serviço, é uma ação social. Sandrinho Hip Hop é coordenador do Projeto SandrinCrew que resgata crianças da periferia e oferece uma perspectiva de vida longe do crime, das drogas e violência. Através da dança e do Hip Hop o olhar dos pequenos brilha e a partir dali surgem sonhos.
Sandrinho é professor e coordenador de dança na escola EMEF Bom Jesus há mais de 6 anos. Ele trabalha com aproximadamente 30 crianças de 6 a 18 anos de idade que praticam a dança no turno inverso ao das aulas, justamente para não perder as atividades escolares. Sandrinho é coreógrafo profissional membro do Sindicato dos Artistas do Rio Grande do Sul (Sated/RS), e estimula as crianças e os jovens, através da arte, a ver o mundo com um olhar de esperança, e em cima de um palco, saber que uma linda forma de viver é possível.
Necessidade de um apoio – O projeto SandrinCrew é apoiado pela comunidade da periferia e por todos os funcionários da instituição de ensino em que trabalha. Mas esse apoio não é suficiente diz Sandrinho, “precisamos do apoio de uma empresa, de alguém que enxergue a esperança neste projeto, pois as crianças vão às aulas na escola muitas vezes com fome e pés descalços”, comenta. Segundo o coreógrafo, as crianças que dançam passam fortes necessidades, “a grande maioria das crianças não tem força para dançar, fazer um movimento novo ou até mesmo dar um mortal, pois a fome não deixa, não há força no corpo”, lamenta.
O coreógrafo sente falta de um apoio, tanto em um lanche, uma merenda, como de uma locomoção para levar os alunos às aulas e depois em casa, “é muito perigoso para estas crianças irem sozinhas embora, daqui a pouco encontram alguém no caminho que lhes ofereça dinheiro, ofereça uma refeição em troca do tráfico e daí não voltam mais. Quando tem alguma apresentação, geralmente eu levo os alunos com o meu carro, faço quantas corridas for preciso. Esta é outra dificuldade, pois as crianças vêm de bairros como Margarida, Boa Esperança, Santuário, Faxinal, Menino Deus. Tem vezes que elas não vêm ao Projeto, e outras vezes tenho que buscá-las em casa”.
A vulnerabilidade social da escola Bom Jesus é forte e há bastante carência de cultura, por isso que o Sandrinho escolheu a instituição de ensino. As crianças frequentam a escola para aprender, mas principalmente para se alimentar, porque depois da merenda não sabem quando será a próxima refeição. E se não for a arte e a cultura para tirar estas crianças das ruas, o crime ou o tráfico as levarão, pois haverá inúmeras oportunidades de comprar um par de tênis, de jantar e almoçar.
Além da instituição de ensino EMEF Bom Jesus, Sandrinho também oferece aulas de dança na Igreja Evangélica (IECLB) Centro há oito anos, espaço cedido pela paróquia. Durante as aulas há inúmeras atividades educacionais, “uma das coisas que os alunos sentem é a rigidez, pois o trabalho é em cima do Estatuto da Criança e do Adolescente”, explica. O projeto é realizado com teatro em dança, arte cénica, postura de palco, sapateado, street, pop, jazz e a expressão.
O projeto dentro de casa: o ensinamento passado para as crianças vai até as casas das famílias. Tem criança que cresceu, se tornou adulto, teve filhos, e hoje os pequenos participam do projeto. “Os adultos levam os filhos às aulas para seguir o exemplo dos pais, longe do crime, da violência, isso é um motivo de orgulho. Quando eles dançam passa aquele filme de vinte anos atrás e eu me vejo dançando. Eu me sinto orgulhoso de fazer o que faço”, ressalta Sandrinho.
Como apoiar: os interessados em apoiar o Projeto Sandrincrew podem entrar em contato com o Sandro Bittencourt através do telefone 51 9 97729514.














