Um depoimento emocionado marcou a cerimônia de abertura do evento em comemoração aos 30 anos da reforma psiquiátrica no Rio Grande do Sul e 25 em Santa Cruz do Sul, nessa terça-feira, 31, no auditório central da Unisc. Integrando a mesa de honra, a presidente da Associação de Usuários, Familiares e Amigos dos Centros de Atendimento Psicossocial, Janete Jaeger, lembrou, com profunda gratidão, da acolhida no Caps II pela primeira vez, há cerca de 20 anos, quando buscou de ajuda para tratar a depressão.
“Por dois anos e meio, me senti como uma morta viva. O sorriso do recepcionista naquele momento foi um bálsamo para a minha dor”, atestou Janete ao recordar o seu ingresso no serviço especializado de atendimento a pessoas em sofrimento psíquico. Ela enalteceu o acolhimento, o respeito e o tratamento dado a ela e a outros pacientes pelos profissionais da rede e falou do quanto as oficinas terapêuticas, especialmente a de teatro, ajudaram em seu tratamento. “A depressão te mata aos poucos. Não é fácil ser doente mental, mas tratamento em liberdade não tem preço. No Caps, aprendi a ser protagonista da minha própria vida e sei que posso fazer muitas coisas”, enfatizou Janete.
A empatia dos profissionais que atuam na área da saúde mental permeou o pronunciamento das autoridades para uma plateia composta por usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), prestadores de serviços, trabalhadores da saúde, alunos e professores da universidade. Para a promotora Catiuce Barin, a reforma psiquiátrica significa uma evolução na garantia dos direitos das pessoas com doenças mentais. “Não acredito em retrocesso, só em evolução. A reforma psiquiátrica veio para garantir dignidade e um olhar que não mais exclua, que não mais segregue”, sublinhou. Segundo ela, os profissionais que trabalham na área precisam de uma dose extra de empatia e sentimento de humanidade.
A secretária municipal de Saúde, Daniela Dumke, ressaltou que a data é, sim, de comemoração. “A gente, quando vê de fora, não entende toda a amplitude que tem a saúde mental. Hoje vejo tudo com um olhar diferente, é um cuidado que começa já na rede de atenção básica. Em algum momento da vida, todos nós poderemos precisar de algum tipo de cuidado”, frisou. “Ninguém precisa receber tratamento trancafiado, amarrado, e sim com toda a liberdade e dignidade, como todo ser humano merece”, reforçou.
As psicólogas Terezinha Klafke, docente do Departamento de Ciências da Saúde da Unisc e subcoordenadora do curso de Psicologia, e Melissa Dorneles, profissional do Caps II, especialista em Psicoterapias Dinâmicas e integrante do Fórum Regional de Saúde Mental do Vale do Rio Pardo, explanaram no painel Reforma Psiquiátrica no Rio Grande do Sul. Ambas são militantes da luta antimanicomial.