Sara Rohde
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As atividades da Associação Pró Ensino de Santa Cruz do Sul (Apesc) iniciaram em 1962, ano da fundação da associação e início da Faculdade de Ciências Contábeis. Um longo período foi percorrido até a universidade ser fundada. Em 1967 iniciaram os cursos de Filosofia, Ciências e Letras. Um ano depois, em 1968, foi a vez da Faculdade de Direito e, após dois anos, da Escola Superior de Educação Física.
No início as aulas de ensino superior eram oferecidas em salas cedidas pelos colégios do município. Em meados de 1973 as aulas começaram a ser ministradas no Pavilhão Central da Oktoberfest, e em 1977, as aulas seguiram para um prédio próprio, construído pela associação, na Rua Cel Oscar Jost.
Em 1980 a Apesc obteve autorização do Ministério da Educação para a criação das Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul (FISC), concentrando as quatro faculdades em um só local. Foi em 1993, após entrega e construção do projeto e reorganização dos departamentos, que a Fisc passou a se chamar Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
Confira a entrevista com o professor e pró-reitor de graduação da Unisc, Elenor Schneider, onde ele conta como foi este processo de transição:
Riovale – Em que ano entrou na Fisc/Unisc? Elenor: Cheguei a Santa Cruz do Sul em 1969, mesmo ano em que iniciei meu curso de Letras, que era extensão da Faculdade Imaculada Conceição de Santa Maria. Nossas aulas aconteciam no Colégio Sagrado Coração de Jesus.
Riovale – Quais as principais lembranças que têm daquela época? Elenor: O ensino superior estava apenas começando em SCS. Letras fora implantado em 1967 e tudo era muito precário. Livros praticamente não existiam, nossos professores eram extremamente dedicados, mas na época nem se pensava em profissional com mestrado ou doutorado. Lembro de um período em que seus salários chegaram a atrasos de até 8 meses. Porém, nunca deixaram de dar suas aulas, numa dedicação e abnegação consideráreis, uma vez que todos estavam unidos em torno da ideia de que o ensino superior aqui era importante e de que essas dificuldades seriam superadas ali adiante. As bases, as pedras fundamentais do ensino superior, essas que ficam escondidas debaixo do prédio exuberante que se construiu depois, se amalgamaram em cima de uma doação que hoje se conceberia impossível.
Riovale – Como foi o processo de transformação da Fisc em Unisc? Elenor: Penso que um passo fundamental foi a presença gradativa de professores com pós-graduação e, acima de tudo, com tempo integral ou parcial dedicado às faculdades. Por muitos anos, nosso ensino superior era conduzido por professores em regime especial (horistas), quase todos ocupados com outros espaços de trabalho. Com a presença de professores com mais tempo para leitura, debates, reflexão, surgiu a ideia de que seria possível transformar nossas faculdades isoladas em integradas, que foi o processo que antecedeu a criação da universidade.
Riovale – E a mudança de local? (antes funcionava na atual Secretaria de Educação) Elenor: Antes de chegar alo prédio da Secretaria de Educação, perambulamos por vários outros (generosos) espaços: Colégio São Luís, Colégio Sagrado Coração de Jesus, Colégio Mauá, Colégio Ernesto Alves de Oliveira, piscina da Ginástica, Parque da Oktoberfest (então Fenaf). O novo espaço começou a ser ocupado a partir dos primeiros anos da década de 80 e essa passagem foi gradativa. O grande impulso de construções veio mesmo quando alcançamos o status de universidade. Só para lembrar: quando a Unisc começou a ocupar o espaço atual, a ideia era considerada um absurdo, com ampla repercussão na imprensa da época. “O que querem no meio daquelas macegas”, se dizia.
Riovale – A Unisc se desenvolveu, cresceu ao longo dos anos, quais seriam, na tua opinião, os principais momentos dessa trajetória? Elenor: Eu penso que cada momento foi importante. Por que considerar as grandes dificuldades iniciais menores do que a implantação de um curso de grande repercussão alguns anos depois? Talvez tenha havido mais dificuldade nesses primórdios do que em tempos posteriores. Até os primeiros anos da década de 90, as licenciaturas, por exemplo, cumpriram um extraordinário papel de formação de professores para todas as escolas da região e muitas do estado.
Riovale – Como é, pra ti, fazer parte da Unisc há tantos anos, e vê-la se desenvolver? Elenor: Criei um lema, o qual repito muitas vezes: a Unisc é minha casa de pão e de formação. Acompanhei praticamente todos os seus passos, seja como aluno e, desde muito cedo, como professor. Minha vida está inteiramente pautada pela universidade. Sempre fui muito feliz e realizado neste espaço.
Riovale – Mesmo para um professor, é um aprendizado constante trabalhar em uma universidade? Para o profissional de uma instituição superior, aprende-se diariamente com todo o contexto (acadêmicos, funcionários, demais professores)? Por quê? Elenor: Sem dúvida. No dia em que deixar de aprender, de querer aprender, de não ter desejo de aprender, o espaço da universidade perdeu seu sentido e precisa me excluir. Guimarães Rosa dizia que “mestre é aquele que de repente aprende”. Com plena certeza, mesmo com muitos anos de magistério, muito mais aprendi do que ensinei.
Riovale – É uma satisfação trabalhar em uma instituição que contribui decisivamente com a realidade da comunidade e do país? Por quê? Elenor: Quando cheguei a Santa Cruz, esta era uma cidade interiorana e pequena. Sempre olhei com profunda atenção para o tanto que a Unisc contribuiu e contribui para o crescimento cultural, educacional, político, econômico do município e de toda a região. Ter em sua história em torno de 37 mil profissionais formados tem um preço que ninguém consegue avaliar. A Unisc é uma genuína universidade comunitária. Seu ensino superior nunca visou a lucros, mas o desenvolvimento da região.
Riovale – Conta um pouco sobre o aplicativo utilizado pelos alunos e professores? Elenor: Essas mudanças vêm em alta velocidade e, como qualquer nova proposição, recebem olhar de desconfiança e depois se consolidam. O aplicativo nos conectou ainda mais dentro da vida acadêmica.
Riovale – E as salas multifuncionais? Elenor: As salas multifuncionais acompanham uma tendência irreversível. Agora, só elas não modernizam o ensino. A peça fundamental ainda continua sendo quem nelas se move: o professor. O tempo é, como nunca, de desacomodação.















