Grasiel Grasel
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Trabalhar em um escritório tradicional ou em casa, com home office, por vezes pode trazer uma vida estressante às pessoas que não são capazes de se adaptar a estes estilos. O ambiente hierarquizado corporativo e sua carga de competitividade pode ser frustrante, assim como qualquer outra tarefa de casa pode ser mais interessante do que trabalhar. Para resolver estes problemas, uma alternativa vem se tornando cada vez mais popular no Brasil: o coworking.
A ideia do coworking em si nem é tão nova. Clínicas com médicos de diferentes especialidades ou escritórios com advogados independentes que trabalham nos mesmos espaços já desenvolviam essa modalidade há muito tempo, a diferença é que agora existem estas opções capazes de comportar quaisquer negócios que não necessitem de uma estrutura tão robusta como a de um escritório tradicional e que não precisam ter ligação alguma entre suas diferentes áreas.
O intuito do coworking é oferecer um ambiente compartilhado para que pessoas de diferentes áreas possam trabalhar, evitando qualquer tipo de hierarquia entre elas. O maior benefício? De longe as possibilidades de networking que surgem entre os coworkers, que trocam produtos, serviços e indicações. Santa Cruz conta com um espaço destes desde abril do ano passado, o Lote 779.
Quem visita o empreendimento das irmãs Mirela e Michele Hoeltz vislumbra a dedicação das duas em criar um espaço colorido e aconchegante, que tem justamente o objetivo de fazer o cliente se sentir em casa, mas sem as preocupações que teriam nas suas. Com a ajuda das filhas, Mirela e sua irmã visitaram diversos espaços de trabalho compartilhado pelo Brasil, um esforço de meses até chegarem em um modelo que acreditaram ser possível para a realidade da cidade.
NOVAS OPORTUNIDADES
Em cidades maiores, empresas de grande porte já optam pelo coworking, mas no interior ainda não existe essa cultura, o que faz com que apenas microempresas ou empreendedores individuais optem pela modalidade de espaço de trabalho. Em São Paulo, por exemplo, locais com um propósito semelhante ao do Lote 779 já ocupam grandes prédios e chegam a abrigar empresas com mais de 100 funcionários.
Em Santa Cruz empresas de grande porte já começam a demonstrar interesse pelo coworking. A JTI, gigante do mercado de tabaco internacional, já faz reuniões e treinamentos no Lote 779. “Realizar reuniões em um espaço diferente do nosso ambiente diário de trabalho, moderno, colorido e confortável, ajuda no processo criativo, reforça o foco e dedicação ao momento programado, além de gerar maior integração entre os colegas”, explica Anelise Townsend, do setor de RH da empresa.
Diogo Rodrigues é franquiado do Delivery Much, aplicativo de pedir comida por entrega criado em Santa Maria. Ele conta que já possuía outra estrutura para seu empreendimento, na incubadora da UNISC, mas ao expandir o negócio optou por buscar alternativas diferentes e descobriu o coworking. Hoje possui uma sala privativa
no Lote 779 onde trabalha com outros dois estagiários. “A gente acaba atendendo os próprios coworkers, conseguimos fidelizar clientes aqui e eles nos recomendam lá fora, isso faz toda diferença”, conta Diogo, que também diz já ter comprado produtos e indicado serviços de colegas do Lote 779.
Outro ponto positivo destes ambientes de trabalho compartilhado é o empreendedor não precisar se preocupar com ter que pagar por luz, água, internet ou limpeza, pois tarefas mais burocráticas como estas ficam por conta da administração do espaço. Mirela explica que o cliente paga apenas pelo serviço, não precisa se preocupar com taxas extras, “aqui tu não precisa nem se preocupar com comprar papel higiênico”, diz aos risos.
CONCENTRAR É PRECISO!
Embora a proposta de oferecer total liberdade aos coworkers possa parecer atrativa, Mirela explica que é necessário que eles sejam pessoas capazes de manter o foco e responsáveis, pois cada cliente pode trabalhar da maneira como quiser, o que nem sempre é algo bom pra eles. ”Quem não consegue manter o foco e desligar não se adapta, algumas pessoas precisam de um chefe. Isso depende muito da personalidade de cada um”, diz a administradora, que também conta que já recebeu clientes que desistiram de tentar trabalhar no local por não serem capazes de se controlar.
Aos que conseguem se adaptar, um ambiente cheio de oportunidades e pessoas animadas fica à espera, como conta Marcela Carvalho, gestora de riscos de contas de seguros de transportes, que veio para Santa Cruz diretamente de Rondônia. “Você pode chegar numa bad, daquelas que não dá vontade nenhuma de trabalhar, mas daí a pessoa já te dá oi e te dá um abraço ou aquele sorrisão. O teu dia muda”, diz.
COWORKING DAY
Nesta sexta, dia 9, acontece mundialmente o Coworking Day, uma data especial na qual os estabelecimentos da categoria oferecem uma programação diferenciada para os coworkers e sua comunidade. O Lote 779 vai oferecer às suas empresas parceiras um café da manhã especial, um dia com acesso gratuito ao espaço compartilhado e o tradicional “Lote Talk” com duas advogadas clientes, que vão falar sobre direitos e deveres de um Microempreendedor Individual.
Dados do site Coworking Brasil apontam que já existem 37 espaços conhecidos no Rio Grande do Sul, espalhados por 16 cidades diferentes e com uma concentração maior em Porto Alegre e região metropolitana. O Lote 779 é o único no Vale do Rio Pardo.
Dados sobre o coworking no Brasil
-Cerca de 214 mil pessoas frequentam coworkings mensalmente
-A idade média dos coworkers é 33 anos
-43% são proprietários de uma empresa, 31% são profissionais independentes
-36% das empresas são compostas por uma pessoa e 34% até 5 pessoas
-Os principais segmentos de atuação são Marketing (16%) e TI (15%)
-46% trabalhavam anteriormente em casa e 37% em escritório tradicional
-72% identificaram alguma melhora no networking profissional
-77% tiveram alguma melhora na produtividade no trabalho
Fonte: Coworking Brasil, 2018














