Tiago Mairo Garcia
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Violência contra a mulher. Um problema social que atinge as mulheres em seus direitos à vida, à saúde e à integridade física. Um problema que se manifesta como qualquer ação ou conduta do agressor, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado, sendo grande parte praticada em ambiente domiciliar. Um dos principais tipos de violência empregados ocorre dentro do lar, sendo esta praticada por pessoas próximas à sua convivência e praticada de diversas maneiras desde agressões físicas até psicológicas e verbais. Onde deveria existir uma relação de afeto e respeito, existe uma relação de violência, que muitas vezes é inviabilizada por estar atrelada a papéis que são culturalmente atribuídos para homens e mulheres. Tal situação torna difícil a denúncia e o relato, pois torna a mulher agredida, ainda mais vulnerável.
Em Santa Cruz do Sul, conforme dados da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), em 2019 foram registrados 1.468 casos de violência contra a mulher. A maioria dos casos foi pelo crime de ameaça com 472 registros, seguido pela lesão corporal com 262 registros, vias de fato com 184 casos, perturbação com 173 casos, desobediência com 135 casos e estupro com 11 casos. Também ocorreram dois feminicídios tentados e, felizmente, nenhum consumado no último ano no município. Sobre medidas protetivas foram 373 deferidas e 317 indeferidas pela justiça.
Em 2020, a DEAM já contabilizou 264 ocorrências registradas no município, 140 em janeiro e 124 em fevereiro, sendo 80 casos de ameaça, 31 casos de lesão corporal, 30 casos de vias de fato, 19 casos de perturbação, três desobediências e dois estupros.
Em entrevista coletiva concedida para a imprensa na manhã de ontem, 6, a Delegada Lisandra de Castro de Carvalho salientou que a violência doméstica ainda é um fenômeno que preocupa e está presente. Ela explicou que já existem vários mecanismos que ajudaram na criação de uma rede de proteção à mulher e que a Lei Maria da Penha trouxe as medidas protetivas que para muitos casos é eficaz, mas que para outros, ainda se torna indiferente por parte do acusado. “A cultura machista ainda é forte na nossa sociedade. Vemos famílias sendo abaladas com a violência e mulheres nos procurando diariamente buscando ajuda”, destacou.
A delegada destacou que hoje em Santa Cruz existe a Casa de Passagem para acolher temporariamente mulheres vítimas da violência, o Escritório de Defesa dos Direitos da Mulher, a Rede de Proteção, a Delegacia da Mulher e a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA), campanhas de conscientização, mas frisou que ainda enfrenta o combate aos índices de violência contra a mulher. “São aqueles registrados, mas existem casos que ficam no anonimato. Tivemos dois feminicídios tentados no ano passado e nenhum consumado, mas não temos o que comemorar com esses números, pois o autor de feminicídio não tem uma lógica e o crime pode acontecer a qualquer momento”, disse a delegada.
A titular da DEAM explica que na maioria dos casos os agressores demonstram sinais de que estão inclinados a cometer os atos de violência e reforçou a importância das mulheres denunciarem antes que algo mais grave aconteça, e para que os agressores também possam receber ajuda. “É importante que as mulheres procurem ajuda quando o primeiro sinal de ameaça, tortura psicológica ou perturbação apareça. É importante que as mulheres busquem orientação. Quem sabe nós podemos ajudar e trazer esse potencial agressor para tratamento. Temos um grupo reflexivos para homens envolvidos em situações de violência doméstica encaminhados pelo poder judiciário que recebem orientações de uma psicóloga. É uma tentativa de ajudar, porque esse agressor tem algum problema que pode ser solucionado”, salientou Lisandra.
A delegada destacou que as mulheres precisam ficar atentas e não aceitem os atos de violência como algo normal. “As mulheres podem denunciar e nos procurar para buscar orientações que vamos indicar os caminhos para que a vítima possa ter um relacionamento, uma vida saudável e tranquila”, finalizou.
Índices da violência contra a mulher
2019 (janeiro a dezembro)
1.468 casos registrados
472 ameaças
262 lesões corporais
184 vias de fato
173 perturbações
135 desobediências
11 estupros
2 feminicídios tentados
0 feminicídio consumado
2020 (janeiro e fevereiro)
264 casos registrados
80 ameaças
31 lesões corporais
30 vias de fato
19 perturbações
3 desobediências
2 estupros
0 feminicídio tentado
0 feminicídio consumado
Fonte: Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Santa Cruz do Sul














