Grasiel Grasel
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Enquanto o mundo vive uma pandemia, são muitas as profissões que não podem parar por serem essenciais para uma manutenção da economia nacional. No Brasil, em especial, devido à dependência do país do transporte rodoviário, a profissão de motorista já se mostrou imprescindível e capaz de frear totalmente o mercado nacional em caso de paralizações. Para celebrar a data que visa homenagear os colonos e motoristas, o Riovale Jornal entrevistou Jorne Daniel Kelzenberg, 44 anos, motorista da Afubra há 9 anos.
Natural de São Martinho, Jorne cresceu em uma família de motoristas, de caminhões e de ônibus, portanto, teve desde criança um grande interesse pela profissão. Chegou a trabalhar por cinco anos como professor de séries iniciais e outros nove como examinador de trânsito, mas percebeu que o seu destino não era a sala de aula ou as avaliações de novos motoristas, mas sim a estrada.
Antes de iniciar na Afubra, Kelzenberg teve diversas experiências em diferentes empresas como motorista. Em algumas, chegou a ficar cerca de quarenta dias longe da família, em carregamentos para o eixo Rio de Janeiro/São Paulo, o que é uma realidade muito comum para quem trabalha por conta própria na área. “Você tem que sair de casa e ir subindo o país, quando você vê, já está três meses fora de casa e não sabe quando e nem como vai voltar”, afirma.
Hoje, no entanto, o motorista se considera um privilegiado, pois contar com todos os benefícios como os de um colaborador da Afubra é uma raridade na profissão. Jorne é um dos 16 profissionais que transportam produtos para as filiais e Centros de Distribuição (CD) da entidade, sendo 12 locados em Santa Cruz do Sul e quatro no CD de Mafra, em Santa Catarina.
Todo motorista da Afubra recebe um roteiro semanal, que dá a informação do horário de saída do Centro de Distribuição e horário aproximado de chegada no destino, que embora não seja preciso, é bastante confiável graças à rede de apoio com a qual contam os profissionais. Muitas das 26 filiais da entidade espalhadas pelos três estados do Sul possuem um alojamento, equipados para oferecer o maior conforto e segurança possível.
Por vezes, no entanto, existe a possibilidade de que imprevistos aconteçam e o motorista não consiga chegar a um alojamento. “Hoje as estradas estão em péssimas condições em algumas rodovias, o que acaba gerando atrasos. Às vezes acontece de dar algum acidente no caminho, mas dentro do planejamento corre tudo certo”, afirma Jorne. Quando isso acontece, a orientação é que eles durmam em algum posto de combustíveis determinado pela empresa.
Todo o planejamento das viagens segue um rigoroso processo de otimização, que visa garantir que cada uma seja o mais proveitosa possível, de modo que o motorista possa realizar uma entrega e ainda voltar para o CD trazendo um carregamento com produtos da fábrica de algum fornecedor. É neste planejamento que também são definidos os locais de descanso dos profissionais, visando garantir que eles não ultrapassem o limite legal de horas seguidas viajando.
Essas viagens costumam acontecer de segunda a quarta-feira, no entanto, dependendo do roteiro, é possível que elas se estendam até a sexta-feira. Portanto, um motorista da Afubra fica por, no máximo, quatro dias em viagem. Quando ocorre a possibilidade de realizar viagens para filiais ou fornecedores do RS, os profissionais costumam ficar por até um dia na estrada, por vezes até menos.
SEGURANÇA E CONFORTO SÃO PRIORIDADE
Segundo Marco Werner, gerente de logística da Afubra, garantir o conforto e a segurança dos motoristas faz parte dos valores e princípios da entidade, que prioriza o bem estar de todos os seus colaboradores. Atualmente boa parte de todo o sistema de distribuição em que eles atuam é mecanizado, com equipamentos que permitem maior eficiência e preservam a integridade dos trabalhadores.
Para entregar mais e melhores condições aos profissionais, nos últimos anos a Afubra vem atualizando sua frota para modelos com o máximo de conforto e segurança possíveis, contando com câmbio automático, bancos ergonômicos repletos de ajustes para corrigir a postura do motorista e sistemas de rastreamento de carga avançados.
Tamanha dedicação aos motoristas, no entanto, não é uma realidade para a esmagadora maioria dos trabalhadores. Segundo Jorne, para os que precisam frequentemente parar em um posto, é necessário abastecer ou pagar, caso contrário, é bastante possível que o veículo amanheça com um farol ou outras partes roubadas. Pode acontecer, ainda, a fatalidade do profissional ser assaltado ou ter o caminhão roubado. Melhorar a segurança, portanto, é um dos maiores desafios do país.
CUIDADO DOBRADO NA QUARENTENA
Desde março a Afubra vem adotando medidas para preservar a saúde dos colaboradores envolvidos nos processos de distribuição de produtos. Com a quarentena, motoristas não estão mais ajudando na carga e descarga dos baús e uma série de equipamentos de proteção individual (EPIs) também foram distribuídos entre eles, como máscaras do tipo “face shield”, álcool gel e líquido 70% e luvas. Da mesma forma, nos alojamentos o número de pessoas é reduzido e regras de distanciamento e higiene são mais rigorosas.
Jorne conta que durante a pandemia chegou a se deparar com as entradas da cidade de Francisco Beltrão, no Paraná, completamente bloqueadas por decisão da Prefeitura. “A minha sorte é que nossa loja nessa cidade fica na marginal da rodovia, com isso, consegui manobrar e descarregar ali mesmo”, relata. Da mesma forma, se deparou com regras diferentes em cada Estado, como nos restaurantes de self-service sendo servidos por funcionários.
O motorista afirma que a situação agrava a realidade do profissional da área no Brasil, que já costuma atuar com condições de trabalho limitadas. “O motorista brasileiro, sem uma estrutura como a da Afubra, sempre sabe o horário da saída, mas nunca sabe o da chegada”, lamenta.
Perguntado se gostaria de deixar uma mensagem aos colegas de profissão, Jorne relembra uma entrevista que viu recentemente, em que outro motorista diz que o caminhoneiro é a “orquestra do filme Titanic”. “Enquanto o país afunda em uma pandemia, o motorista de caminhão é aquela orquestra, que não parou de tocar e afundou com os tripulantes”, diz, afirmando ter orgulho da importância que a sua função tem para o país, pois, sem ela, a situação estaria muito pior do que a da própria pandemia.














