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Templo Religioso completa 34 anos

Babalorixá Pai Antônio de Ogum: “Ver o templo chegar onde chegou é motivo de orgulho”

“Não imaginava ver o templo chegar aos 34 anos, aliás, não imaginava ter um local de religiosidade e que fosse tão reconhecido pela sociedade”. Assim começamos a falar da trajetória do Templo de Umbanda Pai Ogum Beira-Mar e Mãe Oxum, fundado em 21 de julho. Nas palavras do diretor espiritual, babalorixá Pai Antônio de Ogum, o Riovale Jornal mostra a caminhada até chegar aos dias atuais e ser uma referência em Santa Cruz do Sul.

A trajetória do templo se mescla com a de seu idealizador, pois foi aos 12 anos que tudo iniciou. “Eu ouvia muitas vozes e vultos. Fiz exames e nada constou e foi assim que me encaminharam para uma rezadeira. Fui até uma casa religiosa na qual fui convidado para fazer parte e ajudar as pessoas mais necessitadas. Fiquei pensando como iria acontecer porque passávamos por grandes dificuldades e me foi dito que eu cresceria e iria, sim, ajudar o próximo. Aos 17 anos retornei, assumi minha religiosidade e fiz a consagração, na cidade de Viamão. O templo iniciou dois anos após. Não pensava em ser um sacerdote de Umbanda. Peregrinei e agradeço por ser umbandista, poder ajudar os outros. Seja o que for na vida, em primeiro lugar a pessoa é um ser humano. Que possam ter uma dignidade, ter o que comer, o que beber e onde morar com uma proteção, seja ela na forma divina ou por nós, sacerdotes”.

O babalorixá, em suas falas, se emocionou por inúmeras vezes contando as histórias que marcaram os passos do templo, inclusive a primeira, que foi quando ajudou uma senhora que passava fome e dividiu o que tinha em casa para saciá-la. “Chorei muito. Já estava casado com minha esposa Lourdes de Souza, que auxilia na caminhada do Templo. Dividimos tudo o que tínhamos de alimentos e a partir de então meu crescimento espiritual fez com que eu pudesse ajudar mais pessoas. Passei por muitas dificuldades. Aos seis anos lembro que ao caminhar, um vento trouxe até a mim uma imagem de Santo, Santa Catarina. Nesse momento fiz uma promessa que Deus fizesse com que eu crescesse e pudesse ajudar as pessoas. Queria ajudar as pessoas sem olhar a quem, sem distinção e religião. Fazer o bem! Foi a partir desse momento que percebi que meu pedido havia sido atendido. Deus me deu crescimento, riqueza espiritual e me tornou o sacerdote que hoje sou”.


Através do Templo, muitas ações humanitárias foram realizadas, entre elas a ajuda em construir cinco casas para famílias necessitadas em Santa Cruz. “Fazer parte da religião requer muita dedicação. Passamos por vários momentos marcantes. Existe a parte de entendimento na religião, muitas vezes as pessoas têm rótulos quando encontram uma comida de santo que são as oferendas. Muitas vezes é para fazer o bem para abrir os caminhos. Ainda existe muito preconceito. Trabalho para o bem das pessoas. Não conseguimos contentar todos mas, procuramos ajudar todos de forma igual”.

A religião do Templo de Umbanda Pai Ogum Beira-Mar e Mãe Oxum traz como lema “Fazer o bem sem olhar a quem”. O que importa é não julgar os outros, sem questionar o porquê. “Nosso objetivo é doar, partilhar o que temos. No início do Templo aconteceu algo que marcou para sempre a caminhada. Minha casa era pequena e realizamos a primeira campanha de brinquedos, ganhamos mais de 4,8 mil doações. Montamos uma tenda e colocamos tudo ali. Lembro que foi uma noite de alegria e também de tristeza porque no mesmo dia perdi uma gatinha de estimação que me seguia sempre, a Missi. Parecia que ela foi e veio nesse primeiro momento para me tirar da tristeza”.


Para a realização das ações sociais, várias empresas apoiam as iniciativas, inclusive o templo recebeu uma Kombi em 2008, doada pela Philip Morris, para o transporte dos almoços que eram levados às famílias carentes. “Nossos primeiros amigos, que nos estenderam a mão, foram a Brigada Militar, os Bombeiros e o Exército. Atualmente, toda a comunidade santa-cruzense nos apoia. Recebemos mais de 60 mil peças de roupas e 4,5 toneladas de alimentos, dos quais montamos 510 cestas que foram distribuídas para os bairros. Já repassamos 38 mil peças de roupas, 200 cobertores, além de acolchoados e roupas de cama. No dia 17 de julho, sábado, entregamos 110 cestas para as famílias e as demais foram distribuídas anteriormente. Temos a parceria da Prefeitura Municipal e recebemos apoio do Sicredi. Além de nossa cidade, já levamos auxílio para Candelária, Vera Cruz, Rio Pardo, Canoas e o Litoral de Tramandaí e Cidreira. Onde há vulnerabilidade, lá estaremos para ajudar. Também mantemos o Projeto de Capoeira que retornará assim que passar a pandemia.”


Ao longo dos 34 anos, muitas alegrias levamos aos bairros de Santa Cruz. “Ver o Templo chegar onde chegou é motivo de orgulho. Me sinto realizado ao ver uma pessoa sorrir, este é o agradecimento que preciso. Este é reconhecimento que precisamos. Sou uma pessoa verdadeiramente realizada. O templo representa minha vida. Que venha mais 34 anos. Minha família cresceu, tenho meus filhos de sangue e mais os filhos de religião. Me orgulho de toda esta trajetória. A fé a coragem juntas vencem obstáculos. Hoje sou o Pai Antônio, reconhecido em diversos cantos do meu Brasil”.

FESTAS RELIGIOSAS

Não podemos encerrar a entrevista sem falar das festas religiosas realizadas pelo Templo de Umbanda, entre elas a de Pai Oxóssi (São Sebastião) em janeiro; Mãe Yemanjá, a Rainha do Mar, em fevereiro; Pai Ogum (São Jorge) em abril; Pretos Velhos, em maio; Povo Cigano e a fogueira de São João, em junho; Mãe Nanã (Nossa Senhora Sant’Ana) em julho; Exú Tiriri, em agosto; Cosme Doum e Damião (pelas crianças) e homenagem a Pai Xangô (São Miguel Arcanjo e São Jerônimo) em setembro; Mãe Oxum (Nossa Senhora Aparecida) em outubro; Povo de Exu, em novembro; Mães Oxum (Nossa Senhora da Conceição) e Iansã (Santa Bárbara), em dezembro, e o calendário de festividades encerra com a Festa de Pai Oxalá (Jesus Cristo), em 25 de dezembro.As festas estão suspensas devido à pandemia, mas retornam assim que tudo voltar ao normal.

“As festas servem para pedir proteção e também parar com o preconceito, pois precisamos de menos preconceito e mais ação. Mais respeito uns com os outros. Hoje agradeço por tudo que tenho e conquistei. Graças a Deus tenho o que preciso e consigo também levar ajuda a quem precisa. Obrigado, Pai! Pedi para crescer e assim foi, cresci para ajudar o outro a crescer! Dou valor a cada dia que passa na vida, porque tudo tem sentido. Deus não julga e não critica, Ele agrega! Ser religioso é isso, agregar e não só vestir uma roupa branca e dizer que está fazendo o bem. A religião tem que ser feita de raiz e de coração”.

Ana Souza

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