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Violência psicológica: o que você precisa saber?

Engana-se quem pensa que a violência contra a mulher se baseia apenas na agressão física e no feminicídio. A violência psicológica, na verdade, é uma das mais comuns por ser o início de um processo que coloca em risco a vida feminina em um relacionamento. Segundo o Instituto Maria da Penha, ela faz parte da segunda fase do chamado “Ciclo da Violência”, que em boa parte dos casos acaba por tomar a vida da companheira. Portanto, é importante saber como identificar quando você está sendo uma vítima desse perigo “invisível”.
Ana Paula Angelin é psicoterapeuta individual, especialista e mestre em Psicologia. Formada há 12 anos, ela atua em Santa Cruz do Sul e atende mulheres que passam por violência psicológica. “Em qualquer relacionamento é preciso reservar espaço para a individualidade e a privacidade, para encontrar outras pessoas queridas e fazer coisas de que se gosta”, explica ela, indicando um caminho saudável para evitar o perigo.
A violência psicológica pode ser bastante comum, mas não é tão fácil de identificar. Ela consiste em ações que têm o objetivo de diminuir o outro, causar danos emocionais e minar a autoestima. É geralmente disfarçada de ciúmes e insegurança, mas é na verdade manipulação e abuso. É caracterizada por controle, ofensas, humilhações, ridicularizar em público, restringir o direito de ir e vir, afastar o parceiro ou parceira de suas relações sociais e vínculos. Ou seja, tudo aquilo que compromete o pleno desenvolvimento do indivíduo, que acaba por duvidar de si mesmo e acreditar que aquela relação é a única possível. No entanto, ela não acontece exclusivamente com mulheres, mas também homens, entre pais e filhos, bem como em relacionamentos hetero e homossexuais.
A psicóloga explica que, para identificar esse tipo de violência, é importante verificar como era a vida da pessoa antes do relacionamento e como é agora. “Você se afastou de amigos e familiares para não desagradar outra pessoa? Você deixou de investir na sua carreira porque isso deixa o outro inseguro? Você mudou demais seu comportamento? Se sim, tome cuidado, quando uma relação começa com o imperativo de que você ou o outro precisa mudar para manter a relação é porque a sua individualidade ou a do outro não está sendo respeitada”, diz.
Caso seja difícil identificar a violência psicológica e a pessoa acabe não buscando por ajuda, as consequências são uma diminuição significativa da autoestima, percepção distorcida ou diminuída de suas capacidades e transtorno depressivo. Outra possibilidade real é que haja escalada da violência que chega à violência física, patrimonial ou até mesmo o feminicídio, com risco de suicídio em casos mais graves.
Para superar os traumas é importante buscar o apoio de pessoas que são importantes como amigos e familiares, além de atividades que lhe fazem sentir-se bem, seja no trabalho ou fora dele. Apostar em um projeto de vida próprio, que independe de outra pessoa é necessário e, na maioria das vezes, é necessário a busca de auxílio profissional psicológico e psiquiátrico. Existem tanto os consultórios particulares como também a rede pública com os serviços de saúde mental, os CAPS’s. Em especial, a psicoterapia individual, na qual Ana Paula é especializada, auxilia na busca de uma nova forma de se relacionar com os outros e consigo mesma.
A mulher que sofre violência psicológica pode ligar para a Central de Atendimento à Mulher (número 180), também tem o direito de ser atendida em qualquer delegacia, mas deve buscar preferencialmente a Delegacia da Mulher. Em caso de ameaças, é importante buscar ajuda na polícia o mais rápido possível.