Início Especiais A importância do trabalhador da indústria

A importância do trabalhador da indústria

Grasiel Grasel
[email protected]

Gualter completou seu primeiro ano à frente da Fentifumo neste mês de julho – Nascimento MKT

Na cadeia produtiva do tabaco, um dos profissionais que é tão importante quanto o colono e o motorista é outro que também possui um contato muito próximo com o fumo: o trabalhador da indústria. Para defender seus interesses, existem os sindicatos laborais e, acima deles, a Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Fumo e Afins (Fentifumo).

Para entender mais sobre a importância da Fentifumo, o Riovale Jornal entrevistou o seu presidente, Gualter Baptista Júnior, que em julho deste ano completou seu primeiro ano representando a entidade. A Fentifumo é uma federação composta por sete sindicatos das indústrias do tabaco e alimentação, sendo dois no Rio Grande do Sul, três em Santa Catarina, um no Paraná e um em Minas Gerais.

Natural do Rio de Janeiro, conheceu a área quando começou a trabalhar na unidade carioca da Souza Cruz. Em 1999, a convite da empresa, mudou-se para Santa Cruz do Sul, onde se tornou responsável pela área de suprimentos agrícolas dos três Estados do sul do país. Em 2014, entrou na área sindical, onde veio a assumir alguns postos de direção, que o levaram, em 2019, à presidência da Fentifumo.

Nos anos em que fez parte da diretoria da entidade, participou de diversas conquistas não só dos trabalhadores da indústria, mas da cadeia produtiva como um todo. Em 2018, como vice-presidente, esteve em Genebra, na Suíça, acompanhando a 8ª Conferência das Partes (COP 8) da Convenção Quadro para Controle do Tabaco. Mais tarde participou das negociações que levaram a Fentifumo a conseguir um assento na Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco, em Brasília, onde acontecem os principais debates sobre as regulações do setor.

Durante o primeiro ano de sua gestão, o presidente da entidade ficou conhecido por estar sempre atuando pela conscientização dos problemas do contrabando de cigarros e a necessidade de se conhecer mais sobre o setor produtivo do tabaco.

Riovale Jornal: Embora não seja o que é considerado um “colono”, o trabalhador das indústrias de fumo faz parte de uma cadeia produtiva em que um setor depende do outro. Como você vê a importância desse trabalhador da indústria neste processo todo?

Gualter Baptista Júnior: Quando a gente fala da produção de tabaco a gente tem a visão apenas do produtor, mas ele faz parte de um mecanismo muito grande, composta desde o fornecedor de insumos para quem planta. A figura do trabalhador da indústria também faz essa roda girar, dessa vez mais próxima do processo de exportação e comercialização.

O setor é importante pela quantidade de mão de obra que absorve em locais onde poderiam não haver outras oportunidades, portanto, ele é fundamental para os pequenos municípios onde essas empresas globais estão instaladas.

RJ: A Fentifumo tem atuado em parceria com outras entidades e políticos em Brasília para barrar novas restrições ao cigarro. Como que novos bloqueios podem acabar impactando o trabalhador da indústria?

Gualter: A federação possui um papel extremamente estratégico no que tange a parte política. No dia a dia, ele pode contar com o suporte do seu sindicato, portanto, a Fentifumo tem justamente essa missão de sensibilizar as autoridades municipais, estaduais e federais quanto às legislações necessárias para a categoria.

O nosso setor é altamente regulado e controverso, mas que movimenta uma quantidade de dinheiro muito grande. Com isso, sempre há essa busca de alguns pelo aumento de tributos e restrições, o que acaba penalizando a empresa legalizada, abrindo espaço para o contrabando e a sonegação. Com o contrabando invadindo o país, a gente passa a ter perda de postos de trabalho.

Com isso, é uma ilusão dizer que o número de fumantes está diminuindo no Brasil. Isso é só mercado formal, porque você só consegue medir a indústria legalizada, ninguém chega na milícia do Rio de Janeiro para perguntar quanto cigarro ilegal está sendo vendido. No fim das contas, quem é penalizado são as indústrias e quem paga o preço é o trabalhador que perde seu posto de trabalho.

É por isso que a Fentifumo atua tão fortemente em Brasília, dialogando com parlamentares com o apoio das bancadas gaúchas. Esse papel é importantíssimo, porque defender o setor é defender o trabalhador.

RJ: Como tem sido a vida do trabalhador da indústria do fumo neste período de pandemia? Como a Fentifumo tem atuado para garantir sua segurança enquanto garante sua fonte de renda?

Gualter: Neste ano, além do clima ter afetado a qualidade da produção de tabaco dessa safra, veio também a pandemia da Covid-19 e as restrições da quarentena em março. Com isso, um número menor de pessoas foi chamado para atuar nas indústrias durante a safra, por causa da limitação do total de trabalhadores atuando ao mesmo tempo.

Com isso, a Fentifumo buscou formas de minimizar o quanto o trabalhador seria afetado por isso. Quando se falou do aproveitamento do banco de horas, antecipação de férias e outras questões de remuneração, os sindicatos da federação entraram em cena para garantir que mesmo as pessoas que tiveram que ficar em casa, por serem do grupo de risco ou não entrarem na cota máxima de trabalhadores permitidos, pudessem ser remunerados e, ao máximo, fazer uma compensação no futuro, pois a empresa não pode ser a única penalizada.

RJ: Segundo dados da Fentifumo, atualmente cerca de 100 mil pessoas são beneficiadas dos 40 mil postos de trabalho que a indústria do fumo possui. O quão importante é continuar garantindo melhores condições de trabalho para essas pessoas?

Gualter: Imagine se esse contingente, que faz parte de uma grande cadeia de produção do tabaco, simplesmente deixasse de existir. É por isso que a gente preza tanto por um ambiente seguro de trabalho, de tal maneira que até agora não tivemos nenhum tipo de problema nas indústrias. As empresas estão seguindo à risca todas as recomendações, o que tem ajudado muito.

Independente de continuar havendo ou não uma pandemia, a Fentifumo vai continuar buscando a continuidade desse ambiente seguro para os trabalhadores e um ambiente controlado pelas melhores condições possíveis, o que permite ao colaborador se sentir motivado a continuar dando seu melhor no setor do tabaco, o defendendo.

RJ: Recentemente tem evoluído muito o debate internacionalmente sobre os produtos de tabaco aquecido, que visam substituir o cigarro convencional. Como você acredita que este tipo de produto pode impactar os trabalhadores da indústria?

Gualter: Um produto não acaba de uma hora para outra ou em um curto espaço de tempo, isso que não vai ser diferente com o cigarro. O que nós estamos buscando é que a Anvisa autorize a comercialização desse produto no Brasil, o que vai iniciar um novo ciclo.

É possível que caia um pouco mais a produção de tabaco com isso, mas ao mesmo tempo deverão surgir novas oportunidades em empresas dessa tecnologia. Serão novos mercados para novos trabalhadores, então você pode perder de um lado, mas uma nova porta será aberta também.

O nosso grande papel é não deixar que a informalidade, a ilegalidade e o contrabando tomem o lugar do tabaco convencional ou do tabaco aquecido. Isso é muito mais prejudicial, porque tira a oportunidade de empresas legalmente constituídas, que geram impostos e empregos, continuarem a absorver mão de obra.

RJ: Gostaria de deixar alguma mensagem diretamente para o produtor de tabaco e aos motoristas que transportam este produto no Dia do Colono e Motorista?

Gualter: Embora em algumas safras, como foi o caso dessa, o resultado possa não ser o melhor em qualidade ou em preço recebido, é importante que o produtor não desista. A produção do tabaco depende disso, de acreditar no negócio e dar continuidade a ele.

Também temos a figura do motorista, que é um grande agente neste processo todo, que muitas vezes as pessoas não lembram. É ele quem movimenta o setor, levando não só o tabaco, mas como os insumos necessários, os produtos e outros componentes fundamentais da cadeia produtiva. É nessa parceria entre colonos, motoristas e todo o restante da cadeia que as coisas acontecem.