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A prefeita que vai cuidar dos santa-cruzenses

Helena Hermany destaca governo com diálogo e trabalho

Tiago Mairo Garcia
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Chegou a vez dela. Pela segunda vez na história política, o Município de Santa Cruz do Sul será governado por uma prefeita eleita nas urnas. Vencedora das eleições do último domingo, 15, com 32,45% dos votos, Helena Hermany voltará a ocupar a cadeira de prefeita de Santa Cruz do Sul, cargo que ela ocupou por oito meses em 2008, após a renúncia de José Alberto Wenzel, se consagrando, de forma indireta, como a primeira mulher a comandar o Palacinho.

Com alegria e confiança, Helena Hermany celebra eleição como prefeita de Santa Cruz do Sul. Foto: Rols Steinhaus


Aos 72 anos, a nova chefe do Executivo santa-cruzense possui uma carreira de sucesso na vida pessoal e política. Nascida em 3 de janeiro de 1948, Helena é a filha mais velha do marceneiro Ivo Affonso Melchiors e da dona de casa Carlinda Melchiors (IM). Aos 19, junto com o irmão João Carlos, foi aprovada no concurso do Banco do Brasil, onde trabalhou como bancária por 25 anos. É casada com o ex-prefeito e vereador Edmar Guilherme Hermany e mãe de três filhos: Ricardo, Guilherme e Henrique, com o caçula sendo eleito vereador como o segundo mais votado do Município neste ano.


Formada em Ciências Contábeis e pós-graduada em Políticas Públicas Sociais, Helena estreou na política em 1988, participando da campanha do marido como vereador e de Arno Frantz, tio de Edmar, como prefeito, com ambos se elegendo naquele pleito. Em 1993, Helena assumiu como primeira-dama na gestão do prefeito Edmar Hermany, possuindo amplo destaque a partir de seu trabalho na área social. Em 2000, ela foi a vereadora mais votada da história de Santa Cruz, com 3,6 mil votos, sendo até hoje a única que conquistou votos sozinha, sem os votos da legenda. Foi eleita três vezes como vice-prefeita, auxiliando a eleger os prefeitos José Alberto Wenzel (2004) e Telmo Kirst (2012 e 2016). Concorreu pela primeira vez como prefeita em 2008, mas não foi eleita.


Em entrevista concedida ao Riovale Jornal na manhã da última terça, 17, Helena falou sobre a campanha, comentou sobre o resultado da pesquisa divulgada pelo Riovale, a apreensão da apuração e principalmente, sobre o futuro governo sob o seu comando, que terá início a partir de 1º de janeiro de 2021.

Riovale Jornal – Em razão da pandemia de coronavírus, a campanha eleitoral foi diferente de outras eleições. Como a senhora avalia a caminhada realizada na busca pelo voto?


Helena Hermany – Foi uma campanha maravilhosa, leve, propositiva. Todos se envolveram de maneira espontânea, voluntária, tudo funcionou muito bem. Já participei de muitas campanhas, mas como essa, eu nunca tinha participado, onde houve muito envolvimento, alegria. Tivemos um ambiente bom, um ajudando o outro. No sábado fomos fazer uma fotografia da equipe e o pessoal dizia, pena que terminou. No começo, se dizia que o vencedor sairia das redes sociais e no final acabou sendo uma campanha olho no olho. Passamos pelas ruas, cumprimentávamos as pessoas e sentíamos o olhar receptivo. Isso fez muita diferença porque eu sentia a empolgação e a vontade das pessoas em demonstrar o seu apoio pela nossa campanha, sendo bastante positivo.

RJ – Qual a sua avaliação sobre a pesquisa publicada no Riovale Jornal e encomendada ao Instituto Amostra, onde os dados colhidos nos dias 13 e 14 de outubro já apontavam a sua ampla vantagem, com números muito próximos do resultado final?


Helena – Foi uma atitude muito positiva do Riovale em ter encomendado e divulgado essa pesquisa que realmente chegou próximo da realidade. Era isso que a gente sentia na rua, de que muitas pessoas estavam conosco. O índice só não foi maior devido ao elevado número de concorrentes, onde os votos se diluíram entre sete candidatos, e cada um fez a sua votação, e também com o grande número de pessoas que não foram votar com medo da pandemia. Teve diversos fatores que fizeram com que o índice não fosse tão alto.

RJ – A senhora acompanhou a apuração dos votos na sua casa, ao lado de sua família. Devido ao atraso na divulgação dos resultados, chegou a temer em algum momento de que a vitória não aconteceria?


Helena – Eleição é sempre eleição. Eu já participei de muitas e sempre fica aquela pergunta. Será que vai dar certo? O que a gente sentia na rua era o clima positivo, clima bom. Eu me perguntava, será que isso tudo vai reverter em votos e vai dar certo? Sempre fica aquela expectativa e com a graça de Deus, o sentimento das ruas se manifestou nas urnas.

RJ – Como pretende formar a sua equipe de governo? Já se tem nomes definidos?


Helena – Nosso foco principal foi ganhar a eleição. Eu e Elstor estávamos focados em fazer a votação. O Elstor trabalhou muito no interior, onde fizemos uma expressiva votação. Pela primeira vez usamos um carro de som no interior durante a campanha, que contribuiu para que levássemos as nossas ideias. Somente na próxima semana vamos sentar com a equipe e começar a pensar. Quem for assumir cargo precisa ter empatia com o povo. Fizemos toda a campanha com diálogo e escutando a comunidade. Ouvi muito as pessoas dizendo que além do prefeito não receber, nem os secretários não recebiam as comunidades e isso não vai acontecer. Quem for secretário será uma pessoa que tenha empatia, competente e ficha limpa, que tenha afinidade com a pasta e com muita vontade de trabalhar. Nosso governo será de diálogo, aberto, sincero e de muito trabalho.

RJ – Como espera que ocorra o processo de transição de governo?


Helena – Espero que seja uma transição respeitosa. Santa Cruz é um Município de destaque no cenário regional e estadual e acredito que seja feita uma transição condizente, à altura de nossa cidade. Da minha parte, podem ter certeza que será assim.

RJ – Atualmente, ainda estamos vivendo uma pandemia que causa problemas. Como se projeta o início de governo com este problema de saúde pública em andamento?


Helena – A pandemia é uma situação que nos aflige muito em todos os sentidos. Na saúde, no social e no desenvolvimento econômico. É preciso ter um olhar para todas as áreas. Em Santa Cruz do Sul, são 24 mil pessoas que recebem auxílio emergencial e vão receber até dezembro. Tem muitas empresas que fecharam e tem pequenos empresários que precisam de ajuda para recomeçar. Temos um desafio muito grande em todas as áreas a partir do dia 1º de janeiro.

RJ – Na campanha foram apresentadas propostas e ideias em várias áreas. A partir de 1º de janeiro, quais serão as suas primeiras prioridades?


Helena – O meu primeiro ato no dia 4 de janeiro, que será o primeiro dia útil, é visitar todas as secretarias e motivar todos os nossos funcionários públicos para que eles realmente se engajem em nosso projeto de Município que temos. Entendemos que as coisas funcionam quando o funcionário está motivado, ele faz além da sua obrigação e isso nós queremos passar, a importância que eles têm, pedir o envolvimento deles em nossa gestão.


RJ – Na sua trajetória política, a senhora teve atuação destacada na área social. Agora, como prefeita, quais projetos pretende desenvolver para auxiliar a população?


Helena – Tenho muitos projetos sociais que foram extintos ou diminuídos. Queremos retomar uma área social com atuação fortalecida, retomar os projetos existentes e, principalmente, fortalecer a área econômica, que está diretamente ligada com o social. Quando o econômico vai bem e tem oportunidades de trabalho, onde as pessoas têm onde buscarem o seu sustento, isso gera qualidade de vida, sendo importante para a autoestima delas e das famílias. Vamos trabalhar muito nesta área e também vamos intensificar a qualificação das pessoas onde tem mercado de trabalho. Vamos retomar a ideia de uma renda mensal das empresas e dentro desta possibilidade de mercado, fazer as qualificações para que as pessoas saiam com diploma e inseridas no mercado de trabalho. Essa ação será uma prioridade para que as pessoas tenham o sonho de progredir na vida. Temos parcerias com Senai, Senac e vamos fazer este trabalho em parceria. Além disso, muitos empresários e pessoas da comunidade se colocaram à disposição para fazer um trabalho em prol do desenvolvimento de Santa Cruz, sem viés político. Vamos criar o conselho de voluntários que irá realizar toda essa articulação e que vai estar auxiliando a administração municipal, atuando diretamente, de maneira voluntária, sendo uma iniciativa importante e que vem para agregar e nos ajudar a fazer um Município cada vez melhor.

RJ – A falta de água tem sido constante em Santa Cruz. A senhora pretende reavaliar o contrato com a Corsan?


Helena – Esse contrato foi muito bem feito. Ele está assim porque em 2008 eu o denunciei e aí se pôde fazer um novo contrato com cláusulas. Hoje, o que está faltando é a fiscalização do contrato. Na época em que o Henrique Hermany era secretário, ele tinha uma reunião mensal com a direção da Corsan e a imprensa tinha um “promessômetro”, que media para saber se as promessas eram ou não eram cumpridas e as coisas funcionavam. Depois, não houve mais fiscalização e cobrança. Vamos ter uma equipe que vai fiscalizar, cobrar e se não houver resultado positivo, não me custa ir denunciar novamente o contrato. As coisas precisam funcionar. O contrato é bom, mas ele precisa ser cumprido.

RJ – Sobre a Lei dos Vales, que foi revogada pelo atual governo. Há pretensão de reavaliar esta situação e repor o benefício para os servidores públicos?


Helena – Exatamente. Esta situação vai ser reavaliada. Houve excessos e isso precisa ser repensado e reavaliado. Tem coisas que não se concebem, como por exemplo, um funcionário que sofre um acidente perder o vale. Hoje, perder o vale faz uma grande diferença na renda das famílias. Isso será revisto e refeito novamente. Vamos fazer a reanálise e o que for possível juridicamente, nós vamos mudar.

RJ – Sobre obras realizadas pelo atual governo que ainda não foram finalizadas. A senhora irá dar seguimento a estes investimentos?


Helena – Todas as obras iniciadas não vieram de recursos do prefeito e sim de verbas. O que foi iniciado precisa ser concluído.

RJ – E as piscinas do Bom Jesus?


Helena – Vamos fazer uma discussão com a comunidade para definir como isso vai ser administrado. Construir e fazer uma obra é o mais fácil, o que temos que pensar é como essa obra vai caminhar, pois as piscinas são um problema muito grande. O ginásio do Bom Jesus nós remodelamos e queríamos colocar nas mãos da Associação de Moradores, mas eles não quiseram assumir o ginásio. Sobre as piscinas, vamos conversar com a comunidade para ver quem vai administrar e se responsabilizar e como vai ser. Se não houver o consenso, vamos tomar outra decisão. Tudo o que fizermos, as decisões mais polêmicas serão feitas em conjunto, bem debatidas e avaliadas. É um problema que vamos herdar e teremos que achar uma solução. Quem tem uma piscina em casa sabe muito bem o custo de manutenção. E por que não se manteve a piscina existente no prédio da Secretaria Municipal de Educação, que está em um local fechado? Se era para realizar um projeto com idosos e crianças, por que não se utilizou aquela piscina que estava fechada e mais resguardada, que poderia ter sido melhor aproveitada? Se fez piscinas em um local aberto e difícil de ser controlado, em um espaço com uma densidade populacional muito grande. É um problema que precisa ser muito bem avaliado e que precisará ser resolvido. Agora, dizer que piscina é fazer justiça social, eu sou pós-graduada em políticas públicas sociais e sei muito bem o que é e o que não é uma política pública social. As pessoas merecem ter as piscinas, mas isso precisa ser bem estudado para ter continuidade.

RJ – No seu plano de governo, o vice-prefeito será o coordenador das subprefeituras. Serão criadas duas subprefeituras, em São Martinho e Linha Saraiva. Como se planeja desenvolver estas iniciativas?


Helena – Com certeza será uma das primeiras atitudes. Quando eu fui vice no governo Wenzel, as subprefeituras estavam na agricultura e agora estão nas obras. O subprefeito é a pessoa que representa o governo e precisa ter mais poder e autonomia, pois eles têm uma série de assuntos que eles precisam decidir em prol da comunidade onde atuam. Eles precisam ter poder e estrutura. Não adianta ter o subprefeito e não dar condições. Tudo isso precisa ser avaliado. O subprefeito, na ordem hierárquica, é superior aos secretários. O vice-prefeito tem gerência sobre todas as secretarias e subprefeituras e isso eu vou fazer funcionar. O Elstor vai poder fazer com que o subprefeito chegue em todas as secretarias através dele e por isso ele será o responsável por todas as subprefeituras, para dar um maior poder de atuação e de decisão. Acredito que desta forma, as subprefeituras terão um maior poder de gerência em todas as áreas e resolverão as demandas da localidade, sendo um trabalho diferenciado para atender ao interior.

RJ – No interior, ainda existem algumas localidades que não possuem redes hídricas e que sofreram com a falta de água em razão da seca registrada recentemente. Como pretende solucionar essa situação?


Helena – Sim, é uma questão muito importante. Existem recursos para realizar as redes hídricas. É só ter vontade de fazer e vamos fazer, sim. Não é só colocando o caminhão-pipa e sim fazendo redes hídricas, furando poços artesianos para que as pessoas tenham condições. Não é possível nos dias de hoje as pessoas ainda não terem água e não poderem ligar os seus eletrodomésticos na luz em uma fase. Precisamos dar condições para o interior para que as pessoas tenham dignidade. Vamos incentivar a instalação da internet com fibra óptica no interior através de parcerias público-privadas e levar ao interior todas as disponibilidades que existem na cidade. Queremos incentivar os jovens para ficar no interior, administrando a sua propriedade com os pais e trazendo novidades através da tecnologia. Faz parte do nosso plano de governo e vamos colocar em prática.

RJ – Sobre esporte, cultura e turismo, o que a senhora pensa em realizar nestas áreas?


Helena – O esporte é uma ferramenta social muito importante. É preciso levar os jovens para o esporte, dar essa motivação e retirá-los das ruas, das drogas, sendo um trabalho preventivo muito mais eficiente, eficaz e barato. Vamos investir muito nesta área e apoiar os clubes, o esporte no interior. Quando o Henrique foi secretário de esporte, ele fez um trabalho forte, que será retomado, e vamos implementar novas ideias para motivar e estimular o jovem a ficar no interior, porque ele terá opções na sua localidade. Sobre a cultura, pretendemos levar a cultura para os bairros e interior, vamos apoiar todas as manifestações culturais existentes, temos que olhar a cultura como ferramenta de integração entre todos, de fomentar a cultura de rua para que o povo também participe e apoiar os profissionais que atuam nas áreas culturais, que precisam de motivação e incentivo. Sobre o turismo, Santa Cruz é uma cidade bonita, bem localizada e precisamos dar mais impulso para que as coisas aconteçam, incentivar o turismo ecológico, rural, temos paisagens lindas, cervejarias, gastronomia e temos todas as condições de ter rotas turísticas com qualificação das pessoas para que elas entendam o que é fazer um roteiro turístico. Existe a parceria Santa Cruz/Sinimbu, mas acontece um evento por ano. É preciso haver mais integração. Também temos a Bierhaus fechada que poderia ser um restaurante típico. Tem muitas coisas que podem ser exploradas. Precisamos aproveitar a cidade que nós temos para explorar este lado turístico.

RJ – A partir de 1º de janeiro, o que os santa-cruzenses podem esperar da prefeita Helena Hermany?


Helena – Os santa-cruzenses podem esperar uma prefeita que vai cuidar da gente, das pessoas. Não vão ver uma prefeita que vai realizar grandes obras para aparecer na mídia e, sim, que vai se preocupar com o dia a dia das pessoas e fazer ações que impactam na vida de cada cidadão, fazendo com que eles tenham oportunidades para viver com dignidade e se sentirem felizes e com qualidade de vida para viver aqui.